Marcadores


domingo, 13 de março de 2011

Andréa, Gustavo e Eu

Andréa Beltrão é rica. Eu não.
Andréa Beltrão mora no Rio de Janeiro. Eu não.
Andréa Beltrão tem chance de oferecer de tudo para os filhos dela. Eu não.

Mas nós duas temos filhos estudando em escolas públicas.
Por opção!

A eterna Zelda Scott tem 3 filhos e todos estudaram desde sempre numa escola pública do Rio de Janeiro. Não porque ela não pode pagar por uma escola particular, mas Andréa acredita que o colégio Dom Pedro II, onde ela própria estudou a vida toda e onde sua mãe foi professora, é um bom colégio.
Ponto final. Fim da história.
Seus filhos vão de ônibus para a escola, estudam com crianças heterogêneas e estão muito bem, obrigado.

Meus filhos moram numa cidade que até tem uma única escola particular bonitinha, fofa, que segue o método Positivo de ensino, mas que não faz parte da realidade da minúscula cidade em que vivemos. Aqui todas as crianças estudam na mesma sala de aula: o filha do médico, o filho da caixa do supermercado, a filha da catadora de café, o filho da psicóloga, o filho do meu pedreiro... e eu acho isso lindo.

Mas é claro que não ia arriscar o futuro de meus filhos com uma utopia educacional.

Fui investigar antes, óbvio, e descobri que escola pública é boa.
As professoras são umas fofas e as crianças gostam bastante de lá.
Prá que mais?
E eles voltam andando da escola como muitas crianças da idade deles. O mais velho, de 6 anos, sai da escola dele, vai até a escola do irmão de 5 anos, e os dois voltam a pé para casa.
Morro de orgulho!!

E a educação que falta eu dou em casa. Meu filho mais velho aprendeu a escrever aqui e já sabe muita coisa de inglês.
Passam a tarde inteira pesquisando tudo o que lhes interessa no Google e toda noite lemos um livro antes de dormir.
Prá mim basta.

Lá na escola pública eles tem uma disciplina rígida, típica de um ideal burocrático e estúpido que habita o sistema educacional: tem que fazer fila para sair da sala de aula, tem que colorir a máscara de carnaval do jeito que a tia manda... mas e eu adoro!!!

Adoro dar a idéia para os meus filhos que o mundo não é só do jeito que eles querem, que nem sempre a coisa pode ser feita da maneira deles. Que as regras existem para serem cumpridas, por mais idiotas que sejam.
E aqui em casa eles já são suficientemente criativos. Chega!!!
As escolas "modernas" abusam da criatividade, liberdade e dão muita voz ativa para às crianças.
Depois, na hora de puxar as rédeas, é tarde demais.
O pior é que sobra, em geral, para os pais.

E lá na escola pública dos meus filhos eu sou uma mãe voluntária.
Vou todas as semanas contar histórias para eles. Faço isso há 3 anos e fico sempre impressionada com o grau de educação, respeito e gratidão que as crianças tem por mim. Conto tranquilamente histórias para 90 crianças sem interrupção ou bagunça. E isso não existe em nenhuma escola particular!!!
Vai por mim... eu tenho experiência!
E no final da história eles fazem fila para me beijar e abraçar. Sem a professora mandar. Fazem porque são gratos... e educados.

E, além de tudo, meus filhos tem amigos de todas as cores e estilos, e ISSO não tem preço!!!

Mas confesso que ficava angustiada com minha escolha maluca e me sentia insegura de ser a únca mãe, entre as minhas amigas, que tem filhos numa escola pública. Usava a Andréa Beltrão como argumento (igual a Ruth Rocha com o Chaves!!!hahaha), mas não era suficiente para embasar minha idéia.

No entanto, este mês li algo na revista Veja que me deixou aliviada e confiante. E é claro que só poderia vir de Gustavo Ioschpe, que é para mim o papa da educação no Brasil.
Paulo Freire, Rubem Alves... nada a ver. Quero gente séria com dados reais e estudos consistentes, não abstrações filosóficas.

Amo Gustavo Ioschpe!!! Começou adolescente escrevendo no Folhateen (que eu lia toda semana) e hoje é um homem sério, incrível... e lindo!
Ele veio com MUITOS dados estatísticos que no final provam que tanto faz se os seus filhos estudam em escolas públicas ou particulares.

Isso não interfere em NADA no sucesso educacional e profissional da criança.
A única variável que realmente colabora para isso é... o nível educacional dos pais!!!!
Bingo!!!

Agora vem a pergunta: será que as escolas públicas brasileiras estão falindo porque os pais com alto nível educacional tiraram seus filhos de lá???
Eu acho que sim.

Bom, resumo da ópera:
Eu estudei a vida inteira em colégios particulares.
Alguns amigos meus se deram muito bem profissionalmente. Outros não.
Alguns amigos meus eram bagunceiros e sem respeito. Outros não.
Alguns amigos meus escrevem perfeitamente, sem erros. Outros não.
Alguns amigos repetiram de ano várias vezes. Outros não.
Alguns amigos meus eram legais e interessantes. Outros não.
Alguns amigos meus são pessoas esclarecidas e cultas. Outros não.
Alguns amigos hoje estão ricos. Outros não.
Alguns estão felizes. Outros não.

