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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Hello=IN , Saci-OUT

A polêmica do dia de hoje é a disputa pela atenção das crianças.
De um lado o Halloween, traduzido aqui como "Dia das Bruxas" e comemorado apenas entre as crianças mais ricas e/ou cujos pais tenham conhecimento acerca da famosa festa da gringolândia. Do outro lado do ringue, o inusitado Dia do Saci, curiosamente comemorado no mesmo dia devido a uma incrível coincidência.

E aí? Qual é a preferência da garotada? Conde Drácula ou Saci?
O Vampiro, claro!
E a derrota do Saci pode ser encarada de vários ângulos. Tudo pode ser interpretado de uma forma maluca quando se tem um pouco de criatividade e paranóia.
Ela pode ser transformada numa briga de classes (um moleque que mora num bambú contra um conde que mora num castelo), uma questão puramente racial (o muito branco contra o muito preto) ou ainda pode ser reduzida aos dois grupos extremistas e chatos onde um diz que tudo que vem vem de fora é legal e o outro (ainda mais chato) tenta valorizar a qualquer custo a cultura local.

Levando em conta que Jung um dia me fez acreditar no inconsciente coletivo como uma verdade incontestável, digo aqui que não existe nacionalidade para uma lenda. Frankenstein, Boi Tatá, Bicho Papão, Monstro do Lago Ness, tudo está jogado no mundo para ser vivenciado da melhor (ou pior) maneira possível por todas as criancinhas do mundo.
É um presente do universo simbólico para qualquer mente fértil e medrosa.
Ok? Entenderam? Não existe isso de autoria de monstros e lendas. O que existe, na minha opinião, é o sucesso que a coisa faz  na cabeça do público.

Aí entramos em um outro assunto: a Disney modifica e censura algumas importantes passagens das histórias clássicas que ela tão lindamente adapta para os seus filmes. E, por ser americana e rica, sempre foi recriminada por isso. Pobre Disney.
Uma tentativa estilosa de tornar o
Saci um pouco menos babaca.
Mas vale lembrar que Monteiro Lobato e o diretor Geraldo Casé também fizeram isso com o nosso amigo Saci Pererê no Sítio do Pica-Pau Amarelo, tirando dele toda a insanidade da sua personalidade borderline.
O Saci do Sítio é insosso e pouco atrevido. A única coisa legal nele era a estranha amizade com a Cuca. Emília, sim, era bacana demais!!! Ultra inteligente, pernóstica, metida e maldosa na medida certa.
E Ziraldo, prá piorar, acabou e vez com imagem do menino fazendo a péssima Turma do Pererê.
Saindo do folclore e voltando aos monstros europeus, Maurício de Souza também faz um desserviço ao medo desmistificando a coisa com a turminha do Penadinho (que eu particularmente odeio), deixando todos fofos e engraçadinhos.





Bom, a tentativa de amortecer a tragédia para que as crianças façam uma leitura mais amena do submundo da vida é compreensível. Uma tentativa amorosa (embora frustrada) de poupar nossos filhos do drama.
Nada de errado com isso.
Mas desta forma, o Sítio do Pica-Pau Amarelo deixou na minha mente infante uma idéia equivocada do Saci Pererê que, definitivamente, nunca instigará em mim sentimentos fortes e passionais.
Quer um trabalho bom que leva o Saci a sério? Histórias do Saci Pererê da Coleção Disquinho!!! MORRIA de medo do Saci e da história. link aqui


Coleção Disquinho: uma forma inteligente de juntar numa mesma história (engraçada e assustadora)
o Saci, Bruxas e Fantasmas.
Coleção Disquinho: pioneira no processo de inclusão de monstros e lendas.
Muito bom mesmo!
Tirando isso: Saci sucks. Uma festa para ele seria um fiasco.

Há algum tempo li sobre um clube de futebol xinfrim que tinha o Saci como mascote. Não achei o link da história, mas a questão é que o diretor do clube sugeriu que tirassem o negrinho do posto porque, segundo ele, um deficiente físico, fumante (ele não falou negro, mas deve ter pensado) não passa a imagem de um atleta de sucesso.
 
Este não é um atleta de sucesso.

Ai, ai, é incrível como existe gente que consegue dar foras homéricos em uma única frase.
E ainda tem um povo babaca que diz que o cachimbo do Saci remete ao crack e dá um exemplo ruim para as crianças. Bah...

Eu poderia brincar aqui pedindo para que o Halloween se torne então uma festa inclusivsa, exigindo que haja cotas para todas as minorias discriminadas: negros, deficientes físicos, fumantes e sem-teto. Saci teria grandes chances de entrar na brincadeira já que preenche muitos requisitos.
Se ele fosse gay, então, a coisa estaria garantida, hahaha.
.............
Bom, pensando bem, talvez ele seja.

Mas estas piadas são bobas e sem graça.

A verdade é que o Saci não tem apelo simbólico para as crianças, e bom é aquilo que a gente gosta.
Ponto final.
O Saci não tem um figurino atraente (aliás, não tem figuirino nenhum), não tem nada de assustador ou heróico e, prá piorar a coisa, ter que caminhar como ele dá um trabalho danado.
Já sei! Quer fazer um dia do Saci?? Obrigue as crianças a andarem com uma única perna por 24 hs, subindo escadas, andando de ônibus e frequentando a escola regular. Isso sim é um dia de Saci útil e inesquecível!

Mas não venham me convencer de que o moleque merece algo além do pouco que ele propõe. E não é por ele ser pobre, nem negro, nem fumante, nem deficiente e muito menos brasileiro.
Escrava Anastácia era quase tão igual a ele e já me tirou o sono por mil noites. Entre ela e as bruxas, fantasmas e vampiros, pode ter certeza que a pequena Anastácia amordaçada mexeu muito mais com os meus medos inconscientes.


