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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Minha cueca, tava lavada!!!

Maria Mariana foi a adolescente mais famosa e inteligente que existiu no Brasil na década de 90. Cresceu e virou uma mulher incrível. Na juventude, carregou bandeiras chamando fofamente a nossa atenção para um assunto importante: o embate entre as gerações.
Agora, na vida adulta, carrega bandeiras e... cuecas... na privacidade da sua casa.

“Apanhar cueca suja que o marido deixa no chão
é um aprendizado de paciência e dedicação "

(Maria Mariana)

Sua entrevista para a revista Época foi tão boa, tão boa que eu deveria copiá-la e fazer um post só com ela, mas tenho que deixar o link AQUI para poder ganhar tempo.
Bom, resumindo, concordo com Maria Mariana em tudo. Com exceção, talvez, do lance de Deus.
Também sou uma "personal catadora de cueca" e tenho orgulho disso. Bato no peito e assumo que adoro ser uma dona de casa passiva, amorosa e dedicada. Acho que assim tudo fica mais correto, mais sereno, como se houvesse um chamado interno exigindo a compreensão incondicional e graciosa ao ranço machista. Como se brotasse uma alegria estranha ao declarar publicamente o meu apego insandecido ao lar.
Sério, percebo que quando a gente se submete a pegar a cueca do chão, uma paz se declara dentro de casa e tudo fica óbvio e sossegado.
Como se estivéssemos mesmo cumprindo um papel divino...

Mas nada é tão simples. Existe um dilpoma na gaveta clamando por respeito e uma pilha de sutiãs queimados exigindo retratação.
Antigamente a coisa era mais simplona e, diz a lenda, que a família era mais tranquila.

-Com pênis? Não lava a louça.
-Sem pênis? Lava a louça. E seca. E guarda. 

Mas como não há mais empregos bom para todos os homens do planeta, o casal precisou sair de casa para sustentar os luxos que a vida exige.
E foi aí que a coisa desandou!
Se os dois trabalham o dia todo, a mulher se sente usada e abusada ao ter que catar uma cueca. Não faz mas isso com "paciência e dedicação" mas ódio e nojo. Se os dois trabalham o dia todo não tem justificativa dela ter que ajudar a molecada com a lição de casa enquanto ele assiste o Jornal Nacional no sofá.
Não que alguma coisa tenha mudado dentro de casa! Não!!! Hoje em dia ainda é óbvio que as mulheres devem lavar a louça (trabalhando ou não fora de casa), com a diferença que agora se sentem usadas e ofendidas. Como se lavar uma louça fosse algo ultrajante. Não é não! E catar cueca também não! Mas sobrecarregaram a gente de obrigações e aí tudo vem em demasia.
E tudo fica chato e irritante.

Eu trabalho bem menos do que poderia (ou deveria?), mas gosto de ser dona de casa e adoro fazer todos os dias um lanche diferente para as crianças, uma sobremesa especial, arrumar a casa de um jeito bacana, massagem no marido, deixar a cozinha limpíssima antes de dormir... frescurinhas de uma doméstica.
E sabe o que é mais legal? Acho que isso não faz de mim (ou da Maria Mariana) uma mulher menos inteligente, ou capaz, ou bonita ou importante.
Eu diria que até tem um lado... sexy!

Mas nem todo mundo acha isso bonito.
Roubando a brincadeira irritante do Facebook, aqui vai:

Como eu me sinto:


Como o meu marido me vê:




Como os meus filhos me vêem:



Como a sociedade me vê:



Como a minha empregada me vê:



Como eu gostaria de ser vista:


Como eu sou de verdade:

-Mãe, acabei o cocô!!!!
-To indo filho, só um pouquinho.

Hahahah!!! Eu disse que além de dona de casa eu tenho um blog?
Putz... Deus deve estar me odiando neste exato momento.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Queimando pontes...

Já aconteceu de você sair da sua realidade, viver experiências diferentes e voltar ao mesmíssimo lugar?
Claro que já!! Acontece com todo mundo. Pode ser uma viagem linda, pode ser um envolvimento com situações novas, o contato com outras realidades...
E pode ser, inclusive, um relacionamento amoroso, fugaz e transitório. Você vive aquilo intensamente depois... tchibum... mergulha de novo na rotina.
Pronto, acabou.
Existem coisas que não nascem para ser eternas.

Mas a imbecilidade da coisa é queimar as pontes que te levaram àquele lugar, achando que, por ser obrigado a retornar à rotina, o melhor a fazer é voltar a ser exatamente como antes. Parece óbvio acreditar que a melhor coisa a fazer é anular o trajeto. E disfarçar as evidências. E esquecer a felicidade vivida.
De preferência para sempre.

E mais uma vez aqui no blog vou falar de um filme que ilustra o que eu pretendo dizer. Para tanto, vou novamente chamar a atriz:
-And the Oscar goes to... Meryl Streep!
Ano passado Cid Moreira foi o campeão de citações aqui no blog. Este ano será de Mme. Streep.

