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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Jardineiro Fiel

(continuação do post anterior: LEGOLAND)

Ontem conversei com uma amiga que me confessava uma vantagem em ser lésbica:
-Não existe ciúmes. Eu, minha esposa, e todas as nossas ex-namoradas somos amigas e saímos sempre juntas. Entre nós não existe isso de "problemas com a ex" porque a ex dela, veja só, é a minha melhor amiga. Não é perfeito isso?
Eu ri e falei que era bobagem, que aquilo é uma civilidade natural entre as duas e não, necessariamente, uma característica da condição sexual delas. Ela insistiu e disse que não, que aquela era, sim, uma característica maravilhosa das mulheres lésbicas. 
Convencida e entusiasmada, eu falei:
-Puxa, que legal! Ahhhhh, eu quero ser lésbica também. Será que dá tempo?
-Impossível, Claudinha. Não conheço ninguém menos lésbica do que você.

Putz, verdade, também sinto isso. Não existe uma gota de masculinidade correndo nas minhas veias. Não que eu seja perua, afetada e nem fofa, nada disso, mas sou excessivamente feminina na minha essência.
Sempre desconfiei que o meu ânimus era gay. 

História ilustrada sobre o meu encontro com o ânimus:
Eu estava no primeiro ano de casamento e morava em São Paulo. Uma dia fui abastecer o carro e me apaixonei perdidamente por um pequeno jardim que havia no posto de gasolina. Tão alegre, tão delicado, tão provençal... nada a ver com a paisagem que o envolvia. Fiquei inexplicavelmente encantada pelo jardim (veja bem, nunca dei bola para plantas). Desci do carro e fui investigar quem havia feito o serviço. Descobri o telefone do jardineiro com uma lojista e liguei para o cara no mesmo dia.
Tudo bem que eu morava num apartamento pequeno, mas, ah, e daí?? Eu também poderia contratar um jardineiro, não é?!
No telefone eu disse que precisava de alguém para arrumar minhas floreiras e ele explicou que, antes de pensar num projeto, precisava me conhecer. Pegou o meu endereço e prometeu ir à minha casa de tarde.
Ele tinha, indiscutivelmente, uma voz gay ao telefone. Fiz então um bolo e esperei pelo meu jardineiro gay que queria me conhecer. Oba!
Quando a campainha tocou.... putz, pensa num cara lindo? Era ele. Bronzeado, musculoso, estiloso (uma coisa meio Paulo Zulu rural) e um belo rosto. Pazinhas e rastelinhos aparecendo nos bolsos da mochila cáqui à tiracolo. Um charme.
Conversamos a tarde inteira e ele topou fazer o serviço, mas tinha que ser rápido já que no fim do mês ele iria se mudar da cidade porque, segundo ele, iria "se casar com uma pessoa".
Gay.

O serviço ficou lindo e a minha varanda, agora, era a mais bonita do bairro.

Três anos depois...
Eu estava separada e deprimida, embora a minha varanda ainda fosse bela.
Um dia eu estava sentada nela, triste, lamentando a destruição das casas ao lado que foram demolidas para a construção de um prédio. No meio do enorme terreno que se formou abaixo, sobrou apenas uma jabuticabeira. Eu olhava para a jabuticabeira, prevendo o seu triste fim, quando um homem no terreno me acenou e gritou:
-Claudia, tá linda a sua varanda. Você tá de parabéns!!!
Era o meu jardineiro. Ele, coincidentemente, foi até o lugar resgatar a jabuticabeira e olhava para a minha varanda, admirando o serviço que havia feito.
Subiu no meu apartamento, tomou um suco comigo e conversamos. Eu tinha largado do meu marido e ele largou da "pessoa". Estávamos, os dois, solteiros e solitários. Ficamos amigos.