E, além de tudo, desmerecer o reinado de Conde Drácula é ignorar a soberania absoluta do mal.

Não sejamos inocentes...







terça-feira, 25 de outubro de 2011

I WANT YOU!


Meu avô tem 90 anos e não tem email e nem celular, mas ninguém obriga ele a ter.
Meu sogro tem 60 anos e também não tem nenhuma das duas coisas, e todo mundo fica puto da vida com ele por causa disso!!! É um absurdo ele viajar de carro, sozinho, e ninguém conseguir acessá-lo na estrada simplesmente porque ele não tem celular. Os seus amigos dizem: "Dá o seu email para eu lhe mandar as nossas fotos.", mas o meu sogro sorri e diz que não tem.
E o povo fica chocado.
Bom, ele também não tem Facebook, mas ninguém exige isso dele.
Minha amiga tem 40 anos. Tem celular e email (claro!), mas não tem Facebook. E todo mundo fica bravo com ela por causa disso!

Conclusão:
  • Se você nasceu depois de 1901 você precisa, obrigatoriamente, ter certidão de nascimento.
  • Se você nasceu depois de 1921 você precisa ter telefone celular (de preferência também precisa saber usar e deixar carregado fora da gaveta!).
  • Se você nasceu depois de 1951 você precisa ter email. É uma exigência profissional e social e vc precisa cumprir.
  • E se você nasceu depois de 1961 você, obrigatoriamente, precisa ter Facebook.

Entenderam?
Não é uma questão de filosofia de vida. Não é uma questão de ter ou não ter tempo livre para a rede social.
Tem que ter e ponto final. Igual RG, igual CPF.
É de graça, não é difícil de abrir uma conta e não dói nada. Dica: se você tiver alguma dificuldade para entrar, peça ajuda para o seu sobrinho de 7 anos.

Mas é incrível como tem gente jovem que ainda não entendeu esta exigência moderna. Tenho 4 super amigas que não estão no Face e nunca nem entraram para ver como a coisa azul funciona.
Elas (engraçado isso!) não se sentem... obrigadas!!!! Acham que é uma escolha. Que elas tem todo o direito de se excluirem do movimento Facebuquístico.
E agora eu lhes digo:
-Não, este é um direito que vocês NÃO TEM, ouviram?
Quem mandou viver na atualidade?

Há uma festa sendo organizada neste exato momento entre 40 amigos meus que moram em cidades e até países diferentes. Pessoas da minha idade.
Metade da festa estava sendo organizada via email (chato!!!!!) e a outra metade via Facebook. O povo que não tinha Facebook (existe isso, eu conheço!) se sentiu excluido e reclamou. Exigiu que o email fosse a única forma de comunicação para que a coisa fosse compartilhada entre todos, democraticamente.
Bom, analisando a queixa deles posso dizer sem sombra de dúvida: eles estão errados e não podem reclamar.

Quem tem menos de 50 anos e não está no Facebook está em dívida com os seus parceiros de vida e não cumpre uma exigência da modernidade.
Email é uma forma de organização para excursões da terceira idade. Se bem que acho que até eles se ofenderiam ao me ouvir falando assim.


-Levanta a mão quem aí tem Facebook???

Ops, foi mal.

A geração que passou a infância ouvindo Balão Mágico e dançando música lenta nos bailinhos das garagens não pode mais organizar uma festa por email. Tem que criar um grupo privado no Facebook, inserir os convidados no grupo e, então, começar a troca de opiniões sobre data e local.
Tãããão mais fácil para os organizadores.

Fui este mês num evento familiar (enterro é evento? é, né?) onde revi pessoas queridas que eu não via há muito tempo. Na hora da despedida não houve troca de telefones e muito menos de email.
O papo agora é assim:
-Qual é o seu nome no Facebook? A sua foto tá no perfil? Ah, então tá, Claudinha, vai ser fácil te achar. Tchau querida.
E em menos de 1 hora já havia convites sendo feitos via rede para iniciarmos a amizade virtual.
Fácil demais.

Agora reparem bem: ninguém, em momento algum me perguntou:
-Claudia, você tem Facebook?
Pergunta estúpida! É claaaaaaaaaro que eu tenho Facebook já que tenho menos de 50 anos.
É uma informação que está subentendida.
Se perguntassem isso para mim eu poderia, inclusive, me sentir ofendida por alguém achar que eu tenho cara de velha.

-Como assim: "Você tem Facebook?"  ?
Hahahahahaha! 

E olha, esquece esse papo bobo de que o povo que tem 800 amigos no Facebook, às vezes, não tem nenhum amigo de verdade.
Nada de sentimentalismos, ok?
E nem venha também com a história de que você prefere conversar com os seus amigos ao vivo do que vê-los numa tela.
Ahhhhhh, jura????
Dãããããr.
Isso é óbvio.

Não é disso que se trata a coisa.
Facebook é um endereço pessoal como qualquer outro. Que nem celular, que nem email. É uma maneira de facilitar a vida das pessoas que precisam te achar ou que apenas (apenas?) gostam de você e sentem saudades.
E é claro que você não precisa gastar horas no negócio e nem se dar ao trabalho de ver todas as gracinhas e fotos dos seus amigos.
Não!
Deixe isso para quando você já estiver viciado na coisa, muáááááááááááá (risada macabra, levantando a cabeça e tremendo os dedinhos das mãos)

Ou seja:

"Rede social é que nem bunda. Todo mundo tem que ter, mas o que você vai fazer com ela é de responsabiliade inteira sua. Se você vai usar ela para joguinhos babacas, se vai abrir para um ex-namorado, se vai deixar qualquer um entrar... azar o seu!"

