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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Criação



Já faz mais de um ano que eu quero escrever aqui no blog sobre adoção, mas o que eu desejava escrever ia causar polêmica.
E eu ia dizer que acredito que, estatisticamente, as crianças adotadas dão mais trabalho do que as outras.
Quando eu falo "estatisticamente" é porque tem umas que não dão trabalho nenhum, e, por outro lado, têm filhos biológicos que dão um trabalho do caramba. Mas é fato de que existe uma grande incidência de crianças adotadas sendo atendidas por psicólogos mundo afora.

Uhhhhhh, que polêmica!! Todo mundo, no fundo, sabe dessa história, mas ninguém ousa dizer porque é demasiadamente incorreto.

Não escrevi sobre a minha constatação porque iam tecer comentários revoltados e eu não teria embasamento teórico nenhum para explicar o meu ponto de vista. Não existem pesquisas consistentes explicando o porquê dessa alta incidência de abacaxis psíquicos entre as crianças adotadas. Alguns psiquiatras e psicanalistas já teceram hipóteses sobre o mistério (a maldição da genética desconhecida; o "filho que eu quis ter para ser uma boa pessoa, mas no fundo eu não desejava"; o não reconhecimento familiar na criança adotada), mas ninguém nunca chegou a certezas. Gustavo Ioschpe deveria passar uns anos estudando o assunto e montando planilhas para, finalmente, desmistificar a adoção.

Bom, com tudo isso, o povo anda com medo de adotar. O que é estranho, porque a adoção existe desde que o mundo é mundo, e não só entre os humanos, mas em toda a natureza. Animais adotam, as plantas adotam!! Soa como algo instintivo e natural. E as crias adotadas não costumavam dar trabalho, mas, ultimamente, criou-se uma praga chamada "tabu" e aí a adoção, antes óbvia, virou um drama.

Mas hoje eu estou escrevendo aqui porque descobri algo incrível. Prestem bastante atenção. Ninguém tem que adotar. Quem quiser um filho em casa simplesmente "pega prá criar".
A diferença? Muita! Vou explicar:




Stuart foi adotado. Vivia num orfanato, mas foi escolhido por uma família que o desejava e, juntos, passaram por toda a burocracia do processo. Aí o povo passou a dizer que agora ele era um membro da família Little. O menino de óculos dizia que não, que ele era um rato, e que ele queria um irmão "normal", mas os pais ficavam bravos e dizia que ele era, sim, um menino igualzinho a ele.
E o filme, que deveria ser fofo, para mim chega a ser macabro e triste.Vocês não percebiam algo esquizofrenizante na família Little?? O sorriso da Geena Davis não os assutava? Uma alegria forçada, uma negação absurda...
Pois é. Já atendi muitas famílias de crianças adotadas exatamente assim. Uma negação total da realidade. E a minha hipótese é que esse jogo de enganação é prejudicial à criança: "eu finjo que sou sua mãe e você finge que é meu filho". E ninguém nunca, jamais, poderá dizer que o rei está nú.
Adotar uma criança desta forma é realmente um problemão.

Mas aqui vai a solução: uma sabedoria dos antigos resolve todo o problema. Tira o medo dos pais desejosos de um filho e dá um lar às milhares de crianças abandonadas.
Antigamente existia algo bem mais simples do que a adoção. Antigamente, como os bichos, você "pegava prá criar".
-Que lindos! Gêmeos! São seus filhos?
-Não, peguei prá criar.

Muitas pessoas acima de 50 ou 60 anos tem irmãos de criação que, vejam bem: "moravam na nossa casa, mas NÃO ERAM nossos irmãos." 
A mãe passeava com a criança de 5 anos a tiracolo e o povo perguntava:
-Que menina bonita. É a sua filha?
E a resposta era algo do tipo:
-Não, não é minha filha, eu peguei prá criar. O pai bebia, matou a mãe, e ela ficou sendo criada por uma irmãzinha de 8 anos, mas que não tinha juízo. Comia toda a papinha da neném e deixava a menina chorando de fome. Aí eu levei prá casa. Era só pele e osso e nem sorria. Em um mês ela engordou dois quilos, tadinha. É muito boazinha, já ajuda em casa e até me chama de mãe.

Preto no branco. Simples assim.
E tem gente que ainda não sabe como contar para o filho que ele é adotado!! Pffffff.

