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terça-feira, 27 de março de 2012

Oral B... bê

Só depois que temos filhos é que conseguimos entender Freud, uma vez que o sistema digestivo do bebê é a única coisa que ocupa o seu dia.
E o dia da sua pobre mãe.
Ou ele está mamando, ou ele está arrotando, ou vomitando, ou tendo cólicas, ou fazendo cocô ou sendo limpo. Fim da história. O resto é dormir para descansar. Um recém nascido nada mais é do que um cano com um intestino delicado e temperamental no meio. Um tubo onde a comida entra, é arrotada, digerida (com cólicas e muitos gases) e depois expulsa com sofrimento.
Pronto, isso é um bebê! Algo mais ou menos assim:


Com a diferença que em volta existe pele cheia de dobrinhas, dedos, cabelos e muita baba, resultando em algo paecido com...
hum, deixa eu procurar...
.... ah, assim:



Bom, a vida de um bebê e sua mãe seria mesmo muito chata se não houvesse algo embutido na rotina chamado: prazer. E aí começa a teoria Freudiana aonde a oralidade inaugura a libido deste pequeno ser. O Deus hedonista (se Deus existe mesmo ele deve ser bonzinho) pergunta:
-O que um bebê faz?
-Come.
-Só? Ok, então vamos colocar prazer na alimentação.
E desde então sugar dá prazer. Para o bebê e para a mãe!! Claro que não por obra de um deus, mas para incentivar o povo a se nutrir e permanecer vivo. É o famoso e bem menos fofo instinto de sobrevivência.
A pega, o encaixe perfeito com o mamilo, encher a boca de leite morno, colocar as bochechas para trabalhar, a respiração ofegante, o cheiro do leite, o cheio da mãe... um festival gastronômico várias vezes ao dia!!

Menú:
Entrada: colostro
Primo piatto: consomé de leite no peito direito.
Secondo piatto: peito esquerdo recheado de... leite.
Sobremesa: tapinha nas costas.



Toda a teoria do prazer oral, da relação erótica e incestuosa com a mãe, da inveja do pênis do pai... tudo começa a fazer sentido depois que viramos pais e acompanhamos o processo.
E depois ainda tem a evolução da energia erótica para as fases anal e genital.
-O que um menino de 2 anos precisa aprender a fazer?- pergunta Deus novamente.
-Cagar no lugar certo.
-Ok, então vamos colocar prazer nisso também.

Tudo muito compreensível.

Depois da famigerada fase anal, o prazer então migra para os genitais e aí é um tal de menino com a mão dentro da cueca, menininhas distraídas se esfregando no sofá, uma festa!!
Quando isso termina, as crianças passam por um período de latência onde a sexualidade fica adormecida. Começa lá pelos 8 anos e vai até os 11. É aquela idade onde a molecada não gosta de brincar com o sexo oposto, fogem dos banhos, são desajeitados, relaxados com a aparência e muito preguiçosos.
E então a libido, como um dragão adormecido, desperta com força total na puberdade.
E para aqueles que suportaram a fase apática e sem graça da pré-adolescência latente, a natureza criou um combo promocional, igual aos lanches do Mc Donalds: descubra o sexo e ganhe, junto, os prazeres oral, anal e...genital! Promoção, pague 1 e leve 3!!!
Ou seja, chegando nesta fase da sexualidade já adulta você reencontra todas as outras velhas conhecidas e, agora, reinventa moda com elas.

"Sou contra a moda que não dure. É o meu lado masculino.
Não consigo imaginar que se jogue uma roupa fora, só porque é primavera." 
 (Coco Chanel)

Sacanagem mesmo. Ninguém precisa jogar nada fora na moda do sexo.

Mas, independentemente da atividade sexual, é preciso lembrar que o prazer oral, por si só, continua por toda a vida. E, para algumas pessoas, o anal também. Infelizmente existe gente adulta e civilizada que adora contar as últimas novidades escatológicas do banheiro. Têm orgulho e prazer em relatar detalhes, gostam de se exibir quanto a tamanho e quantidade ou descever as frustrações de um intestino preso.
Bah! Fujo desse povo como o diabo da cruz.

Por outro lado acho o máximo pessoas que cultivam a oralidade como um prazer tão ou mais importante do que o sexo em si. Pessoas que se alimentam eroticamente. Gente que sabe despertar todas as papilas gustativas e coloca a libido a postos para o momento de comer.
Tão bom cozinhar para essas pessoas!
Tenho um filho que é assim: um gourmet. Geme, suspira e sorri sozinho ao comer, e encara as refeições como o melhor momento do dia. Manipula o alimento com as mãos como um selvagem e sempre sai sujo da mesa. Dá até dó de brigar com ele.

Tenho certeza absoluta (apesar de não conseguir provar) que o apetite sexual está intimamente ligado ao apetite por comida. Por isso as moças gulosas são tão atraentes e as inapetentes não entusiasmam. E ainda poderia arriscar dizer que pessoas que tem um gosto por alimentos exóticos são excêntricas justamente por provocar fantasias sexuais naqueles que os assistem comerem.
Por exemplo, acho admirável uma mulher que encara uma dobradinha com amor. Que tem xiliques ao descobrir novas pimentas. Que come todas as espécies de ovas que o povo abandona no festival de sushi. Que sugam tubos e ventosas dos frutos do mar com uma alegria lúdica. Que chupam maracujás azedos direto da casca. Que ficam felizes por experimentar novidades gastronômicas e tem um leque sempre amplo de preferências alimentares. Lindo demais!