Mas, olha, entenda, não ficamos apenas amigos, ficamos inseparáveis. Além de jardineiro o cara era fotógrafo e me levava para todos os cantos com ele: estúdios, reunião com lindas modelos, laboratórios de revelação, feira de plantas, CEASA, loja de papéis especiais... eu passava o dia inteiro ao seu lado e almoçava na casa dele sempre que não tinha natação na hora do almoço.
-Claudia, você gosta de pastel de quê?
-Ah, nem sei, acho que de carne.
No dia seguinte a empregada dele fazia pastel de carne. Só para mim. Ele era vegetariano.
-Claudia você sabe fazer pão? Não??? Vou te ensinar.
E comíamos o pão de noite.
Passados uns meses, ele me perguntou:
-A que horas os passarinhos começam a cantar no seu apartamento?
-Putz, nunca ouvi. Acho que nem tem passarinhos por lá.
-Tem sim. Passarinhos cantam em todo lugar. Vou dormir na sua casa e descobrir o horário. Os passarinhos sempre cantam uma hora antes do Sol raiar e, se a gente ouvir eles, dá tempo de tomar um café e chegar aonde eu quero te levar.


Ele dormiu (no sofá cama!), ouviu os benditos passarinhos, e me levou para ver o sol nascer num lugar mágico em São Paulo: em cima da estação Sumaré do metrô, onde há um jardim encantado (criado e mantido por taxistas) e um sol que nasce num horizonte incrível. Desde então passamos a ir sempre lá.
Ouvir os passarinhos e ver o sol nascer era importante para nós. Durante estes momentos ele segurava na minha mão e ficava em silêncio.
E o jardineiro virou o meu tutor, meu guru: "Claudia, compre estes lápis de cor, desenhe, deite aqui  e durma um pouco, você está cansada, ouça esta música, leia este livro, pegue a lupa e veja o lindo formato destes líquens, compre esta orquídea para a sua varanda, passe a mão deste musgo e sinta a maciez".

Durante um ano inteiro o cara cuidou de mim. É claro que eu, vez ou outra, me envolvi com outros homens, mas ele sempre fazia questão absoluta de conhecê-los. E, engraçado, se divertia com eles e gostava de todos.

Um dia eu reclamei:
-Você passa o dia todo com uma máquina na mão registrando tudo. Até a minha mãe você já fotografou, mas nunca virou as suas lentes para mim. Por quê?
Ele respondeu:
-Claudia, você é linda e eu poderia passar a vida te fotografando, mas eu corria o risco de me apaixonar por você, e a minha função na sua vida não é essa.
-Ah, tá, se é assim então tá bom.

Nesta época eu já tinha conhecido o meu atual marido e o jardineiro, lentamente, saiu da minha vida. No último dia em que eu o vi ele me deu essas duas fotos acima: o passarinho que nasceu na samambaia da varanda e a flor amarela da minha floreira (agora me diz: existe ilustração melhor do que esta última foto para a ânima e o ânimus?).
Abaixo das fotos havia apenas a frase abaixo, escrita com a sua letra rebuscada de artista:

E foi assim que meu ânimus, salvando uma jabuticabeira perdida no meio de destroços, entrou na minha vida e me resgatou da depressão, me ensinando coisas que eu faço, religiosamente, até hoje:
  • Preste atenção aos pássaros.
  • Acorde cedo e veja o sol nascer.
  • Faça pão.
  • Pense no que você deseja e... realize!
  • Pegue uma lupa e perceba que o milagre está nos detalhes. Não veja a sua vida de fora! Mergulhe nela e maravilhe-se com as pequenas coisas.
  • Não precisa ser atraente e nem sexy para ser encantadora. Você não precisa ser fotografada. Não se preocupe com isso!
E que assim seja...
Quem me conhece acha que isso em mim é natural: passarinhos, artesanato, pães, comidinhas, valorização das pequenas coisas... mas não é. Foi o meu ânimus que me ensinou tudo isso depois de adulta, e foi com essas pequenas atitudes que eu sobrevivi à uma enorme crise.
E o final dessa linda história é que o cara sumiu e eu, engraçado, nunca perguntei o sobrenome dele. Nem o telefone atual. Desapareceu como um fantasma. Puf....
Sei que ele nunca vai ler esta homenagem, mas gostaria de dizer que lhe sou eternamente grata por tudo.