Hahaha, excelente a comparação (modéstia à parte)!

Mas é fundamental que você abra o seu Face de 3 em e dias, no mínimo, para responder as mensagens direcionadas à sua pessoa e aceitar as solicitações de amizades de gente que deseja entrar em contato com você.
Entenderam?

Ah, e vale lembrar: como sou psicóloga, tenho muitas colegas de profissão que não tem Facebook porque acham que não podem se expôr na web. Acreditam que perderiam a privacidade, o distanciamento profissional e comprometeriam a relação com os pacientes.
A estas pessoas eu digo: existe nos bastidores uma coisa chamada restrição aos "não amigos".
Fácil demais.



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Campanha pró-constrangimento

"Vaca amarela
Caiu na panela
Quem falar primeiro
Come tudo a bosta dela".


E na sequência vinha loooongos minutos de silêncio e risadinhas contidas.

Hoje eu entendo que a parlenda para ser chocante e ameaçadora tinha que fazer referência a uma vaca AMARELA, senão nunca haveria silêncio por parte da molecada. Se a vaca fosse azul ou vermelha a coisa não daria certo.
Por quê?
Porque tudo que é nojento e indesejado neste mundo é amarelo.
OBS: Conheço também a versão com "pulou a janela" e "cagou na panela". De novo um esforço surreal para encaixar a cor amarela na história, forçando rimas malucas.


"(...) soltaste aquele pum no elevador
e todo mundo disse: Eu acho que foi ela!
E você se entregou mostrando sua mão amarela.

Adelaide!
Minha anã paraguaia
Adelaide, minha anã..."

(Inimigos do rei)

Hahaha, essa música é muito legal!

Quando somos covardes dizem que a gente "amarelou".
Espinha feia é amarela, catarro nojento é amarelo, língua absurdamente asquerosa é a amarela, cabelo mal cuidado se torna amarelo, dedo manchado de fumante fica amarelo e horrível (e o bigode também) e hematoma se torna insuportavelmente feio quando muda do roxo para o amarelo. Dá um desprazer danado em olhar.
Sem falar na cor das fezes mais feias do mundo!

Quando os Beatles diziam que "We all live in a yellow submarine" era apenas uma maneira psicodélica deles concluirem que estamos todos na mesma merda.

"No domingo depois do almoço,
no fundo da pança um bom macarrão.
As pessoas vão pro sub,
no fundo do mar a digestão.
Digerir no sub,
Digerir no sub,
marino amarelo"
(Os Mulheres Negras)



E, prá terminar a sessão escatológica: o xixi do César Cielo é amarelo.
Claro.
O meu também.
Mas outro dia ele declarou que faz xixi na piscina quase todos os dias, e isso é nojento demais!!
Eu nunca fiz xixi na piscina e, acreditem, nem no mar.
Sim, sou mesmo uma lady, hahaha.
Mas é que nunca precisei ficar 5 horas seguidas nadando numa piscina olímpica sem poder sair para usar o banheiro. O atleta não tem outra alternativa a não ser fazer lá dentro. Óbvio.

Ivete Sangalo também disse que faz xixi no trio elétrico. Toma litros de água de coco e fica a madrugada inteira pulando no caminhão. Aí é claro que o xixi escapa mesmo, coitada. Além do mico ela deve ficar assada e dolorida! E não dá para parar porque a galera paga muito caro num abadá para ela se dar ao luxo de descer do caminhão para fazer o seu xixizinho.



"Ohhhh, fricote, eu fiz xixi.
Fricote, eu fiz xixi
na Música Popular Brasileira
(Rita Lee e Paulo Coelho)


Ok, Cielo e Ivete estão perdoados.
O resto não!!!!

Eu fiquei adulta sem nunca saber a verdade acerca do famoso líquido jogado na piscina que deixa um círculo cor de rosa em torno da pessoa que faz xixi na água.
Quando eu era pequena todo mundo morria de medo da tal armadilha para crianças mijonas, mas nunca ninguém viu a coisa realmente funcionar. Era praticamente uma lenda urbana, como a loira do banheiro ou os discos que falavam coisas demoníacas se fossem ouvidos de trás prá frente. Sempre acontecia com um amigo do primo do vizinho, mas nunca com ninguém próximo.
Porém, há pouco tempo eu li que o tal líquido existe sim, mas nunca pôde ser usado porque iria constranger os usuários da piscina.
Hãããããã????????? E aonde está o problema nisso???

-Não devemos flagrar os pedófilos porque eles podem ficar envergonhados.
-Não podemos filmar os policiais corruptos porque eles poderão ser demitidos por justa causa.

Agora respondam:
Quem na foto acima está com cara
de que está mijando na água?
Hahaha, não é exatamente esta a intenção de um flagra?
Se sentir constrangido numa piscina lotada não é uma punição perfeita para um xixi fora do lugar??
Nada como uma bela humilhada para fazer as pessoas repensarem os seus atos numa próxima vez.
Mas não, os direitos humanos pelo visto também já chegaram também na defesa das porquices em lugares públicos.
Hoje pesquisei e descobri que os mijões podem, sim, processar o clube por danos morais caso o líquido mágico os acuse.
Juro! (juro que é verdade e... pior...juro que eu gastei tempo pesquisando isso!)

Bom, mas o problema maior de César Cielo é que, além de fazer xixi na psicina, ele tem também uma superstição maluca para vencer a corrida. Eu vi com meus próprios olhos, ao vivo, semana passada no Pan! Antes de entrar na piscina o rapaz pega com a mão um gole da água e... bebe. Levando em conta que todos os outros nadadores profissionais também devem mijar durante os treinos, a concentração de urina numa piscina de elite é altíssima.
Que nojo!
E o pior é que a urinoterapia fez ele ganhar o ouro.