Tem uma mocinha num pograma do Discovery Travel & Living que eu acho que foi contratada só pelo prazer que ela demonstra em comer TUDO o que lhe oferecem nas viagens, sem nojo nem preconceito. A menina manda bem. São as cenas mais sensuais que eu já assisti numa TV a cabo. Acho o máximo!
Nigella Lawson idem. Que delícia assitir aquela mulher comendo com as mãos e fazendo biquinho. Tenho certeza absoluta que pessoas assim tem uma vida sexual feliz.
Imagina que frustrante o cara inventar uma brincadeira suuuuper divertida com uma... gema de ovo... e a namorada dele dizer: "Eca, que nojo, vai sujar o meu vestido branco!!!" . Muito decepcionante.







Teria pavor em ser casada com um homem com sérias restrições alimentares. Conheci gente assim: não come cebola, não tolera laticínios, tem azia com tudo, não gosta de vegetais (nenhum!!!), não come carne sangrando, tem medo dos espinhos dos peixes, separa a salsinha no canto do prato... chato prá caramba! Vai num restaurante e fica investigando junto ao garçom os ingredientes do prato, obrigando o coitado a ir e voltar mil vezes à cozinha para perguntar ao chef... um inferno! Almoço perfeito para este tipo de gente é arroz (sem alho aparecendo), feijão, bife bem passado e batata frita. E nuggets!! De preferência em casa.
Tédio. Fala a verdade, você acha um homem desses atraente? Eu não. Acredito piamente que o comportamento gastronômico do cara diz muito sobre o desempenho dele entre 4 paredes.

Bom, resumindo, a energia erótica da oralidade acompanha a nossa existência e é muita sacanagem a gente não honrar ela de acordo. Desde o nascimento os bebês nos ensinam que isso é muito importante para a alegria e o prazer de viver.
E tenho dito.

"Eu me desenvolvo e evoluo com meu filho.
Eu me desenvolvo e evoluo com meu pai."
 (Marcelo D2, o sábio)


E, com isso, provamos que Mc Donalds acerta mais uma vez no marketing:

AMO MUITO TUDO ISSO



quarta-feira, 21 de março de 2012

Feed back = feed the socks, warm the feet.


Bom dia, você tem 5 novas mensagens.

Descobri uma coisa importante. Sabe por que eu gosto do Facebook? Porque ele me dá a sensação infante de que todos os dias é Natal. Sim, porque diariamente tem um presente dentro de alguma meia que eu, propositalmente, coloquei na web.
Coloco uma foto bacaninha e... cinco minutos depois já tem comentários. Coloco uma frase de efeito e... pimba, aparece gente para achar graça da coisa. Pá-pum, jogo rápido, olho na bola, bate e volta. Me sinto super, me sinto hiper! Uhuuuu!

-Com este album de fotos vou receber uns 30 "curtir" e 
uns 17 comentários. Agora é só deitar e esperar pela massagem.
(essa meia é incrível, né?)
Ai, ai, como é importante a gente ser ouvido. A tal meia massageia mesmo o nosso ego e dá a sensação de que temos voz neste mundão de meu deus.

É só publicar algo que temos respostas. Simples assim! Todo dia encontramos muitas meias na lareira sempre preenchidas de mimo e carinho. Quer coisa mais gostosa do que abrir o face de manhã e receber bandeirinhas vermelhas dizendo que você foi lembrada? E com o tempo os amigos vão sendo naturalmente peneirados por interesses comuns ou reciprocidade na troca das postagens, e, aí, depois de mais ou menos um ano de uso da rede social, só sobram os amigos que te interessam. Bem melhor assim, porque aí as bandeirinhas são sempre especiais.

O povo que diz que não vê graça no Facebook é porque não publica nada e aí, obviamente, não recebem feedback nenhum. Todos os dias este povo deve abrir o Face e ver convites de gente carente que eles mal conhecem e/ou são convidados a responder perguntas estúpidas de aplicativos imbecis. Aí é claro que a coisa vira mesmo um porre! Este povo que não gosta do Facebook deve pensar que somos idiotas por participar de algo tão bobo, mas o problema não é com a gente (não é não, viu??), o problema é com eles que não sabem usar a ferramenta direito.
Por exemplo, tenho pena, muita pena das pessoas que não descobriram como barrar os convites para jogos e aplicativos. Pobrezinhos... todos os dias tem que ler a previsão do horóscopo de signos que não são deles. Acho graça do povo que divulga na rede social: "Por favor não me mande convites para jogos". Hello!!! Eles é que são burros por não ainda perceberem como impedir isso de acontecer. E o convite para participar do "Meu Calendário"? Quer coisa mais chata?? Oi gente!! O programa já avisa quando for o meu aniversário, tá?
PS: Não é nada pessoal contra alguém. TODO mundo manda!

Mas falo isso porque o massageador de egos chamado Facebook é uma faca de dois gumes. Deixa a gente feliz da vida quando as bandeirinhas vermelhas acenam novidades, mas deprimem quando não há nada. Já aconteceu de eu abrir o Facebook de manhã e não haver bandeira alguma. E o meu impulso é sempre abrir e fechar de novo pressupondo uma falha na conexão. Gozado mesmo.
Tenho uma amiga que confessou outro dia que fica mal quando manda uma mensagem para alguém e este alguém não responde no mesmo dia. Ainda mais se ela percebe que a pessoa andou pelo Face e postou uma ou outra bobagem.
-Como assim??? Por que não respondeu?
Mas vale dizer que esta necessidade egóica de receber atenção sempre existiu e não é uma mania besta da modernidade ou algo típico de pessoas solitárias e deprimidas.
Antigamente ficávamos na espreita esperando pelo carteiro que trazia envelopes. Depois ficávamos angustiados se o telefone não tocava o final de semana inteeeeeeiro (como era triste, não?). E quando a gente saia de viagem, chegava em casa, e não havia NENHUMA mensagem na secretária eletrônica? Sempre me dava a impressão de que faltou luz e, por isso, a máquina não registrou os amigos desesperados por notícias minhas, haha. Lembro também da época em que abria minha caixa de emails umas 5 vezes por dia para me maravilhar com as respostas que recebia rapidamente das minhas cartinhas para as amigas.
Hoje a expectativa está no Facebook. E é igualmente legal.