Todos choramos com "As Pontes de Madison" (menos a minha mãe que não simpatiza com a causa, hahaha).
A família da dona de casa foi viajar por uns dias e ela (Meryl Streep) fica sozinha em sua cidade entediante. Mas ela acaba conhecendo Clint Eastwood. Ele é um fotógrafo charmoso que foi à pacata cidade fotografar... pontes.
E, obviamente, eles se apaixonam.
Com ele, Meryl Streep deu risada, foi fotografada e valorizada, ouviu elogios, dançou, soltou os seus cabelos e se sentiu desejada. Ficou sensual, feliz e linda.
Tudo de bom!
Mas quando ele a convida para ir embora da cidade, ela decide ficar.
Apesar de triste, o final foi previsível, afinal a mulher tinha uma vida para levar, casa para cuidar, marido para amar, filhos para criar... essa realidade que todo mundo conhece bem.

E o auge da tristeza do filme acontece no fim quando o marido chega de viagem e fala:
-Querida, vamos ali no centro comigo comprar algumas coisas?
Ela vai. Ela já tinha escolhido continuar a vida ao lado da família e, ir às compras, faz mesmo parte da tal rotina doméstica.
Enquanto espera o marido fazer as compras, dentro do carro, Meryl vê logo adiante Clint Eastwood se preparando para partir definitivamante da cidade. Ela então, sozinha no banco do passageiro, faz a melhor atuação gestual da história do cinema.
Esta:

Fica longos minutos segurando a maçaneta da porta, freiando o anseio de correr dalí e fugir para sempre com o fotógrafo bonito.
O público torce. O clima é tenso.
Mas ela, pela segunda vez, escolhe ficar.
O marido, então, chega feliz da vida com as sacolas e eles vão para a casa.
The End.

A cena da maçaneta é a mais dramática para o público e era também a mais triste para mim. Mas um dia a minha psicóloga me mostrou uma tristeza ainda maior no filme.
Para ela, a cena mais triste acontece antes, quando Meryl Streep recebe a família que regressa da viagem. Ela está linda, despenteada e sorrindo sozinha na cozinha, ainda lembrando dos dias de amor que viveu por alí. Mas quando avista o carro do marido apontando no portão, logo amarra os cabelo no mesmo coque e assume a mesmíssima postura de uma dona de casa infeliz.
E, segundo a minha querida terapeuta, isso sim era realmente triste.

Isso é queimar as pontes!!! Isso é pegar as experiências vividas e anular as suas existências. Isso é não aprender nada com a vida. Isso é jogar suas lindas lembranças no lixo emocional.
E isto é um desperdício.

Desde então tenho reparado em pessoas queimando pontes o tempo todo. Em várias situações, e todas muito tristes. Não percebem que a graça das experiências, boas ou ruins, é justamente inaugurar novas pontes às suas novas existências.
E obstruir propositalmente esta nova passagem é uma enorme burrice.

Neste fim de semana revejam o filme e, por favor, façam a lição de casa.
Prestem atenção à mensagem simbólica da história e aprendam com ela, ok? Vamos lá, com calma para ninguém se perder:
O cara bonitão chegou do nada na cidade pacata e valorizou cada monumento decadente aos quais, ninguém dava a menor importância. Usou a sua arte para fotografar as pontes. Nomeou todas elas, catalogou, registrou tudo!!  Deu status de obra de arte para as construções consideradas feias, gastas e sem tinta pela população local.
E deu as fotos para Meryl Streep.
Neste meio tempo, soltou o cabelo da mulher, disse que era era linda, elogiou a sua comida, tirou-a para dançar, deu risada das suas gracinhas, fez amor com ela (claro!) e contou que ela é tão importante, mas tão importante, que ele até tinha vontade de levar ela embora para sempre.

Puxa vida, não? Quanto simbolismo!
Conclusão: o cara era era apenas o "homem da ponte". Fez o serviço dele e foi embora. E, muito importante: ele não construiu as pontes!!! Elas já estavam lá! Ele apenas as valorizou...
Entenderam a mensagem ou querem que eu desenhe para ficar mais fácil??? hahaha

Aos olhos do público parece que ela não partiu com o fotógrafo por medo e/ou respeito pela família. Mas a verdade é que ela não foi porque não precisava ir.
Aliás, ela precisava mesmo ficar porque agora existe dentro do seu lar uma missão: ela precisa viver novamente a rotina familiar com este novo status que o fotógrafo lhe deu. Precisa ser uma dona de casa comprovadamente linda, divertida e amada. Precisa mostar ao mundo que ela conhece suas própias pontes e que transitar por elas é fácil e bem legal : dona de casa - dançarina; mãe brava - moça divertida; mulher velha - amante lindona; esposa atarefada - ser humano introspectivo; frágil - forte; ativa - passiva, etc, etc e tal.
Mas o problema é que ela, infelizmente, prende o cabelo e, neste exato momento, incendeia as suas pontes.
E ISSO foi muito triste...

Entenderam?? Então vamos lá, comigo: Você viveu uma experiência bacana? Volte para o seu eixo e use a ponte recém inaugurada para conhecer seus novos horizontes existenciais.
Um dia perceberá que suas mil pontes te levarão aonde você quiser e sempre que você precisar.


E isso se chama acessibilidade ao próprio Self!!


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Escolha da Sofia



Ontem recebi um telefonema de manhã bem cedo. Era a Sofia nos convidando para o seu aniversário de 7 anos. E ela logo avisou: vai ser da Hello Kitty!
Sofia é uma amiga do meu filho que mora aqui na cidade onde vivemos. Compramos os presentes, nos arrumamos e, de noite, fomos à festa amorosamente preparada pela família da menina.