E a criança crescia na família sabendo de cor e salteado a sua origem, a sua história, e sabendo bem a diferença entre ela e os resto dos irmãos.
E... tudo bem!! Costumo perceber que, na grande maioria das vezes, só existe gratidão, respeito e amor nessas relações. Conheço muita gente que tem irmãos de criação e sempre deixam bem claro a diferença: "Olha Claudia, deixa eu te apresentar: essa é a minha irmã de criação. Mamãe pegou ela com 3 anos e ela viveu lá em casa até casar. Mas a gente gosta dela igual." 
Aqui na roça isso é muito comum e não vem acompanhado de sofrimento algum. Muito comum o povo antigo falar: tive 5 filhos e criei outros 2.

E, dentro desta minha teoria maluca, a diferença é:

  • Quando uma criança é adotada ela é considerada filho, mas age como se não fosse.
  • Quando uma criança é "pega prá criar" ela não é considerada filho, mas age como se fosse.

Sim, eu sei que a raça humana burocratizou a coisa e, hoje em dia, existe uma instituição chamada Fórum que traz instrumentos de pressão e cobrança chamados: Assistência Social, tutor legal, guarda provisória e guarda definitiva. E sei que isso estressa prá caramba! Mas encare a criança como se você estivesse, amorosamente, "pegando prá criar" e não se preocupe com a papelada burocrática. 
Só assine.
Fica mais fácil, mais óbvio e mais natural. Como o Balú! 



-Puxa Balú que bonitinho!
-Pois é. Achei por aí. Peguei prá criar e c
ortei o cabelinho chanel. O que você achou?

-É seu menino?
-Não, o tigre atacou os pais dele e eu peguei prá criar. O coração da mãe saiu prá fora ainda pulsando. O pai viu tudo e depois foi morto também. Era tanta unhada que nem dava mais prá saber o que era cabeça e o que era pé. Foi tanto sangue que dava prá encher um rio. Bom, mas ele é bonzinho e sorri o dia todo.


-Uau, Jane, já nasceu?
-Não, seu bobo, essa aqui eu peguei prá criar.



-Linda família, Sr. Tanner. Este peludo também é seu filho?
-Não, a gente pegou prá criar.
-Mas... mas... o nariz dele é A CARA do seu pênis!
-Hahaha, nossa querido, é mesmo!!! Vamos pedir um DNA. 

domingo, 24 de junho de 2012

Picanha


Um dia uma amiga me confessou algo incrível. Ela contou que, quando tem um orgasmo, acontece com ela uma coisa.... incrível. Inacreditável. Surreal.
E eu, que pensava conhecer muita coisa sobre o assunto, fiquei bem impressionada:
-Como assim?????? Que coisa mais estranha do mundo! Poxa vida, mas me diz: o que é que o fulano acha disso?
O "Fulano" era namorado dela há um ano, e com quem ela gostava muito de fazer sexo. E a resposta foi:
-Ah, ele não sabe. Eu nunca gozei com ele.
-Ah tá.

ISSO não me surpreendeu. Normal. Orgasmos femininos não pipocam por aí com frequência. As estatísticas contam que são artigos... raros? Não, não raros, mas bastante particulares e, por isso, não podem ser medidos em termos de normalidade.
Orgasmos são como cólicas menstruais: tem gente que tem sempre, tem gente que não tem nunca, tem gente que tem dez vez em quando e tem gente que finge ter.
Hahah, as meninas da minha escola sempre fingiam cólicas menstruais para ficarem sentadas na aula de Educação Física. Ninguém podia contestar e o professor tinha que ficar bem quieto porque, né, elas estavam com... cóóóóóólicas!!!! Pobrezinhas. E as cólicas fingidas davam a elas um charme danado. As meninas peitudas e gostosas da "gangue da cólica" tinham status no grupo das meninas magricelas como eu, numa época em que ficar menstruada era sinal de maturidade.

Bom, orgasmos femininos são como as tais cólicas: imprevisíveis e pessoais.
Mas com essa história de fingir orgasmos, amplamente divulgada na mídia e nos papos de botequim, aconteceu algo cruel com os homens e as mulheres. Os homens, tadinhos, agora acreditam que todas fingem e ficam inseguros com a parceira. Sim, porque se ela finge orgasmo pode também fingir outras coisas mais sérias. Mas.... o que existe de mais sérios do que fingir um orgasmo???? Fingir... amor? Ah, bobagem.
Por outro lado, as mulheres não podem mais ter uma relação sexual bacana (sem orgasmo) que já acham que podem ter encenado em algum momento.
Hahaha, juro. Já ouvi esse drama.
-Não gozei, mas foi tãããão legal que acho que eu devo ter dado a impressão de ter gozado. Será que ele vai ficar bravo porque eu dei a impressão de que gozei quando na verdade estava só curtindo o momento? Ou será que, pior: ele realmente acha que gozei? Merda, será que eu dei essa sensação? Ó meu deus, será que sou uma fingidora enrustida??? Será que sou como... MEG RYAN???