Meia boca, meia hora, meia vida, volta e meia, meia nove, meia boba, meia louca, meia noite... como é bom ter meias preenchidas por amigos!
Tks Mr. Zuckerberg!

domingo, 18 de março de 2012

El Pelo Largo

Decidi deixar o meu cabelo crescer. Talvez seja a última vez que faço isso antes de ficar velha, porque velha com cabelo comprimdo é muito, muito sinistro.
E sempre que deixo o meu cabelo crescer me dou conta de que existe um manual para a coisa.
Aqui vai ele:

Sobre os cuidados:
Nós, mulheres de cabelo comprido, não nos importamos com o corte. A forma não é importante, por isso podemos, sim, economizar na escolha do cabeleireiro. O que nos preocupa é a textura, e vale dizer que a textura nunca é suficientemente boa. O brilho, o balanço e a maciez do fio nunca é bom como deveria ser e, portanto, temos o direto de gastar muito em produtos para tentar atingir a perfeição.

Nós, mulheres de cabelo comprido, temos o direito de denunciar à uma corregedoria os cabeleireiros que não sabem contar os dedos que deverão ser aparados. São sempre pouquíssimos dedos a serem podados, (no máximo dois!), mas eles ignoram por completo o pedido e fazem um estrago danado na nossa auto estima. Uns idiotas!! Deveríamos ter o direito de amputar em suas ricas mãos a quantidade de dedos extrapolados na operação "cortar as pontinhas". Em geral são gays que tem inveja do nosso incrível poder de sedução. Gays nunca acham que as clientes tem razão! Por isso, Celso Kamura é o únco cabeleireiro gay confiável. Ele sabe a falta que faz cada milímetro das nossas células mortas queratinizadas.

Nós, mulheres de cabelo comprido, temos o privilégio de um passatempo exclusivo: procurar por pontas duplas. Podemos fazer isso na TV, na praia ou mesmo num bate papo informal. É mesmo uma delícia! As mais sensatas fazem isso munidas de uma tesoura para ir cortando o mal pelas... pontas. As insanas, porém, não resistem ao desejo de puxar as duas pontas e, assim, terminam de repartir o fio bifurcado, destruindo não apenas as extremidades mas todo o fio de cabelo que fica ralo e... enrolado!!!!!!!!!!!!!!!!  Por isso, antes de se casar com uma mulher de cabelo comprido (são as melhores, trust me) saiba diferenciar as sensatas das insanas simplesmente observando a maneira dela lidar com as suas pontas duplas. E, esquece, mulher sem ponta dupla não existe!!!

Sobre a queda:
Nós, mulheres de cabelo comprido, não deveríamos nunca ouvir reclamações sobre a quantidade de cabelo caidos pelo lar.  E temos ainda o direito de, como loucas, catar um por um e contá-los diariamente para responder ao dermatologista quantos fios perdemos num dia. Sim, porque nós com certeza iremos ao dermatologista algum dia por conta da nossa queda de cabelos e ele sempre perguntará pela quantidade perdida. Esta resposta é importantíssima!

Nós, mulheres de cabelo comprido, temos consciência que infernizamos a vida do próximo com nossos longos fios espalhados pela casa: no chão do banheiro, banco do carro, ralo do chuveiro, na boca do parceiro, nas comidas... é mesmo um inferno. Mas saiba que, para nós, esta situação é ainda mais irritante porque eles se enroscam em nossos braços e criamos, então, o cacoete de passar a nossa existência levantando o braço para tirar fios imaginários que sempre acreditamos que estão por lá. Nos sentimos paranóicas e perseguidas pelos tais fios inexistentes, como se fosse o início de uma grave doença mental. Triste mesmo.

Nós, mulheres de cabelo comprido, temos o direito de tirar um fio solto e jogá-lo no chão sem culpa e nem vergonha. E isso pode acontecer em restaurantes, casa de amigos ou mesmo na cama do namorado. Não podemos nos dar ao luxo de levantarmos para depositar nossos fios suicidas em um cesto de lixo. São 100 fios por dia e ainda (por incrível que pareça) temos uma vida para tocar!!! Poxa vida, tentem se colocar no nosso lugar! O mundo precisava compreender isso ao invés de nos condenar. Todos suportam pelos de gatos e cachorros nos sofás, mas rejeitam nossos fios caprichosamente hidratados. Nossa vida não é fácil.

Nós, mulheres de cabelo comprido, sofremos de um mal crônico: depois que lavamos a nossa cabeleira precisamos recolher os fios que caem no interior do nosso... bumbum. Sim, é verdade. Ao final do banho precisamos, com muito cuidado, retirar o bolo de cabelo que escorrega por entre o dorso ensaboado e acaba se depositando num compartimento secreto lá dentro, como um lindo novelo de lã. Não se envergonhe, amiga, caso isso aconteça com você. Descobri há pouco tempo que é uma constante. Mas, ó, nunca se esqueça de retirar, tá?