Aqui na região, depois do "Parabéns prá você" as crianças não tem o hábito de cantar "E prá Sofia nada? Tudo! Então como é que é? É!!!! É pique, é pique..." etc e tal.
Aqui não tem isso. Já dei alguns foras iniciando a gritaria sem obter respostas do público. Aqui também não tem a brincadeira de fazer um pedido no momento de cortar o bolo. Minúcias interessantes nas diferenças culturais do nosso pais grandalhão.

Mas aqui todos aguardam ansiosamente por dois momentos na hora do parabéns:
1- A resposta do "Com quem será? Com quem será? Com quem será que a Sofia vai casar????"
E na festa de ontem, no escuro do parabéns, fui surpreendida por uma resposta em coro de toda a família e amigos da menina: "É com ninguém! É com ninguém! É com niguém que a Sofia vai casar!!". Alto e forte, como se já tivessem planejado a resposta em segredo e estivessem ansiosos para revelar o combinado.
"O que eu quero? Sossego."
(Tim Maia)
Sorri sozinha.
Sofia tem mesmo este lema: não vai se casar e nem ter filhos quando crescer. Diz isso o tempo todo, gesticulando as mãozinhas morenas e dizendo de um jeito afetado e agudo:
-Deus me livre ter filhos!!! Eu quero sossego!!!!!!!!!! SOSSEGO!!!
Sim, foi-se o tempo que as fãs da Hello Kitty eram garotinhas românticas e tranquilas. Hoje são mulherzinhas estressadas que aos 7 anos já anseiam por, apenas, uma vida sossegada .



E aqui vai o outro momento esperado nos aniversários do interior de Minas Gerais:
2- A hora da criança decidir de quem vai ser o primeiro pedaço do bolo.
E ontem esta escolha foi bem estressante.
TODA a população adulta da festa era formada de parentes e todas as crianças eram priminhos ou vizinhos das casas ao lado. Eu e meus dois filhos éramos os únicos "estrangeiros" da casa. Apesar de oficialmente convidados, éramos bicos numa reunião familiar.

-O primeiro pedaço é meu!!!
-Não, é meu!
-Eu que mereço mais!!
Bom, Sofia tem duas irmãs adolescentes que encheram os balões e arrumaram a festa. Tem uma mãe fofa que fez o bolo e todas as comidas. Tem um pai ultra alegre e bem humorado que peregrinou na cidade procurando por... pães para o cachorro quente (rsrsr, vocês não tem idéia da cidade onde eu vivo!!!). Tem duas avós que largaram suas rotinas noturnas de senhoras velhas para prestigiarem a neta. Tem madrinha e padrinho. Tem tias que colaboraram com a festa: uma fez o pão de queijo, outra fez os brigadeiros e uma terceira trouxe as Hello Kittys de outra cidade para decorar as paredes (eu falo que fazer festa aqui é difícil!!!). E, por fim, tinha uma fileira de amiguinhas e primas com vestidos bem passados e lindos sorrisos banguelas. Todas ansiosas pelo posto de melhor amiga e merecedora do primeiro pedaço do bolo.
E agora??? A quem agradar? E como lidar com a frustração inevitável de todos os outros preteridos?



O clima foi tenso. Juro.
Demorou uns 5 minutos para a pequena Sofia se decidir. Nos primeiros minutos houveram gritos brincalhões do pai, das irmãs e das amigas exigindo o primeiro pedaço para si e se vangloriando de tudo o já que fizeram pela menina. Depois ouvimos as tias acalmando a aniversariante, lembrando-a que ela poderia escolher quem ela quisesse e que elas juravam que não haveria problema. Mas aí aconteceu um silêncio longo onde os olhinhos da Sofia se encheram de lágrimas. A mãe, percebendo o sofrimento da filha, iniciou um cafuné em sua nuca suada e infantil, morrendo de dó ao assistir a filha resolver, publicamente, talvez o primeiro grande dilema da sua vida.

Pronto. Meu cérebro cheio de sinapses que trabalham em momentos inapropriados já logo lembrou do filme onde uma outra Sofia tem poucos segundos para também escolher a quem agradar e a quem sacrificar. Dilema light, coisa tranquila: qual filho será levado ao campo de concentração nazista e qual será salvo junto com ela?
-Não me faça escolher. Eu não posso!!- grita Meryl Streep.
-Cale a boca, basta! Eu disse para você escolher!!! Se você não escolher eu levo os dois.
E, estranhamente, Maryl Streep entrega ao guarda uma loirinha de 3 anos que estava em seu colo (essa aí da foto), seguindo a sua viagem apenas com o filho de uns 6 anos de idade.
E a dúvida que assombrou o público na época foi: Por que ela entregou justamente a menina? Quais foram os critérios que ela usou nesta rápida tomada de decisão?
Ninguém nunca respondeu. Não há respostas para um drama desta intensidade.

E a pequena Sofia de ontem, antes mesmo de fazer 7 anos, também já aprendeu que a vida é feita de escolhas difíceis. E mais do que isso: desagradar aos outros, apesar de inevitável, é sempre dolorido e nos enche de culpa.
Bom, depois de muito pensar, Sofia finalmente fez a sua escolha:
-O primeiro pedaço vai para a Tia Cláudia.
Todos procuravam. A tal Tia Claudia era eu.