Odeio a tradução do "Get out of here": Vai dar uma volta???
E uma curiosidade inútil: a senhora que pede ao garçom "o que ela comeu" não é uma atriz, é a mãe do diretor. Haha, o diretor deve ter falado: "Mamãe, a senhora quer assistir a uma cena bem divertida e ver algo que você, provavelmente, nunca viu antes?" 
E a velha deve ter dito: "Ah, pode ser. Já lavei roupa hoje cedo mesmo."


As mulheres que fingem orgasmo só querem dar a impressão de serem boas de cama. E as que tem orgasmos naturais, rápidos e fáceis dão aos homens a certeza absoluta de que são.
Mas o que elas nem imaginam é que, por mais incrível que pareça, isso pode ser muuuuito desanimador para eles.
Minha teoria é de que homens não gostam de mulheres gratuitamente fogosas. Eles é que tem que atiçar o fogo! E se o fogo não for atiçado tão fácil, aí é que eles gostam mesmo porque o desafio finalmente está lançado.
Homens gostam de desafio e é por isso que o truco e o pôquer são tão populares nas bandas de lá.

Já viu o prazer que um homem sente ao acender a brasa de uma churrasqueira? Organiza o carvão com engenharia, assopra, põe gel, bota papel enrolado de um jeito especial, joga álcool, querosene, abana (de cima prá baixo para não subir fuligem, ângulo de 70 graus!) e já vi muitos ligarem até ventilador para ajudar na oxigenação da brasa. E se for um carvão manhoso, desses que não se entregam fácil, aí que é que eles gostam mesmo.
E depois, quando a chama fica alta e bonita, eles olham todo orgulhosos para a platéia e dizem: "Ninguém acende um fogo como eu!".

Saber acender o fogo é importante para os homens.

Um dia cheguei mais cedo num churrasco e a molecada começou a ficar com fome, mas não tinha nenhum homem no recinto, já que eles ainda nem tinham acordado. Eu olhei para uma amiga que estava lá e disse:
-A gente podia acender o fogo e ir assando umas linguiças para as crianças. 

Sim, porque um picanha eu nunca ousaria colocar na brasa!!! Seria muita petulância de uma mulher acreditar que dá conta de assar uma picanha. E se eu não colocasse a quantidade certa de sal grosso? Ou, melhor, e se eu não sacudisse a carne do jeito certo e não tirasse o sal grosso suficientemente antes de pôr na brasa? Iria desidratar a picanha e ainda salgar a bichinha. E se eu colocasse ela no andar errado da grelha? E se eu (ai meu deus!!!) fatiasse a carne no sentido das fibras ao invés de cortar translongitudinalmente???? Minha amiga olhou para mim com cara de transgressora e disse:
- Seráááá? Será que damos conta de acender o fogo sozinhas? Ah, vamos tentar, vai! Não deve ser tão difícil!
Eu desanimei:
-Não. Acho que eles ficarão ofendidos. Melhor esperar. Soca pão com vinagrete na criançada.



O homem é que tem que acender o fogo do churrasco.Tá na Bíblia.
Churrasqueira com acendedor automático é obra do demônio, certeza. Ou de alguma feminista, porque o acendedor automático de churrasqueiras modernas abala por demais a autoconfiança masculina.

E para acender o nosso fogo também. Tem que ser eles. Eles precisam demonstrar todo o conhecimento no assunto e ter a certeza de que acenderam uma chama respeitável. Precisam organizar tudo com engenharia, assoprar, pôr gel, achar o ângulo de 70 graus e ligar o ventilador.
E depois quando a chama está alta e bonita, eles primeiro cuidam da picanha para, só no fim, colocar a linguiça. Picanhas são lentas e delicadas. Picanhas precisam de ciência e cuidados. Linguiças não, linguiças já vem perfeitinhas lá da fábrica. Funcionam bem e assam rapidinho.

Hahaha, meu deus quanta metáfora!
Bom, resumindo: moça com fogo naturalmente aceso não tem graça. Obra do demônio. Ou de alguma feminista que acha que a mulher pode que ser dona do próprio prazer.
Bah.