E todos tivemos as mesmas oportunidades.

Meu marido estudou em escolas públicas e a lista de amigos dele é exatamente igual a minha.

5 comentários:

  1. oi Clau!
    Veja este post da Paloma, minha comadre, que mora em BSB!
    http://fotocecilia.blogspot.com/2011/02/o-sonho-da-escola-publica.html
    Bjs!

    ResponderExcluir
  2. espero que um dia o Brasil seja como aqui na Suiça onde o diferente é colocar os filhos na escola particular , alias so estrangeiros ou crianças com dificuldades vao para as escolas particulares.....
    beijos

    ResponderExcluir
  3. Li o blog da Cecilia. Vocês podem formar um grupo de pais de escola publica.vamos batalhar para ter uma escola com horário integral como todos os países adiantados ,inclusive Chile e Argentina tem. seria uma bela economia com segurança e saúde uma vez que toda a nossa infância estaria protegida e alimentada durante o dia dos 6aos17 anos.Climene

    ResponderExcluir
  4. No colegial meu pai quebrou e tive que passar da escola particular para uma pública grande, assunto que minha mãe estudou com cuidado e lá fui eu encarar um outro mundo. Entre um dia e outro com uma ou duas aulas (porque quatro ou cinco eram folgas por falta de professor), convivi com pessoas que realmente tinham objetivos totalmente diferentes, e saí de lá genuinamente assustada quando meu super amigo ofereceu roubar pra mim o tênis de uma desconhecida porque eu tinha falado que era bonito. Trauma total.
    Absolutamente não significa que os super amigos da escola particular viraram cidadãos-modelo!!!!
    Mas me assustou sim.
    De forma que eu confesso que sou realmente aquela mãe ultramegapreocupada com a escola pública, a superlotação das classes, o desapontamento dos professores mal pagos e sem estímulo e a falta de condições das famílias de acompanharem o desenvolvimento das crianças.
    Na cidade de 12mil habitantes em que morei até o ano passado, participei de discussões de como baixar o nível das tarefas de casa para que os pais pudessem ajudar os filhos, o que pareceu absurdo no começo, mas foi explicado que era justamente para poder criar esse hábito nas famílias. Depois achei legal. Mas não funcionou. Escutei coisas do tipo: "graças a Deus já acabei a escola, não estou aqui pra pajear criança".
    Aí teve um dia do A-HA moment, que nem vc colocou aqui um dia (adorei a-ha moment).
    A fofinha da escola particular, de roupa de marca e mochila da Hannah Montana, me manda uma assim: "minha mãe me falou que a gente tem comércio e até hoje ninguém da minha família aprendeu matemática, então pra que vou eu estudar matemática? Calculadora, meu bem, calculadora!!!".
    A ficha caiu nesse dia. Não são as escolas. É a gente. São os pais. Estou vivendo um ano diferente, com os meus gêmeos de 10 anos em uma escola internacional pela primeira vez, horário integral, e o que eles mais amaram de todo esse movimento de mudança foi o fato de que a família fez essa mudança, a gente vive o dia deles. ISSO faz a diferença. ISSO!!!! Estar com as crianças, desenvolver-se com eles, ler junto, pesquisar, buscar, conhecer os amigos, acompanhar, detectar as SUAS falhas também, crescer mais um pouquinho com eles. O resto é só uma linha tênue pra você não se perder nas formalidades.
    ô Claudinha desculpa aí, me empolguei né? Mas eu avisei desde a nossa primeira msg, adoro esse assunto... beijo beijo beijo.

    ResponderExcluir
  5. Adorei seu blog.
    Também sempre tive a mesma opniao.
    Um amigo meu paga 1.600 reais por mes, por mes, para as filhas dele ter um ensino, ENSINO, melhor. Em uma visita em minha casa, moro na europa, eu perguntei para ele se as filhas ja falavam ingles. Ele respondeu que nao. Eu perguntei: Voce já foi na escola conversar com o professor de ingles ?! Ele disse que nao. Para mim, nao que as filhas DEVaM falar ingles, mas se os pais pagam uma escola com um valor desse? Deveria exigir mais dos professores, e também DAS FILHAS. No mínimo o pai tem que ir lá e conhecer todos os professores e saber do método do ensino. Mas pais que colocam filhos em escola privadas e púplica, e nao educam em casa( a maioria nao educam), esperam que a escola faca milagre.
    Definitivamente adorei teu blog.

    Isso é um exemplo. N

    ResponderExcluir

Se você não tiver uma conta Google e quiser comentar: escreva na caixa, assine (para eu saber quem escreveu!) e escolha a opção "Anônimo". Pronto! Seu comentário aparecerá imediatamente no blog.