Hahahahah, eu ganhei o tal prêmio. Eu!!! A única pessoa neutra da festa inteira. A única a quem ela não precisava agradar.
Ninguém entendeu. Só eu. Minha querida Sofia honrou o nome que recebeu no dia em que nasceu, se enchendo de sabedoria ao optar por não escolher ninguém.
Privilégio que Meryl Streep não teve...

Mas hoje eu precisava contar esta história porque, ao receber a fatia do bolo de chocolate da Hello Kitty, a pequena Sofia satisfez um desejo infantil que eu, sem nunca nem desconfiar, carregava dentro de mim: ganhar o primeiro pedaço de um bolo.
A história me fez dormir feliz ontem a noite. Descobri, sorrindo na cama, que todos nós precisamos nos sentir especiais uma vez na vida e deve ser muito triste a gente passar a existência sem nunca receber o primeiro pedaço de algum bolo. Ou nunca ser homenageada. Ou nunca ser amada. De preferência em público, para que todos saibam que você é mesmo especial.


Todos os dias meu filho mais novo senta no meu colo e me pergunta: "Quem é o seu filho mais bonito? Qual filho você ama mais?". Minhas respostas são sempre vagas e bem humoradas. Finjo que não levo a sério a dúvida dele e, por ter dois filhos, pensava que eu nunca poderia responder o que ele deseja ouvir.
E o que ele quer é o primeiro pedaço do meu bolo.
Tadinho...
Mas depois de ontem, minha meta agora vai ser contar aos dois que, cada um deles é o único filho amado que eu tenho. Ah, e é o mais bonito também! Preciso afirmar isso com verdade na voz, no olhar e no coração. Sem margem para dúvidas. Ambos merecem. Ambos precisam ouvir isso de mim pelo menos uma vez na vida.
Mas como dizer isso sem que nenhum dos dois se frustre? Como resolver este dilema???
Vou ter que pedir ajuda à minha pequena e sábia amiga Sofia...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O melhor dos dois mundos





Séverine Serizy era rica, bonita, bem casada e não precisava trabalhar. Mas não era feliz e tinha sérios problemas com a sua libido ao lado do marido. Para fugir do tédio decidiu passar as tardes no bordel de Madame Anais e, desta forma, redescobriu-se como mulher. Passou a ter uma vida dupla. Durante o dia é um senhora de sociedade com um cabelo impecável e à tarde vira uma prostituta despenteada com uma verve sado-masoquista. Ninguém nunca descobriu o seu segredo e ela agora vive feliz deste jeito.

Miley Ray Stewart é uma garota órfã de mãe que tem medo de aranhas e de dentista. Frequentava a escola, tinha amigos e era uma menina bastante comum. Mas não era feliz. Aos 13 anos Miley ganhou uma guitarra do pai e se tornou, Hannah Montana, uma estrela do rock. Sua auto estima melhorou e poucas pessoas conhecem o seu segredo. Passou a ter uma vida dupla: uma adolescente normal de dia e uma celebridade à noite. E ela agora vive feliz deste jeito.

Hahahaha, Hannah Montana é a versão teen da Belle de Jour. A primeira vira uma mega celebridade depois da escola enquanto a outra decidiu ser prostituta nas horas vagas. Algumas diferenças, é verdade, mas as duas loiras falam do desejo íntimo de todos nós: se dar ao direito de ser alguém diferente.
E se completar com o melhor dos dois mundos.


Sim, apenas o melhor!! Porque Séverine continua usando Channel no dia-a dia de uma madame francesa e, na prostituição, não precisa do dinheiro para sobreviver. Faz isso apenas por prazer. Ela não convive com o lado negro da prostituição. Só o fetichista.

"Don't take out your handkerchiefs,
I don't wanna cry, I just wanna hanky panky guy."
(Madonna)

E Miley também só usufrui o lado bom das coisas. Não sofre o drama de ser uma celebridade perseguida por paparazzi porque sua identidade secreta permite que ela continue acampando com os amigos nas férias escolares. Mas quando fica entendiada da rotina imbecil de uma adolescente, dá uma escapadinha aqui e alí para alguns mega shows pirotécnicos.
Vidinha perfeita, não?

E sabem o que me deixa entusiasmada nas duas histórias? O segredo. Não deve ser tão bacana ser uma estrela e muito menos uma prostituta, mas o fato da coisa ser um segredo torna tudo mais interessante. A adrenalina do segredo atrai e eu acredito ser justamente este o motivo das duas histórias fazerem tanto sucesso junto aos seus respectivos públicos. Porque o segredo é transgressor por natureza e, sendo assim, permite que você deite e role no personagem que criou para si. Só na privacidade da vida secreta a gente pode ousar porque, né, já que temos um "caixa dois", vamos investir de acordo!!!

Mas a minha dúvida é: qual é a personalidade principal das duas loiras acima?  Será que são uma celebridade e uma prostituta brincando de serem normais? Ou vice versa? Quais serão as reais identidades de Séverine e Miley???