PS: se o grifo branco continuar aqui, não liguem, ok? São irrelevantes e agem contra a minha vontade. Não saem nem por decreto. Vamos ignorá-los para ver se eles voltam para o lugar de onde nunca deviam ter saído.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Obrigar? Brigas?? -Obrigada, Brigadeiro!


Essa sou eu, aos 9 anos, servindo panquecas
que eu mesma fiz num café da manhã qualquer.

Um post anterior me fez pensar em muita coisa sobre o encontro entre a psicologia e a culinária.
Muitos filmes já falaram sobre isso: "A Festa de Babette", "Como água para chocolate" e outras dezenas de produções sobre chefs de cozinha.
É senso comum dizer que comer traz alegria e que cozinhar é um ato amoroso.
No tal post anterior falei ainda do apetite para comida refletir também o apetite sexual.
Pffff... grande coisa.




Os filmes acima também já concluiram a mesmíssima coisa. "Nove semanas e meia de amor" explicou a todos o importante passo a passo, e os morangos com champanhe de "Uma linda mulher" arrematou a aula.
Ok, todos nós entendemos a lição.
Mas eu precisava voltar aqui para dizer o quão importante é para uma criança aprender a fazer o seu próprio alimento.

Não acredito em psicoterapia infantil sem fogão no consultório. Sempre tive este apetrecho na minha sala de atendimento mesmo sem nunca conseguir teorizar a importância da comida no processo terapêutico. Alimentava meus pequenos pacientes por intuição e, por isso, era de vez em quando mal vista pelos outros colegas. Soava bobo e sem propósito. Eu até poderia "alimentá-los" simbolicamente com o meu afeto, mas... no concreto? Com comida de verdade? Parecia que não havia mesmo essa necessidade.
Cozinhar com pacientes não tem nada a ver com as teorias que emabasam a psicologia.
Mas um dia veio a explicação.

Eu estava fazendo uma formação em terapia familiar e precisávamos passar um final de semana mergulhados nas emoções e lembranças das nossas próprias famílias. Uma dinâmica chamada "Família de Origem do Terapeuta".
Depois de muitas coisas incríveis, ditas e ouvidas num ambiente como aquele, foi marcado um segundo encontro onde todos deveriam levar um prato de comida que fosse o símbolo da família de cada um.
Foi uma festa!
Um levou o frango com farofa da madrinha, outra levou o bolo de fubá da mãe, uma levou a sangria com açúcar da avó italiana servia aos netos no domingo... muitos quitutes carregados de histórias e boas lembranças.
E houve também, claro, o lamento de muitas receitas terem sido perdidas com a morte de quem as fazia. Triste mesmo.





Eu? Eu levei brigadeiro que eu apendi a fazer com 8 anos de idade e todos ficaram com dó de mim. Nem sei porquê! O brigadeiro foi a comida mais significativa da minha infãncia.
O meu leite materno.



Não, eu não tive uma família desprovida de afeto na cozinha e nem fiquei fora dos almoços de domingo. Nada disso! Eu era até bastante amada e minha família sempre foi bem normal. Com uma pequena diferença: eu não gostava das comidas oferecidas pelos adultos.
Nadica de nada.
A razão? Nenhuma. Pura recusa.

E assim fui crescendo: anêmica, magra e inapetente.
Parecia que a coisa seria assim para sempre quando surgiu uma descoberta maravilhosa que mudou o rumo da minha vida para sempre: posso fazer o meu próprio alimento e não dependo daquilo que os outros me oferecem.
Isso pode soar bobo e irrelevante para alguns, mas quando temos poucos anos de idade e estamos totalmente submetidos ao cardápio criado por aqueles que cuidam de nós, isso parece uma linda luz no fim do túnel.


Somos passivos na infância e, qualquer recusa em aceitar a dieta imposta, costuma ser mal recebida e vista como rejeição. E rejeitar o alimento que a sua mãe te oferece abala por demais a auto estima dela. E a nossa.
Negar o peito é um desaforo enorme na relação de uma mãe com o filho! E negar o arroz com cebola... também.
E aí a birra e a implicância se tornam, então, recíprocas.

Se somos seletivos com os alimentos somos taxadas de crianças enjoadas. Se reclamamos da nata no leite, somos frescos. Se recusamos o arroz manchado de beterraba irritamos os adultos na mesa.
-Não gosto da casquinha do feijão, não como biscoitos quebrados, não gosto de cenoura cozida. Só crua!!