Bom, este foi o encontro com o meu ânimus gay, que, detalhe, nunca foi gay!! Mas isso é uma outra história.
Amanhã eu termino e explico porque eu comecei com esse papo de ânimus.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

LEGOLAND



O post anterior me fez lembrar desta música abaixo. Esta música me fez lembrar das minhas aulas de psicologia analítica e as minhas aulas de psicologia me fizeram ouvir, esta semana, relatos de amigas (lembrem-se que não falo de pacientes aqui) de uma forma diferenciada. 
E, ouvindo os outros, eu descobri algo incrível.
Mas este texto é apenas a primeira parte da história. Lá vai:


"Terezinha de Jesus numa queda foi ao chão.
Acudiram três cavalheiros
todos de chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai,
o segundo seu irmão,
o terceiro foi aquele
que a Tereza deu a mão."



Existe uma instância psíquica da teoria junguiana chamada ânimus, que nada mais é do que os aspectos masculinos da psique de uma mulher.
Os aspectos masculinos a fazem lutar, brigar e conquistar coisas importantes para a sua vida. Mas, para isso, a moça tem que estar de bem com o seu próprio ânimus. Se a relação de uma mulher com o próprio ânimus for ruim, ele pode se tornar um tirano, boicotando-a pela vida afora. Criticando o seu desempenho profissional, sacaneando os seus relacionamentos amorosos, questionando a competência da moça, ridicularizando-a quando ela se aventura em um desafio.... um inferno.

E existe nos homens, claro, a instância oposta: a ânima.
A ânima são os aspectos femininos de um homem que o acolhe, o emociona, o incentiva com afeto, o surpreende com beleza, arte e poesia. A ânima pode ser uma mãe boa interna que o encoraja ou uma musa inspiradora que o preenche de leite e mel. Mas, de novo, preciso dizer que a ânima precisa estar em sintonia com o rapaz. Se ela for uma ânima ruim, negativa, pode se transformar numa bruxa má ou numa sedutora vulgar que usa a feminilidade de forma destrutiva. Como sereias que levam os navios à desgraça.
Bom, numa aula sobre o assunto, uma professora disse:
-O ânimus não pode ser hierarquicamente superior, como um pai, e nem pode ser um igual, como um irmão. Se isso acontecer não há ganhos com a conquista do ânimus.
E eu logo falei:
-Ah, entendi, como o "terceiro" da Terezinha de Jesus?
A professora, então, sorriu e falou, com uma paciência maternal:
-Sim, Claudia, sim. Como o terceiro da Terezinha de Jesus.

Terezinha caiu e precisava de ajuda para levantar. Apareceram 3 homens, mas ela deu a mão justamente para aquele que não era o seu pai e nem o seu irmão. Podia ser um reles pretendente amoroso, mas eu adoro achar que era o ânimus. Fica mais místico.
E aí é que está a beleza da teoria junguiana: a ânima e o ânimus são instâncias que surgem para resgatar o paciente de uma crise. Terezinha caiu. Nós também caímos, e precisamos fazer as pazes com estas nossas instâncias opostas se quisermos ser salvos.
Já falei sobre isso neste post aqui. Leonardo Dicaprio certamente, foi o ânimus da moça do Titanic.

Bom, do ponto de vista prático, o ânimus deve estar dentro de nós, como uma voz que nos orienta. Mas se você não possui um bom ânimus, não consegue acessá-lo ou ignora-o por completo, tcharããããm... não se preocupe!! Ele virá até você sob a forma de um homem de carne e osso. (É preciso lembrar que o mesmo acontece com a ânima, tá? E neste caso, obviamente, é uma mulher que aparece).
E ele/ela sempre chega da forma mais improvável e linda.
É claro que o cara é um homem especial que te valoriza, te inspira, te incentiva, te motiva, te corrige, te orienta, te elogia... e é claro que podemos nos apaixonar por ele.
E aí que está a dificuldade: diferenciar o ânimus de um grande amor.