E tem mais: nós, mulheres de cabelo comprido, temos o direito de ficarmos estressadas com esta queda de cabelo que, para nós, é sempre exagerada. Claro que temos consciência que nunca ficaremos calvas (tem que haver algo de bom em nascer mulher, né?), mas o que nos incomoda são os cabelinhos novos que vão nascendo e piorando em muito o efeito "frizz" que nos deixa intimidada ao sentarmos contra a luz do luar. Sim, pensamos nisso num jantar romântico. Por favor ofereça à gente a cadeira de frente para a luz, ok? E nada de velas!!


Sobre os aspectos emocionais:
Nós, mulheres de cabelo comprido, achamos, sim, que nossos cabelos são um importantíssimo órgão que pode e deve ser usado numa relação sexual. Um homem que sabe disso e conhece os comandos de pressão e inclinação para o "senta", "deita" e "morta", consegue bastante.

Nós, mulheres de cabelo comprido, concordamos que Marilyn Monroe era a mulher mais sexy que já existiu na tela do cinema, mas acreditamos piamente que, se o cabelo dela fosse comprido, ela não não teria se matado. Idem com Elis Regina. Cabelos compridos dão segurança e trazem felicidade. Nos sentimos constantemente com as "costas quentes", protegidas, e aí nada nos aflige. É o equivalente a muitos anos de terapia!

Sim, é a mais pura verdade: nós, acreditamos que somos mais atraentes com o cabelo comprido. Na nossa teoria, as mulheres de cabelos curtos querem apenas se auto afirmar desprovidas de vaidade para conquistar o mercado de trabalho. Um homem que diz que gosta de uma nuca aparente, com certeza tem tendências homoafetivas. Não há nada de atraente num cabelo curto e todos nós sabemos disso, mas espalhar esta informação aos quatro ventos seria ir contra a ridícula conquista feminia de escolha. Achamos este movimento ultra cafona e desnecessário, mas não podemos mudar o mundo, não é?

Nós, mulheres de cabelo comprido, odiamos com ódio mortal gente que insinua que precisamos cortar um pouco os nossos fios. Gente que fala que parecemos crente, pobre ou o Primo It da família Adams entra automaticamente para a nossa lista negra. E odiamos também pessoas que teimam em recolher nossos longos fios dos nossos próprios casacos de lã e agasalhos pretos, achando que estão ajudando!!!  A estas pessoas eu poderia dizer:
-Pode deixar, não tem problema. Não me incomodo com os meus fios perdidos. Eles caem naturalmente, não por doença ou estresse. Meu deramatologista disse que estou muito saudável, ao contrário de certas pessoas que invejam os cabelos dos outros e transformam o recalque num... Transtorno Obsessivo Compulsivo.   

Por fim, nós mulheres de cabelo comprido, amamos o filme "Enrolados" da Disney. Pela linda trança dourada da princesa, pela sua habilidade no manejo do cabelo, mas principalmente pelo final que tem como moral:
"Se o seu cabelo for longo ele será o seu poder de sedução e de cura. Mas se for curto, você precisará chorar para conquistar o que deseja!!!"


Hahahah, juro! No ínício do filme os fios dourados tinham poder, mas quando foram cortados eles, além de ficarem... marrons... perderam também a capacidade de fazer mágica. E, desde então, só com lágrimas a mocinha conseguia milagres! Disney, há 84 anos definindo padrões femininos. E sempre impondo longas cabeleiras à meninada... graças a Deus!


PS: tudo é bobagem, ok??? Foi só uma necessidade de honrar meus longos cabelos loiros sendo fútil e tola. Pronto, já passou. Vou ler Proust agora.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Superego

-Sabe doutor, sinto que eu sempre carreguei os
meus pais adotivos nas costas...
                                                                                                     

                                                                                                              Metrópolis, 16 de março de 2012.

Ilmo Sr. Quentin JeromeTarantino,

Como vai? Espero que bem e sempre criativo.

Já fazem alguns anos que eu penso em lhe escrever. Assisti a "Kill Bill 2" e fiquei honrado com a menção à minha pessoa ao final do filme. Estava sentado no escuro do cinema e, quando ouvi tudo aquilo, achei muito, muito bacana  Foi mesmo uma linda surpresa.

-Estranho, achei que no seu planeta
os morcegos voassem... hehe.
Aquela história da minha essência ser extraordinária e a minha fantasia, na verdade, é de ser uma pessoa mundana (ao contrário do Homem Aranha e Bataman) me deixou envaidecido. Sempre soube disso, claro, mas gostaria que alguém tornasse pública a diferença gritante entre eu e o os pseudo-heróis que hoje, infelizmente, vendem mais lancheiras do que eu. São sempre homens em crise que se defendem do sofrimento psíquico com uma fantasia narcísica de superpoderes. Bah... a Marvel deveria se envergonhar disso.

Confesso que aquele disurso do Bill foi uma das melhores homenagens que recebi na vida. Seinfeld me ama, eu sei, mas não tem muita profundidade para fugir do óbvio: "Ele é super, é especial!" etc e tal.
Você não, você falou bonito e foi muito perspicaz ao descrever a minha tentativa de ser normal ao abafar a todo custo o meu brilho natural. Na época eu me senti compreendido por você e fiquei muito feliz.
Mas, desde então, muita coisa mudou.