Não é fácil ser criança e ter que nos submetermos ao paladar e à cultura gastronômica dos pais, e lutar por uma autonomia gastronômica é uma tarefa difícil quando se é criança.
Mas aí eu cresci e percebi que posso ser dona do meu próprio cardápio. E inaugurar o festival com... brigadeiro me parecia um belo começo.

-Uhuuu! Sou auto suficiente! Posso me alimentar do meu jeito! Vou comer brigadeiro até morrer.
Depois desta importante descoberta na vida de uma criança, a mágica da culinária se reflete na alma e toda a transformação psíquica acontece: alimentar-se sozinha, escolher o próprio cardápio, assar um pão para a família, fazer uma sobremesa para os pais... tudo isso tem bastante significado dentro de um processo terapêutico. E o seu desenrolar é lindo e sempre rico.

A culinária desencadeia uma transformação alquímica das emoções, e a psicoterapia com crianças então deslancha.
-Bon appétit!!!
Quando começamos a cozinhar para nós mesmos percebemos que somos independentes e que a nossa sobrevivência está garantida.

Quando cozinhamos para os nossos pais podemos então inverter os papéis e alimentá-los do nosso jeito. Com os nossos temperos.

E isso é muito enriquecedor para uma criança.

Mas agora fica a pergunta: qual seria a comida mais significativa da família de vocês?? Qual comida marcou mais a sua infância?
Pense em uma e me conte.
-

terça-feira, 19 de junho de 2012

A sombra sonora

Inferno astral.
Esta semana será meu aniversário e, como sou uma pessoa normal, todos os anos entro em pânico ao perceber que não fiz nada do que deveria ter feito.
Como, meu Deus, como pude me esquecer???
E, com isso, mais um ano se passou.
Ó céus!!!!
Ontem falei que a vida é só deitar no chão e tomar Sol. Respirar e se sentir parte do universo.
Mas eu estava mentindo, tá? Era pura filosofia barata.
A vida é ter dinheiro no banco, plano de saúde, carros em perfeito estado, ter casa própria, pensar no futuro, e garantir uma herança para os filhos.
Ah, e ser bonita e feliz.


Sim, eu sei que:
Eu devia estar contente 
porque estou com o peso ideal para a minha altura
sou uma mulher saudável, cheia de vida 
apesar de ter um doença séééééééria.
Eu devia agradecer ao Senhor
por ter tido sucesso na vida como mãe
eu devia estar feliz por ter marido, pais, amigos 
e pessoas que me aaaaamam.
Eu devia estar alegre e satisfeita por morar numa cidade tranquila
depois de ter passado apuro por muitos anos
nas metrópoles violeeeeeeeeeeentas.
Ah, eu devia estar sorrindo e orgulhosa por ter talento em várias áreas
mas eu acho isso uma grande piada
e um tanto quanto perigoooooooosa.
Eu devia estar feliz por ter diminuido a minha barriga
mas confesso abestalhada que estou decepciiiiiiiiionada.
Porque foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto: "e daí?"
eu tenho uma porção de coisas grandes prá conquistar 
e eu não posso ficar aqui sarada (hahaha, "aqui sarada"!).
Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido 
passear pelo mundo, tirar foto em Veneza 
e ter tido tempo de subir lá no World Trade Ceeeeeeeenter.
Ah, mas que sujeita chata sou eu que não acha nada engraçado
viagem, visto, gôndola, mala, passaporte
eu acho tudo isso um saaaaaaaco.
É você olhar no espelho e se sentir uma grandessíssima idiota,
saber que é humana, ridícula, limitada que só usa dez por cento do seu potencial profissionaaaaaaaaal.
E você ainda acredita que é uma blogueira, psicóloga ou cidadã que está contribuindo com a sua parte para o nosso belo quadro virtuaaaaaaaaal.
Eu que não me sento na bola do pilates, com a perna escancarada, cheia de músculos
esperando a moooooooorte chegar.
Porque longe das cercas eletrificadas que separam quintais
no cume calmo do meu olho que vê
assenta a sombra sonora de um disco voador.

PS: o grifo em branco é TOTALMENTE irrelevante, tá? Foi uma praga que o vídeo da Raulzito me trouxe. Reescrevi a coisa duas vezes (juro) para ver se saía mas ele migra de um lugar para o outro, tal qual a sombra sonora de um maldito disco voador.
Bom, mas dane-se.
Vamos todos morrer mesmo...
ÓÓÓÓÓÓÓ vida!!!





domingo, 17 de junho de 2012

Gaia


"Eu estou apaixonado por uma menina Terra."
(Caetano) 

Já ouviram falar de crianças anêmicas que comem terra? Grávidas desnutridas que chupam tijolos? Moleques que comem grama?
Então, por trás desse comportamento alimentar bizarro, curiosamente chamado de Pica, algumas vezes existe uma necessidade bioquímica do organismo em restaurar alguns nutrientes, no caso os sais minerais e o ferro presentes na terra e no tijolo e a fibra da grama que ajuda a vomitar algo indigesto.