Digo isso porque esta semana conversei com duas mulheres que me contaram sobre o encontro delas com os respectivos ânimus (vale dizer que este encontros sempre são emocionantes e eu adoooooro ouvir histórias assim). E o mais incrível é que as duas falaram, basicamente, a mesma coisa: Sinto-me segura e amparada ao lado dele, mas sei que não é um amor romântico, é um amor pelo masculino e, ao mesmo tempo, por mim mesma.  É como se ele estivesse me ajudando a evoluir como mulher. Como se ele estivesse me preparando para algo maior.

E eu comentei com ambas: "Uau, que super sacada! Você acabou de economizar anos de terapia."
Tem gente que conhece o ânimus e acredita que lá está um grande amor. E aí fica sofrendo, chorando, insistindo, dando murro em ponta de faca. Não reconhece que o cara só tem uma função provisória na sua vida e que, não necessariamente, veio para ficar.
Ou tem gente que conhece o ânimus e foge de medo. Ou, pior, enlouquece...
Existem histórias que falam de pessoas que se desestruturaram diante de um ânimus/ânima, e o filme "Perdas e Danos", com o Jeremy Irons se apaixonando pela nora, é o que eu mais consigo lembrar agora.
"O segundo foi o seu pai..."  

Ah, tem também o filme "Ensina-me a viver", onde um jovem rico, deprimido e potencialmente suicida conhece uma velha alegre e se apaixona pela ânima da velha sábia, salvando-o da crise existencial que ele se encontrava. (com uma trilha sonora incrível do Cat Stevens)

Mas aí vem a pergunta crucial: como diferenciar o ânimus/a ânima de um grande amor?

Vixi... difícil, mas costumo dizer que se o cara ou a moça falam E-XA-TA-MEN-TE  o que você precisava ouvir é quase certo que é apenas a personificação de uma instância psíquica. Se existe algo mágico no ar e você tem a percepção de ser personagem de uma história incrível, também pode ser. Se você tem a sensação que está conversando com você mesmo, putz, é batata! E se tudo flui bem, mas a química entre vocês não existe, é certeza.
Sim, é duro, mas precisamos admitir que o amor não é assim tãããão incrível. Amor não é essa completude toda. Amor em geral tem arestas, tem espinhos e, infelizmente, nunca dizem aquilo que e gente queria ouvir.
Pena...

O amor não é aquela coisa colorida onde tudo se encaixa perfeitamente.
O nome disso é Lego.


Ei, para tudo!! Ou... pode ser a sua (seu) ânima/ânimus!!!

Encontros coloridos e absolutamente perfeitos! 
E viva a Legoland!!


Agora eu quero saber: com tudo isso que eu falei hoje, vocês detectaram histórias de encontro com ânima/ânimus no decorrer da vida? Não é exatamente isso que eu disse?
Quem concorda? Quem tem algo a acrescentar?? 





sexta-feira, 16 de novembro de 2012

É a lama, é a lama...



Conversando com uma pessoa esta semana, ouvi algo interessante e falei: "Puxa, isso precisava ir para o blog".
Ela percebeu o meu interesse e mandou muitas referências sobre o assunto. Vários trechos da Bíblia. Todos com músicas à tiracolo. Eba!
Resumindo a história: Certo dia Jeremias ouviu de Deus que ele precisava ir até a casa do oleiro para receber uma mensagem. (oleiro=fabricante de objetos de barro). Chegando lá, Jeremias viu o cara tentando caprichar nos vasos, mas quebrando vários. Aí Deus falou: Assim como o oleiro, eu também não acerto de primeira. Preciso de tempo, paciência e espera para conseguir acertar as bênçãos na sua vida.
Daí surgiu o jargão entre os evangélicos: Deus, eu quero ser uma vaso novo. Em outras palavras: Deus, quebra e tenta de novo, porque este lote não ficou bom. Pode ser?