A verdade é uma só: não quero mais ser super. Hoje tenho uma missão, preciso pendurar as botas vermelhas, pôr o "pega-rapaz" de molho. Não que eu tenha me tornado uma pessoa ruim ou ficado indiferente ao sofrimento alheio. Nada disso. Lembre-se que sou super bom e super solidário, afinal, eu também nasci para ser o superbacana.

Mas é que daqui prá frente preciso deixar de ser tão especial. Eu devo. Louis Lane me cobra. Minha "Double L" quer um homem de verdade, não um... superhomem.
-Hummm, você está cheiroso, Superman.
-Sim, su sou cheiroso O TEMPO TODO!!!!!  Buááá´!

Prá começar ela exige que eu vista a cueca do jeito certo. Minha particularidade, tão curiosa e tão imitada pelos outros heróis não tem o menor charme para a minha própria esposa. Para ela, usar a cueca para fora da calça não me torna excêntrico, e sim... cafona. Ela também quer que eu me liberte da roupa justa e sempre limpa que me acompanha todos os dias por baixo do terno. Não consigo ficar nú diante da minha mulher. Não consigo me mostrar, ser natural, você tem idéia do que é isso????

Minha esposa diz que quer ter uma vida normal ao meu lado e eu acredito que ela tem este direito. Na terapia de casal ela falou que desejaria jogar na minha cara que eu não sirvo nem para abrir um vidro de palmito. Ela gostaria de reclamar que estou com o dente sujo ou que meu ronco não a deixa dormir. O problema é que nada disso acontece e ela sempre se sente diminuida ao meu lado. Louis sempre se olha no espelho e reclama que está engordando enquanto eu, eu continuo... lindo. Ela diz que quer estar por cima alguma vez na vida (não sexualmente falando, claro), já que eu nunca dei chance dela me recriminar por nada. Prá você ver: nem a gostosa da Mulher Maravilha eu pego!!!


-Solte o meu cabelo a la garconne, "Double M".
Bom, até então tudo parecia simples. Abrir mão da perfeição me soava como uma imensa declaração de amor à minha amada. Apesar da tristeza em abandonar o meu brilho reluzente e meu heroismo folclórico, eu estava me sentindo tranquilo e até entusiasmado com a idéia de ser normal. Iria definitivamente ser apenas o bom e velho Mr. Kent e tocar a vida daquela forma estabanada e meiga.

Já tinha até mandado avisar ao Gilberto e seus seguidores que eu nunca mais restituiria a glória de ninguém e nem mudaria, como um deus, o curso de história alguma. Ia contar ao Gil que eu também mudei, ironicamente, por causa da... mulher! A minha mulher!!

-Você levanta a pata para fazer... xixi??? Que inveja.
Você não tem idéia do malabarismo que eu preciso fazer. 
Mas o pior, obviamente, aconteceu. A minha verdade não sai de mim, e isso tem me deixado deprimido e angustiado.
Me sinto como aqueles adolescentes que se auto mutilam com giletes e facas. Quero rasgar a minha pele para encontrar nas minhas profundezas um outro EU. E queria, sinceramente, que este outro EU tivesse menos encanto.





Quero gozar do prazer de ter uma vida medíocre. Quero ser feliz com pouco. Preciso descobrir o conforto da incompletude. E queria que você soubesse, Quentim, que o excesso de potenciais causa muito sofrimento. Tome cuidado, amigo talentoso e especial.

Por exemplo, descobri outro dia que a minha essência me intoxica. Criptonita (a única substância conterrânea à qual eu já tive acesso) me intoxica, como se as minhas origens me fizessem mal. Por isso eu precisava me libertar de mim mesmo. Deixar de ser assim tão...super, porque disso depende o meu casamento.
Mas o problema é que não consigo!!!
Não consigo justamente por ter muita coisa poderosa e forte pulsando dentro de mim. Sou demasiadamente especial e lamento profundamente ter que honrar cada capacidade que mamãe e papai me deram antes de me lancarem no universo como um reles Moisés.
E por isso tenho medo de nunca conseguir conciliar a minha real identidade com a necessidade de ser mundano.

Sei que isso parece ridículo: "Pobre menino rico, poderoso, lindo e perfeito!!". Sei, sei... tenho consciência de que muita gente gostaria de estar no meu lugar por pelo menos um dia, e é justamente por isso não saio reclamando da minha vida por aí. Soaria arrogante e infantil. Estou dizendo apenas para você porque, naquele filme, senti que você me conhecia e que seria o único a me entender.

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta. A Louis Lane manda um beijo para os seus. Um beijo na família, na Sofia e nas crianças. O Luthor aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal,
Adeus

                                                                                                                Ass:  Superman

quinta-feira, 8 de março de 2012

O jogo dos Dados!

Coincidências são malandras.
Acontecem todas as horas e com todas as pessoas ao redor do mundo.
E sempre ao acaso...Pop!
As estatísticas nos contam que em alguma hora coisas incríveis vão acontecer, mas, mesmo assim, insistimos em acreditar que existe algo divino por trás disso.
Acho as sincronicidades crueis porque plantam na nossa cabeça a idéia de que houve algo de mágico ali. E gastamos nossa fé acreditando que deve haver alguma mensagem a ser decodificada.
E não há!!! Esquece.
Ou há?