E todos nós temos, em uma escala menor, uma dupla personalidade, um alter ego que torna a nossa existência menos monótona. Uma moça urbana gosta de passar os finais de semana no sítio e tem um prazer sádico e primitivo ao matar e limpar um frango. Isso a consola com uma pseudo identidade secreta de uma mulher selvagem!  Uma mãe de família aproveita que os filhos estão na escola de tarde e entra sozinha num cinema europeu para fingir que é solteira, livre e intelectual. Um homem amoroso pode querer ser um pouco violento e experimentar uma personalidade mais rude. Para isso, chega em casa e toma um whisky on the rocks, mal humorado e azedo, fingindo que é o José Mayer numa novela do Maneco, hahaha (estou rindo porque acabei de falar isso com uma amiga).

Mas quais serão as reais personalidades deste povo???

Para pensar melhor sobre isso, recorro agora à terceira loira do nosso texto de hoje: A Noiva!!

Kill Bill é assim: ou você ama ou odeia, e eu sou do time que adora o filme onde a Noiva (Uma Thurman) sai pelo mundo para se vingar de Bill. No final do segundo episódio, Bill declama um longo e interessante monólogo sobre a real identidade dos heróis.
Lá vai:
Batman e Homem Aranha eram pessoas normais que se tornaram heróis por razões diferentes, mas não são super heróis por natureza. Precisam colocar uma roupa para se tornarem heróis. Na maioria do tempo são pessoas mundanas, soterrados de complexos e traumas. Peter Parker e Bruce Wayne são as reais identidades destes heróis, já que ambos precisam primeiro colocar um uniforme para, só depois, poderem salvar o mundo.
O Super Homem não!!! Sua natureza é extraordinária e ele finge ser normal. Ele acorda de manhã e... já é o Super Homem! Clark Kent é apenas um personagem que ele criou para si. O óculos, o terno, a pasta de trabalho... esta é a fantasia!!  É o oposto do drama vivido pelos heróis secundários. Super Homem precisa é tirar a fantasia de homem normal para salvar o mundo!!
No final Bill tenta convencer a loira que ela é uma matadora por natureza que apenas finge ser uma pessoa boa e civilizada. Tal qual o Super Homem, ela precisa se fantasiar de uma pessoa normal para conseguir viver num mundo medíocre.
E ela então o mata, bang!

Adoro esse exercicio de imaginar qual é a sua real identidade. Você é o que você vive ou você, na verdade, é o que deseja secretamente ser?? Qual é a verdade da sua essência e qual é o personagem criado para disfarçar os seus desejos? Qual é a faceta que o seu segredo encobre?
Uhhhh, pergunta profunda essa, hein?

Ok, ok, eu sei que existem minúcias nas personalidades e seria muito sem graça se alguém entrasse neste assunto dizendo algo mundano como: "Você não acha que temos várias facetas que não necessariamente se excluem, Claudinha?"
Blá, blá, blá... não quero ouvir falar disso! Quero passar o meu feriado imaginando as reais identidades das pessoas. Dá licença?
Hoje meu desejo é apenas olhar para os outros e pensar: será que ele é assim mesmo ou está apenas vivendo um personagem?  Será que ele é um caipira tentando ser urbano e respeitável? Será que ela é uma mulher de malandro nas horas vagas??

Afinal, é Carnaval! E as fantasias estão por aí...
Mas veja bem: seja qual for a identidade escolhida, siga o conselho de Hannah Montana e viva apenas o melhor dos dois mundos, ok?
Essa coisa de ter problemas com a fantasia é tãããão vergonhoso e humilhante!!!


Se tiverem tempo dêem uma olhada no tal monólogo porque vale a pena. Adoro quando ele dá uma pausa e fala para a Noiva: pode tirar o dardo da sua coxa!! rsrsr, Tarantino rocks!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Saindo das fraldas!!


Hoje o Brasilicus faz 1 ano!


E o que eu posso dizer sobre ele é que ele é um garotinho esperto e tem personalidade forte. É sociável, tagarela e a cada semana as visitas são mais abundantes. Aumentaram 130% desde o último balanço. Detalhe: mesmo quando não posto nada por 15 dias seguidos!
Eu abandono o blog e o menino se vira sozinho. Recebe os visitantes, recolhe comentários e aparece em cada vez mais sites (de gente que eu não conheço) que divulgam o trabalho que vem sendo feito aqui.
Legal isso!
Ele já tem parcerias próprias, frequenta lugares novos e é muito querido por lá.
É o relações públicas da nossa dupla para eu poder ser caipira em paz. Não divulgo em nenhum espaço além da minha humilde página do Facebook. Já me falaram para ter Twitter, mas tenho certeza que vou me irritar com ele.

E tem uma coisa que preciso dizer. Sabe qual tem sido a minha leitura noturna deste mês? O Brasilicus. E acredita que eu ainda me pego rindo de alguma coisa por aqui?
Comecei a reler meus próprios textos depois que uma amiga ressurgiu na minha vida há pouco tempo. Ela disse que quando soube que eu tinha um blog sentou e leu ele inteiro numa noite só, do primeiro até o útlimo post. Acho que foi a única pessoa que fez isso até hoje! Ela contou que teve a impreesão de ler um livro.

Fiquei então curiosa em saber qual seria a sensação de ler o meu blog do começo ao fim e resolvi fazer o mesmo.
E, gozado, ao contrário do que sempre acontece quando revejo um trabalho feito por mim, dessa vez eu gostei do que li. Preciso dizer também que ADORO as fotos que acompanham os textos. Ao ver cada uma delas eu me lembro da alegria que senti ao encontrá-las e, por isso, elas ainda me fazem rir bastante. Agradeço ao povo que deixa as imagens de lambuja no Google para eu poder usá-las (ilegalmente, é verdade).