À partir daí a gente consegue entender porque não casamos com o nosso primeiro namorado. Às vezes nem com o quinto! Isso explica porque nem sempre ficamos no nosso primeiro curso universitário. Porque, às vezes, não damos certo no nosso primeiro emprego.
O barro é malandro. Muitas trincas, muitos problemas na queima, umidade, metais na terra que podem prejudicar o resultado. Barro é fogo.
"O primeiro me chegou como quem chega do bar.
O segundo me chegou como quem vem do florista.
O terceiro me chegou como quem chega do nada... "

-Tá bom!!! Lotação esgotada no vaso.

E, com isso, entendemos também que é preciso paciência e tempo para conseguir o que tanto queremos. E, tem mais, as vezes o vaso não vem do jeitinho que a gente imaginava. Vasos podem ter vários designs, e Deus é muito, muito criativo!  

-Eu quero ser um vaso novo.

Seu desejo é uma ordem.
Plim!!!
.
.
.

Ahahaha, A-do-ro essas paródias da Anne Geddes!! 
Sempre digo: cuidado com o que você pede para Deus.

E com a história do oleiro conseguimos também compreender porque todas as frases de auto ajuda pregam a mesma coisa: o tempo cura tudo, o tempo é o melhor remédio, dê tempo ao tempo, blá, blá, blá.
Precisamos avisar esse povo que não é simplesmente uma questão de tempo. Não!! Não é só sentar e esperar. Precisamos pedir para Deus quebrar o nosso vaso e fazer outro. E, depois, mais um. E, talvez, um terceiro...
Ei, psiu, não é legal saber que nem Deus acerta na primeira tentativa? Ahhhhhh.... adorei saber disso!














Legenda: na porta está escrito "Doutor Tempo"







Tradução:
Algumas coisas só precisam de tempo.
Nove mamães não fazem um bebê em um mês.
(Warrem Buffet, com sua filosofia de Buffet Infantil)




Legenda: Algumas vezes é preciso silenciar, sair de cena e esperar que a sabedoria do tempo termine o espetáculo.










Mas, peraí...silêncio??? Opa, dessa eu não sabia. O oleiro só trabalha em silêncio agora? E quem é que vai cantar Unchained Melody para Deus terminar a minha vida?


 Reparem na quantidade ABSURDA de vasos tortos e mal feitos nas prateleiras ao fundo. Por quê será? 
Culpa do fantasma do Patrick Swayze distraindo a artesã com seu ar...tesão? 
Não!!
Culpa da música.



Então, pessoal, além de pedir para Deus quebrar o seu vaso e remodelar a sua vida quantas vezes forem necessárias, é preciso dizer para ele ficar em silêncio, tá? 
Não se esqueçam disso. Dica importantíssima.


-Oh, my love, my darling
I've hungered, hungeeeeeeeeeeeeeeeeeeered for your touch!!
-Shhhhh, quietinho e, por favor, Deus, não Se distraia. Foco!
-Opa, foi mal.
-God, speed your love to me!


Esta última frase: "Deus acelere o seu amor para mim", é mesmo da música dos Righteous Brothers. 
Nunca tinha prestado atenção na letra, mas ela é incrível. Quem quiser pode fazer a prece agora mesmo pedindo um vaso novo na linda música abaixo. 
Mas ó, só peça depois que a música acabar, tá? No silêncio. 


Brasilicus na promoção: leia o post e ganhe a chance de refazer o seu vaso. 
O meu vaso novo eu já pedi. 
Vamos ver se Deus e Santa Lauper me ouvirá...






sábado, 10 de novembro de 2012

Lavou, tá sujo.




Hoje estava comendo o meu Sucrilhos e parei para ler a caixa. Adoro ler caixa de cereal. Sempre aproveito para testar a minha visão cansada. Tantas letrinhas miúdas, né?
Na caixa de ontem, ao final da lista dos ingredientes existia a frase obrigatória: CONTÉM GLÚTEM e, depois disso, uma última frase, em letras menores: contém traços de amêndoas.
Dei risada alto, sozinha.
Estranho.
Katy Perry, com notas de mau
gosto residual, puxada na
peruca uva.