Exemplo? Esta semana no lanche da tarde descobri algo irritante: a minha torradeira quebrou e agora só tosta um lado do pão. A serpentina incandescente do meio queimou. Fazer um lanche para os meninos, que antes demorava menos de 2 minutos, agora demora 4 porque temos que inverter a posição dos pães para que possamos ter torradas simetricamente crocantes.
Coisa pouca, mas irritante.
Naquele mesmo dia, a noite, abri a minha biblioteca de 400 livros não lidos (herança em vida do meu avô) para eleger um novo, já que o meu livro de cabeceira tinha acabado na véspera. Peguei um policial brasileiro. Resolvi dar uma chance aos crimes ambientados na orla carioca.
E logo na quarta página leio isso:
"Tirara a tarde para comprar um nova torradeira e percorrer alguns sebos no centro da cidade. A dele estava com o mesmo defeito fazia quase um ano: torrava apenas um dos lados de cada fatia. Já se acostumara ao ritual de esquentar primeiro um lado do pão para, em seguida, virar as fatias e esperar pelo outro lado. " (Luiz Alfredo Garcia-Roza)

Como assim? Torradeira... quebrada? Que coincidênia! E ainda com o mesmo defeito!!!
Pronto. Foi o suficiente para eu achar que algo de mágico fez com que aquele livro viesse parar nas minhas mãos. Fiquei excitada e li tudo correndo, achando que ali tinha uma mensagem só para mim e que o destino conspirou para que eu tivesse aquele texto nas mãos naquele exato momento.
Não, não tinha nada. Nada de bom e/ou importante no romance policial brasileiro ambientado na orla carioca.
Elementar, Rio de Janeiro é quente demais para mistérios.

E com isso lembrei de uma outra coincidência da qual sempre me orgulhei.
Contava ela como se eu fosse a escolhida por Deus para vivenciar uma experiência tão surreal. Foi assim:
Aos 17 anos eu morava numa cidade com bem mais de um milhão de habitantes e namorava um rapaz chamado Eduardo. Todo Eduardo tem um apelido: Duda, Edu, Dudu... mas o meu Eduardo tinha o raro apelido de Dado, e era irmão de um Thiago e de um André.
Num sábado qualquer, Dado ia para a cidade de São Paulo fazer coisas chatas e me pediu para eu lhe fazer companhia. Eu não quis, mas no sábado cedo me arrependi e liguei correndo para ver se ainda dava tempo de ir junto.
E o incrível diálogo que aconteceu na sequência foi assim:
-Alô.- era uma voz masculina.
-Oi, quem tá falando? -eu disse.
-André.
-Oi Dé, tudo bem?
-Quem fala?
-É a Claudia, Dé. O Dado tá aí?
-O Dado tá em São Paulo.
-Ahhhh, ele já foi? Que pena.
-Quem tá falando??
-É a Claudia, André, namorada do seu irmão. É que ele tinha me convidado para ir para São Paulo e eu queria ver se ainda dava tempo. Mas não tem problema, eu falo com ele depois.
-Hum, acho que você ligou o número errado. Meu irmão não tem nenhuma namorada chamada Claudia.
- (longa pausa) .... como, como assim? Você não é o André, irmão do Dado ?
-Sou, mas acho que isso é um engano. Acho que você queria estar falando com um outro André
-Outro André que tem um irmão chamado... Dado?
-Pois é.
-E que, além de tudo, está hoje em... São Paulo???? Como é que isso pode ser um engano??? É muita coincidência para ser um engano!
Mas ele não deu bola e desligou.
Fiquei incrédula.
Tentei de novo e, desta vez, acertei o número de telefone. Sim, tinha sido um engano. Como pode??? Passei o final de semana falando disso com conhecidos. Era muita coincidência para ser verdade, mas o mais incrível ainda estava para acontecer...

6 ANOS DEPOIS...
Estávamos na casa dos meus pais conversando sobre telefonemas, enganos e confusões. Lembrei da história acima e contei na mesa depois do almoço. E foi aí que meu cunhado falou:
-Nossa, Claudinha! Eu atendi este telefonema!
-Você? Como assim?
-Você deve ter ligado por engano na casa da minha mãe. Meu irmão também se chama Dado. Eu antendi. Eu lembro disso!!
U-A-U...
Detalhe: na época que o telefonema aconteceu, o Dedé, meu cunhado, nem sonhava em ser um dia o meu cunhado. Aliás ele nem conhecia a minha irmã!


Agora diz: qual é a chance dessa história se repetir?? Quais são as chances do interlocutor deste telefonema (que já é suficientemente maluco por si só) casar-se justamente com a minha única irmã?


Achei tudo surreal.
A moral da história? Não tem. Ou tem? Ou será que meu querido cunhado foi enviado por.. Deus???
Shit happens! Curiosidades happens! Coisas legais happens!!
Se existe mágica na sincronicidade ou ela se explica apenas com estatísticas e números, eu não sei. Mas adoro as historietas da vida cotidiana. Tornam tudo menos monótono...

Quais são as histórias de coincidências que aconteceram com vocês??? Mas ó, nem pensem em ganhar da minha porque não dá, haha, a minha é ó concur!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Tudo Métrica e Rima.

Vocês já viram o filme "O Feitiço de Áquila"?
É assim: uma maldição danada separou para sempre um casal apaixonado. Durante a noite ela é uma lindíssima mulher, mas quando o Sol nasce é condenada a se transformar em uma águia. De noite retoma a sua identidade humana, mas, por uma enorme sacanagem, nesta mesma hora o seu amado vira um lobo. Bom, resumindo: desta forma eles só podem beijar e se abraçar por poucos segundos no dia.
E estão condenados a ficar separados para resto da vida.