"César Cielo,
mijou amarelo.
Quem quiser chegar primeiro
bebe todo o mijo do belo."

E Cielo é mesmo tão belo, tão belo que eu até deixaria ele fazer xixi... esquece, deixa prá lá.
Bom, com exceção dos atletas, eu imploro:
Por favor parem de urinar na piscina, ok? É absolutamente nojento e egoísta.

E agora dane-se o tal constrangimento.

 Quem desobedecer a regra está com o pé amarelo.



Valendo!!!!!!!!!




PS: É óbvio que eu, nadadora amadora (porém fiel), tenho uma razão pessoal para postar isso aqui!

sábado, 22 de outubro de 2011

Que Mário?

-Gata, se tu sair comigo hoje eu tenho certeza que vou conseguir fazer você se esquecer do Pedro.
-Que Pedro?
-Tá vendo!!! Já tá esquecendo...

Hahahaha, a-do-ro esta cantada. Queria ser um homem bem babaca, sem uma gota de auto crítica, só para aplicar o golpe em alguém.
O duro é se a mulher realmente é apaixonada por algum Pedro. E estatisticamente existe esta possibilidade, claro.


Igual à pegadinha do Mário.
-Você conhece o Mário?
-Que Mário?
-Aquele que te comeu atrás do armário.

Mas, de novo, se existe mesmo um conhecido Mário a piada perde a graça porque a pessoa responderá "Conheço".
Toin oin oin.

Ai, ai... sou mesmo uma tonta. Não posso ouvir falar de alguém chamado Mário que logo lanço a pergunta (mesmo que em pensamento): "Que Mário?"

Não conseguiria nunca namorar com um Mário. Putz, definitivamente não daria certo. O nome do cara iria me tirar a concentração a todo momento e me deixaria ansiosa na hora de falar dele em público:
-Gente, preciso ir embora porque vou jantar com o Mário.
E mesmo que ninguém me dissesse nada eu teria certeza de que minhas amigas estariam pensando: "Tomara que no restaurante tenha armários!"


Nope! Nenhum armário por aqui.

É que, prá piorar, o único Mário que eu conheço é gay. Um homem gay chamado Mário é quase um pleonasmo, como "subir prá cima" ou "sair prá fora".

Bom, a verdade é que Mário Gomes sofreu horrores por ter este nome infame. Acabou com a sua fama de galã e saiu de cena de uma dia para o outro, graças a uma fofoca corriqueira de pronto socorro. Bobagem. Coisa à toa que mais cedo ou mais tarde acontece com toda celebridade, mas com ele foi pior justamente por ele se chamar Mário.
Tenho certeza que, se ele se chamasse Rodrigo ou Fernando, o seu destino não seria tão trágico. A culpa não foi da cenoura (inocente, diga-se de passagem). A culpa foi do fato dele se chamar Mário.
-Que Mário?
-Aquele que a cenoura comeu atrás do armário.
Putz, ele deve ter ouvido isso taaaanto.
Tadinho.
E, com isso, a sua credibilidade foi para o saco.

Hahahahaha!!!! Esta foto é muito boa!
Mário Gomes fantasiado de Mário Bros.
-Pessoal, o Mário foi fantasiado de Mário na festa do Halloween.
-Que Mário?


Por isso, hoje, vou acabar com a maldição dos Mários e exorcizar de vez essa história. Cansei de ser boba, infantil, e sempre lançar a piadinha infame na roda.
Vou listar todos os Mários que conheço e pensar neles o dia todo até calejar. Até o nome ficar familiar e banal para mim.

1) "A beleza de uma mulher deve vir acompanhada de algo de loucura e humildade." (Mário)


2) "Gosto e preciso de ti, mas quero logo explicar. Não gosto porque preciso. Preciso, sim, por gostar" (Mário)


3) "O oposto de dor é prazer. O oposto de alegria é tristeza. O oposto de felicidade é ateísmo" (Mário)


4) "Só um idiota pode ser totalmente feliz" (Mário)


5) "Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo" (Mário)


6) "A paternidade foi a minha tragédia e minha sorte." (Mário)


E o desafio está lançado:
Qual Mário disse qual frase? Detalhe: é uma frase para cada Mário!!!
Respondam rápido:

-Que Mário?
A) de Andrade
B) Lago
C) Gomes
D) Quintana
E) Testino
F) Vargas Llosa

Ok, vou nessa. Muita gente aqui se preparando para a tal festa.
E para retribuir a homenagem:

Mário Bros. irá fantasiado de Mário Gomes


-Fala aí Cenourinha, beleza??
-Firme, mano!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

3 é demais!!!

Era uma vez 3 Porquinhas que viviam na floresta. 
A porquinha mais preguiçosa era a Medicina. Só se preocupava com a vida e nunca se preparava direito para as ameaças que rondavam a sua casa. A segunda, também um pouco preguiçosa, se chamava Lei e a mais trabalhadora e prática era a porquinha chamada Religião.
As três viviam felizes em suas casas, mas foram alertados pela sua mãe, a Dona Moral, que precisavam se proteger de alguns lobos muito, muito malvados chamados Tabús.