Já tinha lido isso em outros produtos mas nunca entendi o significado da coisa. A amêndoa não é ingrediente porque, se fosse, estaria na listagem anterior.
Ok, isso eu entendi.
Mas, então, o que significa "traços" de amêndoas, afinal?  E por quê precisa ser mencionado?
Será que algum funcionário guloso deixou cair uma mísera amêndoa no tonel da farinha de milho e eles precisaram notificar? Será que alguma funcionária usou óleo de amêndoas e deixou o cheiro no produto?
O que significa um "traço" de algum coisa?
Odeio esses neologismos para detalhes insignificantes: gosto residual com NOTAS de caramelo; filé ao vinho do porto, PUXADO na canela.
Tudo bobagem.

Bom, a explicação do tal "traço" eu encontrei aqui.

Diz o texto que, por mais que as caldeiras sejam lavadas entre a fabricação de um produto e outro, sempre sobra uma sujeirinha que configura o tal "traço". O "traço" é o cúmulo da honestidade, do detalhismo exagerado. É quase um sintoma de TOC.
Entendo que isso seria necessário para pessoas muito, muito, muito intolerantes com alguns alimentos, como é o caso do meu amigo Seinfeld.
Ahahaha, adoro esse vídeo!


-Mas, peraí, Jerry. Se você não toma leite,
como consome essa quantidade absurda de cereais?

Mas por quê a Kellogg´s precisa avisar sobre uma.. amêndoa? As farinhas não avisam em seus rótulos sobre a enorme quantidade de pedacinhos de insetos. O McDonalds não diz nada sobre cabelos e minhocas.
Por quê amêndoas são, então, um problema??

Sim, porque afinal as amêndoas não são alergênicas. Amêndoas não estão na lista dos produtos proibidos pela dieta kosher e, pelo que eu sei,  também não é um alimento sagrado em cultura alguma.
E vale lembrar que a amêndoa não é um tempero forte como coentro, orégano ou erva-doce que deixaria um cheiro forte e contaminaria o produto para sempre.
Comer uma casquinha de uma amêndoa não provoca problemas maiores em ninguém.
Pffff, amêndoa é uma bobagem.
Ao invés de gastar tinta avisando isso na caixa, deveriam é deixar prá lá e acabar com essa palhaçada.
E, prá complicar ainda mais: afinal qual é o produto Kellogg´s feito com... amêndoa???  Nunca vi! Se existir, por favor me avisem, porque ando mesmo enjoada dessa rotina de flocos de milho +  flocos de arroz.


Relatório Final da Investigação: na calada da noite, a fábrica da Kellogg`s arrenda o espaço para a Nutty Bavarian e os funcionários, na pressa de trocar o turno, não esfregam direito o alumínio. Caso fechado.

-Vambora, Maria, que o povo do tigre Tony quer começar a trabalhar.
-Péra, home, deixa eu lavar as tigelas.
-Nãããã, deixa asssim. Se sobrar alguma sujeira, eles escrevem depois na caixinha.


Mas a verdade é que desde que os meus filhos começaram a lavar as fôrmas aqui de casa, eu acho que preciso também começar a notificar problemas parecidos na hora de enviar minhas receitas para as amigas :

Bacalhau ao Forno: batata, bacalhau, tomate, cebola, azeitona, azeite, ovos, sal. NÃO CONTÉM GLÚTEM. contém traços de cookies. 

Bolo de Cenoura:  farinha de trigo, açúcar, cenoura, óleo, ovos, fermento químico. CONTÉM GLÚTEM. contém traços de bacalhau.



E isso me faz lembrar de uma ótima frase usada entre os jovens (percebam que eu já me excluo deste grupo). A frase é:  Lavou, tá novo.
É usada, por exemplo, quando um rapaz pega a ex-namorada de um amigo.
-Puxa, mas não é estranho você ficar com a Jú depois dela namorar o Bruno por tantos anos?
-Bobagem. Lavou, tá novo.

Ótima, né?