Gostei de reler o blog porque, além do meu próprio conteúdo textual, percebo que o Brasilicus passou a ter vida própria, fazendo graça e tendo insights independentemente da minha vontade. Existem formações inusitadas aqui neste espaço. Coincidências gozadinhas que só percebi quando olhei para ele com este distanciamento.
Só assim pude ver que o drama feminino no caixa eletrônico foi ilustrado duas vezes :

Velhas no post "Quizz de Vênus"

Mijona do antigo post "Zona de Desconforto" 














E que no post dos Mários o Brasilicus colocou uma frase exatamente abaixo de uma outra para criar mais uma polêmica para a nossa coleção:
"O oposto de dor é prazer. O oposto de alegria é tristeza. O oposto de felicidade é ateísmo" (Mário de Andrade)
"Só um idiota pode ser totalmente feliz" (Mário Vargas Llosa)

Captou???
Seguindo a lógica do pensamento acidentalmente construido, só um idiota pode ser totalmente religioso e, portanto, questionar os dogmas é sinal de inteligência.
Mas essa verdade existe, veja bem, apenas se ambos os Mários estiverem certos. Se algum dos dois falou bobagem, os pilares da dialética se desfazem.
Incrível as frases estarem juntas (talvez pela primeira vez na vida) e a complementaridade delas ter passado despercebida pelos leitores. Ufa, ainda bem que existe eu aqui para decodificar as malandragens do Brasilicus com meus óculos 3D.

Porém, o triste de ler o blog novamente é perceber que os textos que ficaram para trás não são mais acessados. Apesar de ainda atuais, eles hoje estão com cara de obsoletos num mundo que clama por atualizações e novidades.
Por isso fiquei com uma vontade danada de transformar este primeiro ano de blog em um livro. As páginas iniciais de um livro não são mais antigas que as páginas finais. Todas parecem igualmente frescas e interessantes ao olhos do leitor. Pensei em dividir o blog por assuntos e transformar cada assunto em um capítulo. Não ia ser legal?
Pena que as fotos não poderão migrar para um livro... e nem os vídeos. Será uma perda lamentável!!
Vou usar a grana do Pag-Seguro para abrir uma poupança no caso do meu menino querer ser alguém na vida. Quem sabe um dia ele conseguirá sair do mundo virtual e virar... papel.

Ao relê-lo também gostei de ver como assuntos sérios e importantes podem ser tratados de forma bem humorada.
E viva as piadinhas e as mulheres peladas!!!
Pouca gente sabe, mas só inventei de ter um blog para me livrar do peso insuportável de assuntos pessoais graves que prejudicavam a minha vida há exatos 12 meses. E a escrita me salvou neste momento, apesar de eu nunca ter sentido a necessidade de mencionar os tais problemas em nenhum dos textos.
Era apenas uma maneira criativa e terapêutica de lidar com a densidade da vida. Um válvula de escape na minha busca rumo à insustentável leveza do ser, título do primeiro post aqui.

Por isso poucos textos são sérios e apenas alguns contém informações realmente técnicas. Entretanto, todos falam de assuntos importantes e muita gente me conta que passou a pensar diferente depois de ler o blog. Tenho orgulho ao ficar sabendo de pessoas cultas e inteligentes que gastam o seu tempo lendo meus textos. Mas, mais do que isso, me sinto feliz ao saber que tenho entre meus leitores fiéis pessoas que já me confessaram que nunca leram um livro na vida e, no entanto, lêem o Brasilicus todos os dias. Prender a atenção deste público é motivo de honra para mim.

Obrigada pelo prestígio, pelos comentários, pelos elogios e, principalmente, por eu ter me sentido ouvida e acompanhada neste ano que passou.
E vamo que vamo!!!


-Happy Birthday, Mr. President!!!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Delícia...

"Meu vício é você. Meu cigarro é você. Eu te bebo eu te fumo. Meu erro maior eu aceito e assumo:
por mais que eu não queira eu só quero você..."

(Alcione)



-Claudinha, você parece ser uma pessoa tão culta!! Gostar de música brega não combina muito com você.
Ouvi isso certa vez. Agradeci o elogio, claro, mas tive que explicar o porquê das pessoas, mesmo chiques e evoluidas, precisarem gostar de músicas cafonas. Não é o caso de ter ou não um bom gosto musical. É uma questão de sobrevivência! Precisamos alimentar nosso lado carnal e cheio de hormônios para continuarmos nos reproduzindo e perpetuando a espécie. E isso é uma coisa que, infelizmente, as músicas elegantes não conseguem fazer por nós com suas metáforas poéticas e abstrações filosóficas.

Ontem ouvi com calma a música polêmica do tal Michel Teló e pensei que o adjetivo "delícia" é, com certeza, o mais animador para conquistar uma moça. Pelo menos uma moça como eu.
a) Oi princesa.
b) Oi querida.
c) Oi lindinha.
d) Oi delícia.
e) Oi chuchu.
"Delícia" ganha disparado no meu julgamento e tenho certeza que a música recebeu fama por causa disso. Delícia dá a sensação de sermos apetitosas e cobiçadas, e isso é algo bem legal.