Um dia o Tabú da Homossexualidade apareceu na casa de palha da Medicina:
-Abra esta porta que eu quero entrar!!!!
-Não abro, não abro, não abro não!!!!
-Então eu vou provar que sou psiquicamente saudável, não sou perverso, minha racionalidade está em perfeita ordem e nenhuma patologia poderá me definir!!!
O porquinho da Medicina bem que lutou contra o Tabú da Homossexualidade. Catalogou ele em diferentes CIDs, examinou o cérebro para provar a aberração... mas o Tabú da Homossexualidade soprou, soprou , soprou e derrubou a casa da Medicina em 1993 (poquíssimo tempo, né?) e ela percebeu que perdeu a luta:
-Não consigo me defender contra o Tabu da Homossexualidade!!! Tá bom, tá bom, eu me rendo, você é saudável e normal!!!!
E desde então a OMS define que existem 3 orientações sexuais (em alguns casos 5!) aceitas e respeitadas pela sociedade médica.
E a Medicina correu para a casa da sua irmãzinha, a Lei.


Logo o Tabú da Homossexualidade foi bater neste segunda casa:
-Abra esta porta que eu quero entrar!!!!!
-Não abro, não abro, não abro não!!!
-Então eu vou provar que estou tendo meus direitos violados! Que preciso garantir segurança para a minha família depois da minha morte, preciso incluir meus parceiros em planos de saúde. Vou exigir o direito de adotar crianças, preciso ter uma declaração de união estável e um casamento decente para me sentir feliz e tranquilo.
Esta segunda casa foi beeeem mais difícil. O lobo precisou soprar muito, precisou de muita ajuda, mas um dia a casa caiu e muita coisa foi derrubada.

E as duas porquinhas, sem nada para protegê-las, correram para a casa da Religião: toda firme, elegante, feita de tijolos, com janelas gradeadas cheia de cadeados.


Logo, logo o Tabú da Homossexualidade foi bater lá também.
-Abra esta porta que eu quero entrar!
-Não abro, não abro, não abro não!!!!
-Então eu vou provar que Deus me fez assim. Vou provar que, como diz Milton Nascimento, "Qualquer maneira de amar vale a pena", vou te mostrar que, na natureza, a homossexualidade é uma constante, vou te dizer que meu amor por Cristo independe da minha condição sexual.
E o Tabú da Homossexualidade soprou, soprou, soprou tanto que ficou cansado e triste.
Ele queria muito entrar na casa de Deus.


Entrou então pela chaminé. Um jeito errado e mal educado de entrar na casa dos outros. Ele bem que tentou entrar pela porta da frente com dignidade e orgulho, mas não o deixaram. 
E a chaminé era um lugar sujo, escuro, obviamente perigoso e também muito apertado. E o Tabú da Homossexualidade ficou preso lá para sempre. Está, tecnicamente, dentro da casa da Religião, mas o dono da casa finge que não vê e os porcos vivem assim, felizes para sempre.


-THE END- 

E esta história tem variáveis.
Uns chamam os 3 porquinhos de
Os 3 Patetas: bobos, inúteis e hipócritas.




OU...
 


...Os 3 Mosqueteiros: valentes, éticos e protetores
Não importa o nome.
O legal é perceber que, para conquistar definitavamente a sociedade, um tabú precisa derrubar a resistência destas 3 instituições: a Medicina, o Direito Civil e a Religião.
E aí entramos no assunto do post anterior.
O suicídio, e todas as suas variantes (eutanásia, suicídio assitido e ortotanásia), violam as regras básicas das 3 instâncias e POR ISSO é tão chocante e não aceito em nossa sociedade, a famosa "judaico-cristã ocidental". 

A Medicina luta pela manutenção da vida. Raros são os médicos que aceitam um pedido da família para desligar os aparelhos porque isso sempre terá que ser feito escondido, por baixo dos panos. E também é sabido que um suicida não é uma pessoa bem vista num pronto socorro. Já ouvi de um médico:
-A gente aqui se desdobrando para salvar gente e o cara chega a aqui gritando, com raiva, porque o tiro não o matou.
Os suicidas perturbam o pronto socorro e tiram o lugar de gente que deseja viver. A medicina, definitivamente, não abraça a causa.

O Direito nega benefícios para os suicida. Família de suidicas não tem acesso ao seguro de vida, como se fosse uma escolha, fria e calculada, se matar para beneficiar os filhos!  

E a Religião não aceita que qualquer um de nós defina a hora da morte. Só Deus! Ouvi esta semana de um homem: "Deus é o maior assassino do mundo, porque só ele pode matar."
Uhhhhh, pesado isso, né? 
Em alguns cemitérios cristãos os suicidas recebem um espaço reservado apenas para eles. Ouvi falar que na religião judaica eles são enterrados de cabeça para baixo.
Ou seja, não é algo bem quisto por lá também.
E como se não bastasse todo o drama familiar ao perder um filho por suicídio, ainda encontramos religiosos afirmando que eles não vão para o céu ou, pior, não conseguirão fazer a "passagem" facilmente e reencarnarão confusos e angustiados.
Sacanagem.

Dizem que Deus sempre dá a cruz de um tamanho que possamos carregar.


-Vamos garotinho! Força! Você consegue!!


 
Bullshit.
Se todos conseguissem não haveria tantos suicidas no mundo.
Mas isso os 3 porquinhos não vêem de dentro de suas casinhas blindadas.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Eu Tanásia, Tú Tanásias, Eles Tanasiarão...

... se quiserem.

Já escrevi aqui sobe o aborto e apaguei. O que sobrou foi a explicação do porquê eu apaguei ("Quebrando ovos e não fazendo omelete nenhum"). Já defendi a escola pública, já redimensionei o bullying, já disse que House é o meu deus supremo e absoluto.
Deixa eu ver... o que sobrou aqui no meu kit "Sou Polêmica Pacarai".
Deixa eu pensar.
Eutanásia?