-Puxa, mas que cilada o amor me armou!!
Dois animais. Um diúrno outro noturno. Um mamífero e, o outro, uma ave. Um terrestre e outro aéreo.
Com isso Ladyhawke está sempre acompanhada pelo amante lobo durante a noite e o capitão Etienne Navarre cavalga carregando a águia no ombro.
Bom, talvez eles até consigam fazer alguma coisa na calada da noite, mas de dia fica mesmo difícil. A não ser que ele seja um louco pervertido.
Quer dizer, estão sempre juntos... mas não do jeito que gostariam.

E eu odeio quando as coisas não são do jeito que gostamos.



-Caraca, mas que cilada o amor me armou!!
 Existem outros filmes que falam também sobre casais com os destinos fora do eixo. O que eu mais me lembro agora é "Em algum lugar do passado" onde o Superman se apaixona pela moça do retrato que viveu no passado. Sempre com a fatídica musica ao fundo.
Acho a maior maldade!!!
O desencontro... e a musiquinha chata!!!
Pior do que isso só "Irmão Sol, Irmã Lua" onde a mulher cometeu a insanidade de se apaixonar por São Francisco de Assis!!!!!
E em "O estranho caso de Benjamin Button" eles vão na contramão do tempo. Enquanto ela envelhece, ele vira neném. Bom, pelo menos eles se amaram decentemente no meio do caminho.

Não dá raiva desses desencontros da vida? Justo quando você volta para a sua cidade o cara resolve se mudar do país. Ele se separa no mês que você casa. Ou vocês se apaixonam quando já é tarde demais.
Odeio.

E Caetano Veloso descreve os descompassos do amor de forma linda, porém irritante, na música abaixo. Sim, a vida é real e, na maioria das vezes, de viés!!!!
Eu sempre soube "O Quereres" de cor. Não sei porque usamos importantes áreas corticias decorando bobagens. E o Ciclo de Krebs, que é bom... nada!

De acordo com a música, onde o parceiro quer massagem, vc é:
a) shiatsu
b) tatame
c) mãos
d) TPM
e) óleos essenciais

Onde o parceiro quer sonhos, vc é:
a) travesseiro
b) silêncio
c) Kurosawa
d) pernilongo
e) Rivotril

E a resposta, para Caetano, é sempre "D".


"Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou..."

Vejam o vídeo abaixo.
Hahaha, minha área cortical funciona melhor que a do Chico Buarque!!
E enquanto escutam a música, acompanhem as respostas que facilitam o encontro ao invés de serem obstáculos.

PS: essa versão é muito ruim, mas não há outra decente no Youtube. Sorry. 
Caetano tirou as dele de lá (verdade!) e as editadas por gente cafona eu estou dispensando.

-Isto é uma arma atrás de você ou você está feliz por me ver?


O quereses
Onde queres revólver, sou Nikita
E onde queres dinheiro, Athina Onassis
Onde queres descanso, uma rede
E onde sou só desejo, queres tudo
E onde não queres nada, vou nadar
E onde voas bem alto, eu sou a águia
E onde pisas o chão, sou Havaianas
Que te protege do calor da estrada.


-Mas você sabe mesmo montar e segurar a crina??
-Errr, bemmm...
-Vixi, cowboy tímido.

Onde queres família, estou fértil
E onde queres romântico, sei chorar
Onde queres Leblon, sou Manuel Carlos
E onde queres eunuco, "Farinelli"
Onde queres o sim e o não, depende
E onde vês, eu enxergo com você
Onde o queres o lobo, eu sei uivar
E onde queres cowboy, eu sou o... Woody.
Onde queres o ato, eu sou atleta
E onde queres ternura, cafuné
Onde queres o livre, liberal
E onde buscas o anjo, sou Win Wenders
Onde queres prazer, eu sei te dar
E onde queres tortura, eu sei também
Onde queres um lar, sofá e TV
E onde queres bandido, Bonnie Parker

Onde queres comício, eu sou Maluf
E onde queres romance, rock n roll
(Essa resposta permanece. Será que Caetano não sabe que os metaleiros também amam??)
Onde queres a lua, Apollo 11
E onde a pura natura, eu sou tofú
Onde queres mistério, eu sou mulher
E onde queres um canto, escaleno
Onde queres quaresma, bacalhau
E onde queres coqueiro, Itapuã.


Tão mais fácil, né? Prá que complicar?
Eu sou legal. Sou como Tim Maia: quero o povo...JUNTINHO!!

"Eu e você, você e eu...juntinho"
(Tim Maia)


Para que, juntinhos, aconteçam então todos os outros problemas.
Hahahah, pensou que era fácil?
Mas aí é uma outra história que deve ser contada em outro lugar...

Vocês se lembram de quais outros filmes sobre os desencontros do amor?

quinta-feira, 1 de março de 2012

Quem nunca, né?

Não sei se é óbvio para vocês, mas não custa dizer que não exponho a vida dos meus pacientes aqui. Claro.
Porém, sempre lembro de uma ou outra gracinha que os amigos contam e que, as vezes, acaba virando assunto para o blog.
E esta semana a conversa foi assim:
-Claudia, eu não sei qual é o meu problema, mas não consigo me sentir desafiada. Não sou uma pessoa que se mobiliza diante de um desafio.
-Hum, não entendi. Explique melhor. (essa frase é típica de uma psicóloga, mas falo isso também para os amigos, vez ou outra)
-Por exemplo, quando eu era pequena minhas colegas diziam : "Duvido que você consegue roubar a bicicleta do carteiro!". E eu falava: "Duvida? Ah, tudo bem. Fique duvidando.". Entendeu? Eu não ia lá roubar só para provar que eu conseguia. Minhas outras amigas roubavam para ganhar a aposta, mas eu não sou dessas pessoas que se sente motivada a superar uma dificuldade para provar as coisas para os outros.
E continuou: blá, blá, blá...