Mas...
A ingleza Natalie Hayhurst, de 3 anos, corre risco de envenenamento constante. Ela é viciada em ingerir tijolo, vidro e pedras, e já comeu até uma lâmpada inteira. Em fevereiro, Natalie tirou a lâmpada que estava no abajur do quarto e comeu. Ao perceber o que havia acontecido, a mãe, Collen, correu para o médico com a filha, que foi operada para a retirada dos cacos de vidro.
Desde então, a criança é vigiada o tempo todo pela mãe, o pai e o irmão de 5 anos. Collen afirma que alguns dias são melhores do que os outros: "Ela não tenta mais comer vidro, uma vez que isso a machucou, mas vai tentar comer pedras e paus, o que ela encontrar no jardim. Natalie é capaz de comer um tijolo como se fosse um biscoito de chocolate.", afirma a mãe (Extra, O Globo) 

A reportagem dizia ainda que, no seu último aniversário, Natalie comeu a vela do bolo.
Sim, porque cupcakes e cookies são para as fofas.
Para quem não entendeu, eu explico: isso é loucura, tá? A menina não é normal. Portanto, a sabedoria intuitiva e irracional não está lá todas as vezes que comemos algo esquisito. Menino que come cola Tenaz e gente que lambe cinzeiro podem ser apenas loucos. 
Ou porcos.

Bom, digo isso porque desde pequena tenho uma mania que hoje acredito ser uma necessidade do meu sábio organismo. Tomar Sol deitada no chão. Faço isso desde pequena. Tenho uma necessidade fisiológica de tomar Sol todos os dias.
O Sol é a minha Pica, a minha mania, até então incompreensível. 

Porém... hoje sou portadora de uma doença grave chamada Esclerose Múltipla e todo dia recebo novos estudos comprovando que a falta de Vitamina D é a principal responsável pelo aumento da doença. E a vida urbana, longe dos raios solares, colabora para o aparecimento de doenças assim.
Por isso, acredito que meu organismo já tratou de me fazer mau humorada e triste caso eu não consiga deitar por meia hora no Sol. Ele já devia saber que a luz solar seria importante para a minha saúde. Espertão!
Tem também a lenda do Sol iluminar a glândula pineal e, assim, liberar endorfinas e serotoninas. O Sol, portanto, é um poderoso antidepressivo.
Uma vez terminei um namoro e quase enlouqueci. Liguei para a minha ex-sogra, deprimidíssima, e ela, sábia que era, depois de ouvir meus choramingos disse:
-Claudia, vá tomar Sol.
Só isso. E ela era tão elegante que eu posso jurar que nem teve o desejo de me mandar tomar outra coisa! Ou em outro lugar.
Fui, e foi perfeito.
Sigo este conselho desde então.

-Triste? Vá para o Sol. 

Mas acho gozado que não basta tomar Sol, tem que ser no chão. Justo eu que não piso no chão sem sapato nem por decreto, mas na hora de deitar ao Sol... tem que ser nele. O funcionário do clube sempre pergunta: "Claudia, as cadeiras estão sujas? Você quer que eu passe um pano nelas?". Não, seu moço, gosto de ficar no chão mesmo.
Por quê?
Bom, tem o fato do chão ser quente e queimar de um jeito indescritivelmente gostoso a pele da gente. Nada traz mais alegria do que deitar molhada numa pedra pelando e sentir as gotas de água se evaporarem do corpo lentamente.
Tem também o fato do chão neutralizar as energias levando embora os ions irritadiços. Mas hoje descobri a razão principal: o chão me deixa em contato direto com a mãe maior.
"Útero é pouco.
Meu desejo de acolhimento ainda não tem nome"

(adaptação tosca da Clarice Lispector)
Agora tem: mãe Terra.
Quando deitamos no chão sentimos o carinho do planeta (além das formigas que chegam minutos depois). Ouvimos o silêncio da sua carne, somos acolhidos na dureza macia do seu corpo e sentimos a paz da sua existência. E tem também o fato de que quando deitamos no chão, com o planeta nas costas e o Rei Sol no rosto, não existe maneira mais óbvia de pertencer ao universo.
Prá melhorar, ao se deitar no chão você está o mais perto possível dos bilhões de chineses que vivem do outro lado do mundo e participa, agora mais próximo do que nunca, da coletividade mundial. Então, como queria Tim Maia, você acaba tendo consciência de que respira o mesmo ar que rodeia o planeta e tem na pele o mesmo Sol que bronzeia a todos.
E que a vida é só isso.
E é boa.