"Como um bom-bocado pra te devorar
Dim dim dim dim, dim, dim, dim.
Como um brigadeiro pra te lambuzar
Dim dim dim dim, dim, dim, dim.
Boto a mão no bolo prá comemorar.
Prá te comemorar, prá te comemorar.
Danço o miudinho pra te conquistar
Dim dim dim dim, dim, dim, dim."
(Art Popular)


Semana passada uma moça me contou que estava com raiva do ex namorado que a abandonou. Ela jurou que infernizaria a vida dele até o coitado voltar. Mas o engraçado é que ela não queria o cara de volta para sempre. Não!! No fundo sabia que ele não valia mesmo a pena. Queria ele por apenas mais uma noite...
E isso eu ouvi também há alguns meses. Uma amiga querida ligou para o ex e disse:
-Você pensa que pode ir embora assim, sem ficar comigo pela última vez? Nada disso, volta aqui e faz mais uma vez comigo.
Juro.

Conclusão: necessitar de uma despedida em grande estilo é uma carência universal. Atinge a todos nós, igualmente. O inconsciente coletivo exige que você peça uma última transa, mas nossa mãe não nos educou para implorar por sexo. Ainda mais para um cara que já disse que não te quer.
O que fazer então?
Ataque de Zezé de Camargo e Luciano e mande um email para o cara com o link abaixo.
Simples assim.

Acredito que a nossa alma primitiva não está preparada para decodificar signos confusos encontrados nas letras rebuscadas. Na hora do desespero precisamos mesmo da obviedade do concreto. E, com palavras claras e óbvias, os detalhes sexuais que habitam as músicas cafonas dão uma sacudida naquela líbido que adormeceu em algum ponto entre o trabalho e os filhos:
"Quem dera ser um peixe para em teu límpido aquário mergulhar, fazer borbulhas de amor prá te encantar. Passar a noite em claro, DENTRO de ti." (Fagner)
"E quando SAI de mim, leva meu coração. Você é fogo, eu sou paixão." (Wando)
"Vem depressa vem sem fim DENTRO de mim, que eu quero sentir o seu corpo pesando sobre o meu." (Marisa Monte, sim ela também sabe ser beeeem cafona )

Percebeu o abalo que o "entra e sai" da história faz dentro e fora do seu corpo civilizado? Pois é. Um mal necessário que só as pessoas com pouco senso crítico e muitos hormônios borbulhantes podem fazer por você. Obrigada, querido Wando!

Um dia me disseram que não há como respeitar uma música que tem na letra a palavra... xodó.
"Que falta eu sinto de um bem. Que falta me faz um xodó." (Dominguinhos)
Mas que culpa tem os chiques se também sentem falta de um xodó e também, invariavelmente, arranjam apelidos fofos para nomear o ser amado? Desculpem, mas o nome correto da coisa é mesmo "xodó" e não devemos lutar contra isso. Portanto, acho que aceitar o ridículo da coisa e se submeter à tristeza pela falta do tal xodó é mesmo o melhor remédio.

E isso porque ainda não falei na dor de corno insuportável e crônica. Ninguém fala disso melhor do que o universo sertanejo, e se sentir compreendido e traduzido é mesmo uma delícia no momento de sofrimento. Bom demais saber que alguém já se sentiu igualmente bobo e pequeno, apelando para a perda total de amor próprio na esperança de ter a pessoa de volta.
"Vive inventando paixões prá fugir da saudade, mas depois da cama a realidade: é só a sua ausência doendo demaaaaaaaaaaaaaaaaaaais. Dá um vazio no peito uma coisa ruim o meu corpo querendo o seu corpo em mim." (Fafá de Belém)
"Eu juro por mim mesmo, por Deus, por meus pais. Vou te amar!!!" (Chitãozinho e Xororó)
"Chega de mentira, de negar os meus desejos. Eu te quero mais que tudo, ai, eu preciso dos seus beijos. Eu entrego a minha vida prá você fazer o que quiser de mim." (César Menotti e Fabiano)

E a vergonha de se humilhar ligando para falar... nada? Quem nunca passou por isso? E o pior é que hoje, com o tal BINA dos celulares, nem dá prá desligar na cara e passar impune ao mega mico.

"Mesmo os meus dedos me traem e discam o seu telefone"
 (Bruno e Marrone)


E hoje morreu Whitney Houston. Sou uma pessoa conhecida por não apreciar cantoras que gritam, mas reconheço que é um mal necessário para exorcizar a dor de amor. Moças elegantes que cantam contidamente não convencem a nossa necessidade passional. Não encarnam com maestria o desejo de cortar os pulsos. Mas Whitney era a nossa porta voz do desepero e fará falta nas madrugadas das rádios de todo o mundo.

Mas agora quero falar algo muito importante. Atenção!
Não tente se convencer que gostar de música cafona é excêntrico e até um pouco naif. Não faça isso! Não enquadre a música como um charme a mais que uma pessoa culta e chique deve ter. Tipo um "Lado B" fofo e bem humorado.
Não deveríamos encarar a música popularesca como uma categoria "café com leite" que não merece muito crédito.
Isso é um desrespeito aos coitados que se sujeitaram, se humilharam e deram a cara à tapa apenas para dar voz ao seu sofrimentozinho cafona e inevitável. Não respeito gente que coloca a música romântica como uma subcategoria.
Portanto, vista a camisa e não desperdice a chance de reconhecer-se no clima criado pelo "abajur cor de carne", no perigo de ter o cara perto dos olhos mas longe do coração, e nas lágrimas e chuva que molham o vidro da janela enquanto ninguém te vê.
Tudo isso é você, ouviu? E não necessariamente é o seu lado pior.