-Pronto, Jú, já tá bom.
Agora vamos dar uma olhada nessas orelhas.


Mas o que os jovens não sabem é que que existe essa coisa chamada... traços.
Juliana: peitinhos, barriga com piercing de titanium, coxas, nariz corrigido cirurgicamente, cabelos alisado com formol, dentes branqueados quimicamente CONTÉM GLÚTEO contém traços de Bruno.

Lavou, tá sujo.

Isso porque estamos apenas falando dos traços microbiológicos. Ainda não entramos no mérito dos traços emocionais.
-Vixi, a Jú ainda contém traços de Bruno...


CAMILA: amiga, simpática, trabalhadora, evangélica, boa filha, honesta. NÃO CONTÉM GLÚTEO. contém traços masoquistas.

RICARDO: espada, bonito, simpático, ativo, atlético.  CONTÉM GLÚTEO. contém traços gays.



Espero que o "Relatório Kellogg´s" não vire moda daqui prá frente.
Ei pessoal, vamos deixar os detalhes de lado! Esquece isso! Qual é o problema se tem uma coisa suja aqui e outra acolá?? Sujeiras são boas. Dizem até que melhoram a nossa imunidade.
Nossas características confessas já nos dão trabalho suficiente na vida. E se formos fuçar demais descobriremos tantos traços, tantas notas, somos puxados em tantas coisas...

Ah, e ainda temos os benditos glúteos que nos dão um trabalho danado.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Porque nem tudo é perfeito. Aliás... nada é!


Minha vida está um caos matemático porque Deus descansou no Domingo.
Sacanagem, Deus não devia ter feito isso.
Se ele tivesse terminado o mundo no sábado a noite e, rapidamente, levantado os braços como um mecânico de um pit stop, hoje em dia a semana teria apenas 6 dias e tudo seria mais óbvio.
Duas semanas seria... uma dúzia de dias. Simples, né? Adeus quinzena (que nunca foi quinzena porque 14 dias não tem nem denominação!). Adeus mês com 30 dias que NUNCA se divide por 7 e deixa o calendário uma bagunça. Se a semana tivesse só 6 dias, um mês teria 24 dias. Um dia tem 24 horas. Um mês teria 24 dias e o ano continuaria com 12 meses.
Perfeito! O sistema "duzimal" comandaria o mundo.

Mas nããããão. Deus não tinha pressa. Deus aproveitou o Domingo para tirar uma soneca antes de anunciar que a obra estava acabada e, assim, inaugurou a praga do número 7.
-Então, Adão, ontem terminei tudo e hoje tirei o dia para dar um rolê e conhecer melhor o pessoal. 
-E, com isso, acaba de inventar um troço chamado "empata foda"...
-Hahahahaha, sim!! Estou fazendo serão no meu dia de descanso.
-É... tô vendo. Foda.

(Achei muito engraçada esta imagem do casal apaixonado ignorando totalmente o Deus/Jesus ao lado)


Digo isso porque tudo que é importante na vida tem que ser feito 3 vezes por semana, e uma semana com 7 dias não permite uma divisão exata na logística das coisas. E aí a rotina descontrola e fica difícil de organizar.

Por exemplo:
Quem entende do assunto diz que o exercício físico, para ser considerado eficiente, deve ser feito 3 vezes por semana. Fazer ginástica duas vezes por semana não provoca nem cócegas no nosso metabolismo. Ou faça 3 vezes por semana ou nem diga aos outros que você faz alguma atividade. E fazer todo dia também não pode: provoca fadiga muscular e aumenta o risco de lesões. POR ISSO não faço todo dia. Ordens médicas.

Outra: este mês fui numa especialista em cabelos e, já que estava por lá, perguntei a ela quantas vezes por semana devemos lavar o cabelo. Ela foi taxativa: 3 vezes. Nem mais nem menos.
Para molhar as plantas também: 3 vezes por semana. Se molhar demais ela fica preguiçosa e as raízes não se aprofundam. Se molhar menos, desidratamos as coitadinhas.
Sexo depois do casamento (claro, antes é todo dia ) deve ser feito 3 vezes por semana, dizem os sexólogos espertões. Mais do que isso foge do padrão de normalidade, e menos indica problemas no casamento. Ok, ok, três vezes por semana será.