" E de nada valeria acontecer de eu ser gente. E gente é outra alegria, diferente das estrelas!" (Terra, Caetano Veloso)

Sim, gente é outra alegria.
Mamãe Gaia deve estar satisfeita com a minha súbita compreensão.

Ou talvez tudo isso seja só uma loucura minha, tal qual a inglezinha Natalie, comedora de tijolos...



Essa moça abaixo deita no chão ao Sol e, subitamente, se dá conta de que existem 9 milhões de bicicletas em Pequim. Não é incrível eu ter descoberto este vídeo DEPOIS de postar este texto?



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Te dou uma dica?

Uma amiga foi contratada por um jornal relativamente grande para fazer um blog sobre um assunto específico.
Sim, coisas boas acontecem.... com os outros!!
Ela entende bastante do assunto, claro, mas não tem muita prática na escrita.
Bom, como ela lê o Brasilicus e gosta do meu texto, ela me escreveu para saber como eu me preparei para ter este blog. Quais referências eu tive? Como escolhi este estilo de texto? Ela também queria usar uma linguagem informal e achava que eu poderia dar dicas sobre como "conversar"  com o leitor.
Hum... vejamos.
Quais dicas eu poderia dar?

Prá começar eu falei o óbvio: leia.
Leia muito. Caixa de Sucrilhos, bula de remédio, revista de sala de espera, jornal, folheto das Casas Bahia... leia tudo o que cair em suas mãos, até... livros.
Boa dica, né? Aprendi com um membro qualquer da ABL.
O que eu não disse é que eu fico com preguiça diante de textos chatos por mais famoso que seja o escritor, e não contei que desisto sem dó nem piedade de um texto excessivamente descritivo. Não disse também que posso, tranquilamente, passar 6 meses sem ler um livro que não morro por isso. Quis dar uma de literata e acho que consegui.

Segunda dica: seja plugada no mundo e saiba sobre tudo o que acontece ao seu redor porque só assim você terá material para usar como referência, inventar metáforas engraçadas e se mostrar espertona.
Eu, como uma boa escritora, todos os dias acordo meia hora mais cedo que a molecada só para ler um jornal na net tomando o meu Ovomaltine.
É religioso.
Hoje mesmo, pela manhã, soube que a Globo pediu desculpas para a Sônia Braga, a Alicia Keys raspou o cabelo e que a Luciana Gimenez falou mal do mamilo da Madonna.
Luciana Gimenez falou mal no Twitter do mamilo da Madonna.... mamilo da..... Madonna.... para tudo! Madonna já vai fazer 60 anos anos e eu NUNCA reparei no mamilo dela. Como assim? Já devo ter visto (claro, todos nós já vimos o mamilo da Madonna), mas não saberia descrevê-lo. Falha terrível no meu leque de conhecimentos gerais.
E o pior é que a reportagem não trazia a imagem dos famigerados mamilos. Sim, a Folha de São Paulo já foi menos conservadora...
Precisei então ir ao Google fazer a pesquisa.

Com isso demonstro que o importante não é só ler o jornal. Você precisa também interrogar a informação, ter opinião própria sobre a notícia e pesquisar detalhes que você desconhece.
Sim, porque não basta ser um reles leitor. É preciso ser um leitor...crítico. É importante se questionar, por exemplo: Por que Luciana falou mal do mamilo da Madonna? Eu já vi o mamilo da Madonna? Qual é a minha opinião a respeito dele? A maledicência da Luciana afetou a minha opinião sobre o mamilo da Madonna???
Só assim conseguimos escapar da manipulação subliminar, cruel e proposital dos gigantes da mídia como a Folha de São Paulo, representando a esquerda, o Estadão como representante da direita ou a Veja, representando... tum, tum, tssssssssssssssss.... o mau.
Fui então ver os benditos.
"Me, mamilo, mamilo..."
vucchella eu não vi, mas o mamilo é normalzinho.

Pfff, mamilo básico: rosa, raio mediano, pontudo na medida certa.
Minha opinião sobre isso, no final, foi nula. Talvez seja despeito (com o perdão do trocadilho) da Luciana que deve ter algum trauma com os seus próprios mamilos.