Não!!!!!!
Enfiar a eutanásia goela abaixo dos meus leitores seria tão amoroso e sutil quanto alimentar um ganso para preparar um foie gras.
PS: pobres gansos!!!!!!
Eutanásia ou a pena de morte seria indigesto demais para um bloguinho superficial como este que vos fala.
Eutanásia é para o Dr. Kevorkian ou a enfermeira fofa que ajudou no suicídio assistido de dezenas de velhinhos. Não, não estou sendo irônica! Ela era fofa mesmo!!
Eutanásia é para blogs profundos e polêmicos.

Aqui hoje, vou dissensibilizar o povo com a ortotanásia.

Ortotanásia é o que eu poderia chamar de eutanásia passiva. Não há a intenção de provocar a morte num paciente terminal, mas sim de interromper todo e qualquer procedimento médico que o mantenha vivo, deixando a natureza seguir seu curso.
A ortonanásia, é o famoso "desligar dos aparelhos" para proporcionar uma morte indolor.

Concordo com ela e acho isso importante para respeitar a dignidade de um paciente que avisou antecipadamente que não desejaria pagar qualquer preço para ter um coração batendo. Acredito ser importante para libertar a família da angustia da espera e fundamental para desafogar as UTIs tão saturadas de pacientes resistentes à uma morte inevitável.

Claro que o paciente precisa estar realmente nas últimas (cá entre nós, para mim não é tão claro assim, mas a gente começa falando que é claro para não provocar pensamentos complexos demais na galera).
Existem diferentes níveis de estado de coma. Existem prognósticos óbvios e outros mais incertos. E um prognóstico indubitavelmente fechado, nulo, "morte certa" é um bom começo para pensarmos em abreviar a morte de um parente querido.
Mas, para complicar a coisa, existem milagres que fogem à compreensão científica.
Um homem em 1984 sofreu um acidente de carro e ficou 20 anos em coma profundo. Acordou um belo dia e pediu uma Pepsi. Ia ser o melhor merchandising do mundo se alguém tivesse filmado.
Sim, milagres acontecem!!
E o cara, incrivelmente, pode preferir Pepsi do que Coca-cola, hahahaha.

Mas vale lembrar que o homem era saudável e estava apenas sofrendo danos localizados em seu cérebro. O resto do corpo estava bem.
E se o fígado já começa a falhar, os rins precisam de diálise o pulmão exige a ajuda de uma traqueostomia?? O que pensar nessa hora? Que o cara vai acordar e pedir uma Pepsi?? Bah...


Há anos atrás um submarino russo afundou nas profundezes de algum mar gelado. Ficaram lá por dias, semanas até que desistiram do resgate e usaram o comprimido de cianureto reservado para momentos críticos.
Os astronautas também viajam com um desses.
Cianureto: "Não saia da estratosfera sem ele!!"

E agora a pergunta: Porque soldados na guerra, astronautas e tripulação russa do submarino podem se dar a este luxo e ninguém acha ultrajante eles quererem abreviar o próprio sofrimento?
E, na minha modesta opinião, mesmo se suicidando e, teoricamente, violando a lei divina, tenho certeza absoluta que eles foram abolvidos no julgamento final. Claro!! Imgina a sacanagem julgar o cara na porta do céu depois de todo o perrengue que ele passou.
-Você foi um bom homem, trabalhou bem pelo seu país, mas, ao invés de ficar 28 dias embaixo do oceano vc preferiu ficar só 23. Merece o inferno por isso e vai reencarnar como um rato.   
Não, Deus não seria tão mau.

"Em caso de emergência quebre o vidro!"
Será instalado um destes em todos os
 presídios, hospitais, asilos e
shows de axé!! 
Então a minha dúvida é: Por quê não oferecem comprimidos iguais a estes nos presídios, asilos e hospitais? Qual a diferença entre um astronauta perdido no espaço e um velho doente cansado de sofrer?
Além de tudo proibem as pessoas de se suicidarem nestes estabelecimentos colocando grades nas janelas altas e retirando no local todo objeto que possa se transformar em corda ou faca.
Super sacanagem! Algum órgão defensor dos direitos humanos deveria lutar contra esta proibição e deixar as pessoas decidirem sozinhas o que é mais suportável para elas.
E até o cara já condenado à pena de morte não tem o direito de se suicidar. Não é um absurdo??
Hello!! O rapaz já vai morrer mesmo!! Mas não, deixam ele gastando dinheiro público no famoso corredor da espera sem fim. Isso sim é sadismo!

Bom, eu fiz a eutanásia na minha cachorra e foi bem bacana. Fiquei com ela no colo fazendo carinho, dando beijinhos e dizendo que libertaria ela do sofrimento. E ela morreu. E eu continuo indo para o céu depois da cadela morta e tenho certeza que encontrarei ela por lá (esse papo de céu é só para ilustrar a coisa, tá?).
E fizeram a ortotanásia na minha avó quando as complicações dela mostraram que o caminho não tinha volta. E foi bonito e sereno. E ela certamente estará me esperando com seu cheiro doce e seu carinho suave com as unhas, tão característico dela.
A eutanásia na minha cachorra e a ortotanásia da minha avó não prejudicou nossa trajetória espiritual nesta vida e nem nos fez regredir no complexo sistema de pontos das reencarnações.
Sabem por quê? Foi amoroso. Foi um gesto de respeito e carinho, e não um assassinato cruel.

Agora pergunto: Por quê podemos fazer isso em cachorros e não em humanos?
Porque apenas os cães podem ter este privilégio??