E antes que ela morra também, preciso agora homenagear Toni Braxton com sua música bonita no clipe com um cara bonitão.


Say you love me again!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ufa, pronto, acabei.



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Caça às bruxas





Georges Simenon, mestre belga dos romances policiais, tem uma frase sábia que ele sempre lança diante de um impasse criminal:
-Cherchez la femme.
Que significa: Procure a mulher.
E ela vale para tudo:
Um homem se suicidou? Cherchez la femme.
Um executivo assassinou o sócio e fugiu? Cherchez la femme.
Tipo uma "caça às bruxas" noir.
Uma frase bastante machista, mas não menos verdadeira. Sempre há uma mulher por trás de um acontecimento ruim. Nas grandes guerras, nos escândalos políticos... cherchez la femme!!!


-Os Beatles terminaram?

Repare nas últimas fofocas das pessoas da sua própria convivência e veja se não é verdade. Remexe daqui, investiga dali e a gente chega na tal mulher. Se não fosse por ela, com certeza nada de mal teria acontecido ao mundo.
E Adão já sabia disso...

-Elementar, meu caro Freud...
Em toda história precisa mesmo haver um Judas, ou um mordomo.
Tipo o pai da Luluzinha que sempre era o culpado. Bolinha, fantasiado de Investigador Aranha, já adiantava que o pai da Lulu era o responsável pelo sumiço de tudo. E nunca errava. A amiga ficava brava, ofendida, esperneava, mas não tinha jeito. No fim da história o pai dela era mesmo o culpado e a família ficava sempre envergonhada.
Na psicanálise também é assim. Os pais são os únicos culpados pelos sintomas e ponto final. Nem sei prá quê gastar tanto tempo com investigações para, depois anos, concluirem o óbvio.
O sábio Aranha já poderia prever logo de cara a responsabilidade pelas neuroses e traumas.




Bom, e hoje eu descobri que aqui em casa também tem um culpado por tudo que tem acontecido de errado: o Facebook.
A panela de feijão queimou? Cherchez Facebook.
O casal passou a noite brigando? Cherchez Facebook
As crianças precisam de mais atenção? Cherchez Facebook
Estou engordando? Cherchez Facebook

E por aí vai. O brinquedinho é de graça (e conforme prometem no momento da inscrição: sempre será) mas tem um preço a ser pago. E é salgado.

Certa vez vi na Oprah um neurologista dizendo que não devemos fazer muitas tarefas ao mesmo tempo porque o cérebro humano não está preparado para isso. O foco da atenção fica alterando o tempo todo causando estresse e fadiga neurológica.  O programa mostrava mulheres que estavam demasiadamente atarefadas e não perceberam os filhos... morrendo em casa  num acidente doméstico qualquer.
Triste demais.

O Facebook nos obriga a cuidar de muitas coisas simultaneamente e também pode causar estresse e fadiga. Sentar para um chat (rapidinho!) enquanto cozinhamos o almoço, encontrar gente enterrada quando estamos felizes e comprometidos, jogar jogos viciantes enquanto tentamos corrigir a tarefa de casa da molecada e focar em bobagens quando tentamos cuidar da vida.
E isso, definitivamente, não é bom para o cérebro. Nem para a nossa paz.

Tudo culpa do Facebook que, cruelmente, invadiu a minha vida e a minha privacidade.
"Shame on you!"
Queime no fogo do inferno!!!


Bom, é claro que os Beatles romperam por causa de mil problemas internos, mas é ótimo definir uma culpada pela tragédia. E posso falar mais: se não fosse pela Yoko, talvez John estivesse vivo, hahaha! Claro que Judas é um pobre coitado sem botas. E é claro que o pai da Luluzinha é um bobão que só pega coisas que estavam no caminho, mas é uma delícia apontar o dedo para o careca no fim da história.
Óbvio também que o Face não tem culpa de nada e o laptop não liga sozinho na minha cara a todo momento, mas prefiro acreditar que ele é que é o vilão que tem me causado tragédias enormes.

Esta semana apertei o botão "excluir conta" e fui dormir. Não dói e é bem fácil! E foi tão bom acordar no dia seguinte sem o Face! Tão bom saber que não tinha nada me esperando, ninguém aguardando a minha resposta e ninguém me contando algo que eu não preciso saber!
Na mesma tarde refiz a bendita conta.
O criminoso pagou a finança e foi liberado.

"They tried to make me go to rehab
But I said 'no, no, no'"

 (Amy)

Putz, como escrevi o post I want you! tenho uma reputação a zelar e, além do mais, não posso me excluir da vida. Mas, desde o dia que saí do Facebook por algumas horas, olho para ele com um certo desprezo e estou feliz da vida sem acessar a coisa toda vez que passo pela mesa do computador.

Mas agora vou ter que encontrar um outro culpado pelos problemas... ai, ai... já sei! Acho que vou culpar meus pais. Elementar meu caro Freud!
Não dói e é bem fácil.


PS: não custa nada dizer que a minha banalização da psicanálise é brincadeira, tá?