Bom, isso tudo já estava demasiadamente confuso quando um médico desavisado da minha intolerância com a semana de dias ímpares me prescreveu injeções para o resto da vida que devem ser tomadas, adivinhem?? Sim, 3 x por semana.
Desde então vivo numa eterna confusão:
-Clau, hoje é dia de você tomar a sua injeção.
-Não é não.
-É sim, você não tomou ontem.
-É que são 3x por semana.
-Mas 3x por semana não é a mesma coisa que "dia sim dia não"?
-Não, porque a semana tem 7 dias, e 7 não é múltiplo de porcaria nenhuma! Maldito número primo! E duas semanas, pasme você, decidiram que tem... 15 dias. Por quê? Porque o número 7 é tão desgraçado que nem se dão ao trabalho de multiplicá-lo decentemente. Deus devia ter aprendido a tabuada ANTES de inventar o mundo. Depois? Ah, depois já era tarde demais!
-Puxa, que confuso.
-SIIIIIIIIIIIIM! É tudo muuuuuuuuito confuso e isso é um inferno. Tudo podia ser mais simples. A rotina podia ser mais simples, a minha agenda podia ser mais simples, mas... não! Deus quis descansar. "Ui, ui, que difícil fazer um mundo. Ai, preciso descansar um pouco". Bah, o cara não é perfeito??? E por quê é que gente perfeita precisa de descanso?
-Clau, você parece nervosa. Deita um pouco e relaxa.
-Não posso. Deus pode descansar, eu não. Tenho que refazer a minha agenda agora.



E num Domingo qualquer...
- Dois vezes três é igual a.... seis?
Uia, tem gente que não vai gostar nada de saber disso.

Por isso, hoje decidi organizar minha agenda e acabar com essa palhaçada.
Será assim:
  • Molhar as plantas: 2ª, 4ª e 6ª feira. Fácil. E se chover eu me reorganizo.
  • Sexo: 3ª, 5ª e Sábado. Domingo não porque é dia santo. Boa!

Lavar cabelo tem que ser no mesmo dia que fazemos exercícios físicos, para limpar o suor. Ótimo, assim, matamos duas obrigações num só dia:
  • Lavar cabelo + ginástica: 2ª, 4ª e 6ª.  Mas... e a piscina do fim de semana?? Vixi, tenho que tirar o cloro dos cabelos nestes dias também. Ó meu Deus, meus cabelos ficarão fracos de tanto serem lavados e esfregados. Droga. 
Ah, já sei, não farei mais a ginástica. Ou, melhor, rasparei o cabelo.
Pronto, decidido.

Ei! Não vejo a hora de chegar na idade onde consideramos o sexo como um exercício físico, porque aí seria uma obrigação a menos para organizar no tal esquema luzitano "3 vezes por semana".
Sim, sim, tudo ficará melhor neste dia.
Mas...

Médico geriatra pergunta:
-Você faz exercícios físicos?
-Faço sexo, doutor.
-Mas... quantas vezes por semana?
-Três, como prega o protocolo.
-Em cima ou em baixo.
-Ah, daí varia.
-Nada disso! Sexo só pode ser considerado exercício físico se for por cima. Ficar deitado qualquer um fica. 
-Puuuuxa, bem pensado, nunca tinha visto por este ângulo. 

-De novo você em cima, amor?
-Cala a boca e, por favor, não me faça voltar para a academia. Já lavei o meu cabelo ontem. Agora vira porque hoje eu preciso trabalhar a parte interna das coxas. 

Chega de blog, vou colocar o lixo para fora. Ah! Mais uma praga que tenho que fazer... 3 vezes por semana.
Qual outra atividade precisamos fazer 3 vezes por semana e a imbecilidade do número 7 não permite a perfeição?