Ok, vou parar por aqui porque o ganso já está afogando de tanta informação. Prometi não falar de eutanásia, mas falei. Mas foi com amor, não é? Foi gentil e suave.
Meu foie gras será feito com carinho nos meus leitores. Vou parar por aqui. Darei outras informações importantes apenas amanhã para facilitar a digestão.
Prometo.

domingo, 16 de outubro de 2011

Néctar dos Deuses Indecisos



Vocês já colocaram algo vermelho e rígido na boca que solta um caldo amargo e estranhamente doce?
Enquanto o caldo invade todas as suas papilas gustativas você, de repente, se lembra de que lá existem dezenas, talvez centenas de minúsculos bichinhos que, naquele exato momento, provavelmente nadam pela sua boca mas, mesmo assim, você adora e prefere abstrair a realidade absurda da coisa e se manter apenas na insanidade daquele sabor?
Sim??
Ok, vocês já comeram uma pitanga.

Não conheço sabor mais exótico do que o da pitanga.
É amarga e doce. Ruim e boa em proporções insuportavelmente iguais.
E mais do que tudo, a pitanga é linda. Uma miniatura de abóbora perfeita, que vai ganhando colorações cada dia mais vermelha até cair cansada e murcha.
Lembra alguma coisa? Sim.
Na minha opinião a pitanga deveria ser a fruta que Eva comeu no paraíso, porque nenhuma outra representa melhor o sexo, justamente por suas contradições.
A maçã é óbvia e doce. Aliás, sem graça de tudo! Nada é mais insosso do que uma maçã.
A pitanga não.
Minha querida pitanga é sedutora com seu brilho encerado, sua cor viva por entre as folhas claras e ternas, sua semente redonda e lúdica e... seus mil bichos sempre à espreita para te chocar.

Uma vez li que PITANGA é o nome do bicho que mora dentro da fruta. E a pequenina fruta ganhou o apelido de pitanga justamente pela abundância de vermes.
Mas a gente tem que aceitar a pitanga sem olhar. Nos submetermos cegamente à ela, sem a pretensão de compreender a natureza do bicho. Sem a curiosidade de investigar seus prejuízos (ou benefícios) para a saúde.
E mais do que tudo, sem pudor.
O bicho está lá. Certamente está. Deal with it!
Temos que comer uma pitanga sem fuçar, sem querer saber o que tem dentro. Só assim conheceremos a felicidade contida na fruta.

E mais uma vez, então, vamos falar de sexo.
Igual a pitanga, o sexo tem uma ambiguidade que seduz e assusta.
Temos que aceitar que a coisa é boa e abstrair os bichos que vem dentro do pacote. E os bichos, neste caso, podem ter muitos nomes.
Mas, mais importante de tudo: não devemos achar que, por ser boa, a coisa vai ser fácil e serena. Gostar da pitanga não é a coisa mais tranquila do mundo. E gostar de sexo também não.
Tem gente que passa a vida sem apreciar as dualidades da vida e não existe lugar melhor do que o sexo para se entender onde a dor se transforma em prazer e onde (engraçado isso!) o prazer é tanto que dói.
Onde o salgado vira doce.
Onde a serenidade vira fúria.
Onde o limpo vira sujo e o sujo fica magicamente limpo.
Onde o mundano fica sagrado, onde o pecado vira milagre.

Enfim, coisa para mentes evoluídas.
Não é à toa que ele não é recomendado para crianças. Muito mais do que predisposição física, as crianças não tem a alma preparada para compreender o sexo. A tal ambiguidade erótica não pode ser compreendida justamente pela dificuldade das crianças em conciliar num mesmo ato simbolismos tão diferentes e conflitantes.
Elas não entendem que o carinho é nojento. Que o nojento é gostoso e que o gostoso pode doer.
Isso é confuso demais para uma mente infante.
E muitos adultos também não evoluiram a este ponto.
Esperam algo linear, perfeito, óbvio.
E isso é algo que o sexo NÃO é.

Por isso dizem que o sexo melhora com a idade. Talvez seja mesmo verdade.
E a pitanga é para seres evoluidos e altamente sofisticados.
Que suportam bem o conflito. Que aceitam os bichos escondidos atrás do brilho reluzente. Que toleram as doses mínimas de sabor contidos numa frutinha, sempre tão altas e difíceis de conquistar.
As pitangas não estão nos supermercados, não aparecem o ano inteiro.  E as pitangas não são oferecidas às grandes massas já que nunca são excessivas.
Coisa rara, que se desnuda apenas para os sortudos que sabem apreciá-las.

O sexo também.
Ele não está nas multidões. Na sensualidade do rebolado óbvio. No grito da mídia pedindo atenção.
Isso não é sexo.
O sexo é um arquétipo que, como todo bom arquétipo, vive das contradições.
E a obviedade, definitivamente, não é o seu forte...






segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Presente de grego

Uma adolescente morreu decorrente da bulimia que desenvolvia escondida dos pais. A mãe, arrasada, deu um depoimento impressionante ao dizer:
-Ela queria muito uma suíte. Um quarto lindo com um banheiro só para ela. Juntamos dinheiro e fizemos o impossível para deixá-la feliz. Mas o presente que demos para a nossa filha foi o que a matou.

Demorei para entender a lógica da coisa: a menina vomitava sozinha num lindo banheiro, amorosamente feito só para ela. Tinha todo o tempo do mundo para se desnutrir sem ser incomodada pelo resto da família, ignorantes ao drama da filha.

É claro que isso é uma explicação muito simplista (e ótima para redimir a mãe da culpa pela cegueira absurda em relação à garota), mas não deixa de ter um fundo de verdade.

Na casa da minha irmã isso, definitivamente, não aconteceria.
São 4 pessoas dividindo um único banheiro há 12 anos. Algo impensável para nós brasileiros acostumados com suítes, lavabos e banheiros especialmente decorados para as crianças.
Mas lá na Austrália a maioria das casas tem apenas um banheiro e minha irmã certamente acompanharia de perto o vômito constante de uma filha. Veria a sujeira no vaso. Perceberia a demora no banheiro. E a família inteira saberia se ela estava ou não menstruada, se ela estava ou não com diarréia...
A vida íntima não tem esconderijos quando a convivência é próxima e diária.