Ah, além das notícias supracitadas li também que a mulher que esquartejou o marido era garota de programa, vi um concurso de fotos da parada gay, uns terremotos aqui e outros acolá e li também que a vacina da esquistossomose finalmente funcionou. Mas...alguém ainda sofre com isso??  Uma doença tãããão early 80`s! Achava que as crianças de agora só são barrigudas por conta da obesidade. Fui pesquisar. Sim, existe esquistossomose ainda no Brasil. E aos montes.
Viu o que uma lida no jornal (com um Google a tiracolo) pode nos ensinar?

Bom, digo isso porque precisamos ter uma visão ampla sobre tudo, e não focar apenas no seu assunto de interesse/trabalho. Gente eclética tem mais qualidade no texto.

Continuando as dicas à amiga, é claro que um blogueiro precisa também ter bons exemplos a serem seguidos. Nada se cria, nossos textos não passam de uma releitura do trabalho duro dos outros. Sendo assim, veio então a pergunta crucial:
-Tá, Claudia, mas em qual blog você se inspirou para escrever o seu?

Hum.............
Vejamos.......................
São tantos que eu nem sei......................
Deixa eu pensar................
Hahahahaha, claro que eu sabia a resposta, mas não podia dizer porque toda a minha consultoria iria cair em descrédito.
Inventei uma resposta qualquer e desejei boa sorte ao novo baby blog.

Bom, mas hoje saio do armário e digo: fazem 3 anos que leio diariamente (as vezes duas vezes por dia) um blog besta e raso chamado  "Te dou um dado?". Minha única fonte de inspiração. Um blog ridículo sobre celebridades e (pior!) subcelebridades brasileiras.
Lelê e Polly, as blogueiras.
Não, nada de Tom Cruise por lá. Só Bello, Nana Gouveia e micro celebridades do Big Brother Brasil.
Pessoalmente não assisto TV (mas também não me orgulho disso). Não sei nada sobre reality shows, novelas, e não tenho idéia do que seja uma Panicat, mas leio tudo o que as meninas do blog escrevem. Todos os dias.
Por quê? Aí é que está o segredo: o texto é ótimo!
Nem posso chamar aquilo de texto. São, no máximo, 5 linhas, mas tão bem escritas, tão sarcásticas, tão debochadas que sempre me mato de rir. Dá pá ver que existe berço por trás delas. Dá prá ver que as moças tem background cultural e nunca, jamais, extrapolam o bom gosto ao tirar sarro de alguém, como muitos outros sites de celebridades fazem.
O nome do blog é uma homenagem a um diálogo básico (para os padrões "Luciana" de ser) entre uma garota de programa e a Luciana Gimenez:
-Oh, mommy, que vergonha!
"Uma aspirante a Bruna Surfistinha foi no Superpop dizendo que já tinha transado com mais de cinco mil homens e estava na hora de escrever um livro. 
Daí a Luciana Gimenez, musa absoluta do telejornalismo, perguntou quantos desses cinco mil tinham HIV.
e a puta: Olha, Luciana, eu não sei. Sempre usei proteção, mas não sei te dizer...
e luciana: Olha, te dou um dado? Uns 500 tinham HIV.
e a puta: Lu, isso seria um absurdo, é como dizer que 10% da população brasileira tem AIDS
e a lu:  Ah, ok, mas quantos desses 5 mil tinham sífilis?? HPV?? chato??
e a puta: OLHA, LUCIANA, EU NÃO SEI, EU NÃO SOU O IBGE!"


Só isso.
Só por isso o blog foi batizado de "Te dou um dado?"
PS: Estranho Luciana Gimenez aparecer aqui duas vezes hoje. Isso me faz pensar: o que ela achou do mamilo da garota de programa? A garota esquartejou o marido dois anos depois? Quantos, dos 5000 homens que ela transou, tinham esquistossomose? Alguém aí me dá um dado??

Ultima dica para se escrever um blog: você não precisa de histórias incríveis para fazer um bom texto. O diálogo da Luciana com a puta foi tolo e corriqueiro, mas a graça é pinçar a frase estapafúrdia e brincar com ela ad eternum. Histórias incríveis são raras, precisamos é de uma história que dê margem para mil outras, e que elas sejam tecidas com humor, sabedoria e respeito.

Agora vamos ao que interessa: o mamilo da Luciana.

Credo, que gente mais...normal. 
Nope, nenhum trauma por aqui.