Não conseguia mais ouvir. Fiquei estacionada na frase dita de forma banal: roubar a bicicleta do carteiro.
ROUBAR A BICICLETA DO... CARTEIRO??? Como assim?
Isso é o cúmulo da delinquência juvenil! Pior, muito pior, do que botar gatinhos no liquidificador! (juro, conheço gente que fazia isso)

Quem roubaria a bicicleta de um carteiro? Justo um carteiro, o representante da última instituição respeitável deste país. Um coitadinho que desidrata debaixo do Sol, levando mordidas de cachorros, pisando em sujeira de cachorros e recebendo susto de cachorros escandalosos para entregar coisas que você poderia, simplesmente, receber por email e imprimir.
Que tipo de gente roubaria uma bicicleta de um carteiro?

E ela achou estranha a minha indignação:
-Claudia, minha querida amiga, você nuuuuuuuunca roubou a bicicleta de um carteiro?
Não.
Shit...

-Oh, yes, wait a minute Mr. Postman!!!
Wait, wait Mr. Postman!
(Beatles)
Ela diz que não era pela bicicleta em si e que é ÓBVIO que ninguém ficava com a magrela para sempre. Faziam apenas para vê-lo sair correndo implorando:
-Ô menina, faz isso não. Por favor!!!
E depois deixavam a bicicleta na esquina.
Gozado mesmo.
Puxa vida, nunca nem pensei que isso seria uma diversão possível. Desperdicei a infância pulando elástico e jogando adolecá.






E, prá piorar, nunca passei trote. E nem bati a campainha e saí correndo. E nem fugi de casa escondida. E nunca fumei no banheiro da escola. E nem tomei um porre. Nunca fiz uma tatuagem. Tenho só dois (DOIS!!!) furos no meu par de orelhas. E nunca... pintei o cabelo!!!
Drogas? Não, jamais.
E nunca entrei num sex shop!! (descobri outro dia que sou uma exceção)
E nem............ hunf, sou mesmo um fiasco.

Outro dia li na Playboy: 10 experiências sexuais que você precisa ter antes de morrer.
1- Participar de uma suruba.
2- Participar de outra suruba.
Hahaha, conclusão: é óbvio que vc precisa estar numa orgia uma vez na vida!
Mas nunca estive e, pelo andar da carruagem, nunca estarei.
Triste mesmo.
Estava me sentindo o ser mais careta e boboca do mundo quando uma amiga me consolou:
-Clau, acho que vc nunca ficou bêbada porque você nunca precisou.

Bingo! Direto na mosca!
Sim, claro!!! Pode bem ser.
Sou uma pessoa tão feliz e madura que nunca precisei de um porre para afogar as mágoas. Sou tãããão bem resolvida que nunca precisei ficar bêbada para tomar coragem na paquera.
Há! Não preciso fumar para parecer mais sexy (mais? hahaha). E o meu cabelo deve ser tão lindo que eu nunca desejei mudar a sua cor. Talvez nunca pedi socorro ao sex shop para apimentar uma relação porque também não senti necessidade disso. E nunca recorri a uma suruba para....
Para que serve mesmo uma suruba?
Whatever.
Uhuuu! Sou super bem resolvida!

Ou não.
Talvez eu seja a pessoa mais covarde em termos de desafios que já pisou na Terra. Muito, mas muito mais que a minha interlocutora acima que se preocupava com o seu conformismo diante da vida. É bem possível que, por algum distúrbio neuroquímico, eu não tenha adrenalina correndo nas minhas veias para me dar ao luxo de ser um bocadinho transgressora vez ou outra.
O perigo me deixa aflita. A dor de macular o meu corpo (e a minha alma) com uma intervenção qualquer não paga o preço de ser ousada. E com isso, talvez, eu perca as coisas divertidas da vida.

Esta semana li no Facebook:


-Cara, vale muito a pena!!!!
"Duas dores que valem a pena: tatuagem e alargar a orelha".
E os mil comentários abaixo da frase estúpida concordavam. "Só", "Falou tudo".
Então tá. Quem sou eu para discutir? Para mim as duas dores que valem a pena é vacinar e perder a virgindade. Uhhhhh, que ousada!!!! Viu como sou uma idiota?






Para mim nenhuma dor dispensável vale a pena. No corpo ou na alma. E ela se torna dispensável quando você, simplesmente, não enxerga os fins.

E eu não enxergo nada.

Bom, mas como tudo na vida é experiência, eu, com isso, ganhei um novo bordão. Agora toda vez que alguém disser que teve uma infância infeliz eu vou poder lançar:
-Quê?? Você NUNCA roubou a bicicleta de um carteiro????? Como assim?
Ou vou poder dar tapinhas no ar com a mão direita e falar com um ar de superioridade:
-Ah, pelo amor de Deus, Aninha, você nunca roubou a bicicleta de uma carteiro! Você simplesmente não conhece o lado negro da vida.
E, finalmente, quando alguém me fizer uma proposta indecente, poderei rapidamente retrucar:
-Não, não, obrigada. Não sou do tipo que rouba bicicletas de carteiros. Sou amiga dos carteiros. Sou como Pablo Neruda. Só que sem a boina...

"Quero apenas fazer contigo
o que a primavera faz com as cerejas." 
(Pablo Neruda)


PS: depois de passar quase uma hora por entre as lindas frases do Neruda, optei com essa. Tão pequena e tão poética. E tão erótica... e tão misteriosa. Quase um haicai.