A partir daí me dei conta do tanto de pais que já perderam os filhos por, também, dar a eles privacidade e luxo.
E as intenções, lógico, são sempre as melhores.
Damos presentes aos nossos filhos sem perceber que, com isso, estamos tirando eles de nós.

Por exemplo: antigamente os meus pretendentes ligavam no telefone fixo da minha casa e tinham que se identificar com o meu pai ou minha mãe que, em geral, atendiam o telefone. Tinham que dizer o nome, deixar recado, etc.
Se depois da ligação eu sorrateiramente saia, eles ao menos tinham uma remota idéia de quem estava me acompanhando.
Eu era safada e escondia muita coisa, mas era impossível esconder absolutamente tudo dos meus pais!

Hoje os rapazes ligam para o celular que a garota ganhou no seu aniversário de 10 anos (ou até antes) e ninguém tem idéia de quem são eles. E muitas vezes nem é um inocente amiguinho da escola, como era na minha época.
Prá piorar elas podem ter conhecido o pretendente na... internet.
Quando eu era adolescente, nem que eu quisesse muito, eu não tinha chance de conhecer ninguém além do meu pequeno círculo de amigos. E eu nunca me comunicava com os meus conhecidos sem meus pais ouvirem a conversa já que a linha telefônica era uma só e ficava na sala.
Nunca tive telefone no quarto.
E nem TV.
E nem internet (óbvio).
E minha mãe trabalhava dentro de casa!!!
Mudanças sutis, mas que fazem uma diferença danada já que a vigilância era constante e bem maior.

Outro exemplo.
Sempre fui uma garota de cidade grande, mas um dia fui numa típica festa de uma cidadezinha do interior.
A coisa acontece assim: os pais e seus filhos adolescentes se arrumam num sábado a noite para a mesma festa! Vão juntos ao clube da cidade!!! Chegando lá eles se dividem. Tem o espaço dos jovens e o baile dos adultos. Cada um fica no seu pedaço.
Mas, se algum moleque brigar ou beber demais na festa, os pais (ou amigos dos pais) são logo avisados e descem na hora para ver o ocorrido e dar o devido sermão. E eles sempre conhecem os outros garotos que estão juntos com o filho inconsequente como TAMBÉM os pais deles!
Uma intimidade danada com o universo juvenil!
Eu, na época, achei isso maravilhoso!!!! Lembro que eu já tinha uns 19 anos e não acreditava que aquilo pudesse acontecer. Não conseguia imaginar sair numa balada e estar a 100 metros dos meus pais.
Hoje, aqui na cidade aonde moro as coisas também são assim. Falta privacidade, é verdade, e a fofoca é realmente chata.
Mas sobra convívio e familiaridade, que para criar adolescentes eu acredito ser essencial.

Hoje a grande maioria dos pais e mães trabalham fora o dia todo e hoje a internet está dentro do quarto das crianças abrindo janelas para o mundo, boas e ruins.
Hoje em dia entrar em contato com a família do adolescente não é mais um passo imprescidível para se chegar a ele.
Com isso, a realidade dos filhos está cada dia mais desconhecida dos pais.
No Japão existe um nome para o isolamento dentro do próprio quarto: Hikikomori.
E está crescendo a cada ano...
E a mudança arquitetônica dos lares acompanhou essa revolução familiar ou, pior, foi responsável por elas.
Os banheiros são privativos, cada filho com o seu quarto, vários pontos de internet e TV a cabo. A sala comum, onde em geral fica a TV maior, tem sido o lugar onde são feitas as refeições.
Pesquisas já nos disseram que adolescentes que não realizam as refeições na mesa com a família tem, estatisticamente, uma maior chance de se envolverem em problemas na escola e com drogas.

Aí fica sempre a mesma dúvida: os adolescentes ficam distantes porque seus pais não se importam com eles ou eles não se importam simplesmente porque cansaram de trazer os filhos para perto?
O que será que aconteceu no dia em que os pais olham para os adolescentes e pensam: aonde foi parar o meu filho?? Cadê a minha princesinha?

Uma história que ilustra bem a solução deste problema é da Violeta Pêra.
Era estranha, isolada, quieta, se escondia atrás do longo cabelo negro.
Mas, um dia, a família Incrível se uniu por uma causa comum e a presença da menina foi essencial para a resolução do problema.
Violeta se sentiu valorizada, amparada e incluída no grupo familiar.

Dica para criar filhos?
Lá vai: uma única TV em casa (e uma batalha constante pelo controle remoto), um único ponto de internet (e disputa acirrada pelas horas na web), o mínimo de banheiros possíveis (e a gritaria no corredor pedindo pressa), almoço e janta na mesa com todos presentes (e a gritaria antes do almoço para colocar todos na mesa), mãe ou pai meio período em casa (e menos dinheiro entrando no mês), casa pequena e crianças dividindo um único quarto (e a briga diária por causa da bagunça), levar e buscar filhos e os amigos nas festas (e aguentar a cara feia da molecada) e, por fim, celular só depois dos 18 anos (com os pais ouvindo chantagens emocionais dos filhos até lá).
Tá bom... ahã.

Dá preguiça só de pensar. Não é à toa que o povo prefere ter filhos "Hikikomori".

Vamos mesmo continuar cada vez mais longe dos nossos jovens.
Tãããão mais fácil criar filho com pouco dinheiro!

O clipe é meio estranho, mas a música é perfeita pra o assunto. Aliás, esta música é linda!