Hahahah, é chocante!!
Clube vazio. Absolutamente ninguém por perto.
Quando saí da piscina, feliz da vida, percebi que roubaram minha roupa. Roupa nova que minha costureira querida tinha acabado de fazer!
Fui embora de biquini e, prá piorar, tive que passar na pizzaria para pegar uma encomenda.
Mico total.
Bom, conto isso porque o cara da pizzaria me disse: "Levam a roupa, mas fica o corpo. E é isso que importa.".
Tipo a frase dos anéis e dos dedos.
Sim, é isso que importa.
Não Seu Clodovil, já passou, já passou... |
Mas um dia tentaram também roubar meu corpo.
Neste dia entrei com meu filho pequeno na sala da neurologista e ela pediu que ele ficasse lá fora com a secretária. Achei estranho, mas sabia o que ela queria tanto me contar longe do pequeno: eu tinha mesmo a tal da Esclerose Múltipla.
Já desconfiava.
Estava há 4 anos girado em torno deste diagnóstico, naquele estresse insuportável: confirma, não confirma, confirma, não confirma...
Não chorei como a médica imaginou que eu fosse chorar, mas senti que daqui para frente meu corpo não seria mais meu.
E foi o diagnóstico que ameaçou roubar o meu corpo, enquanto meu filho de dois anos brincava com a secretária.
Iniciado o tratamento, eu conheci muita gente com a mesma história que a minha porque o ambulatório que frequento no HC só atende pacientes com Esclerose Múltipla.
Gente seriamente comprometida e gente aparentemente saudável como eu. O problema é que os saudáveis possuem diagnóstico recente, enquanto o meu já dura 9 anos. Teoricamente eu já devia ter sequelas, ainda mais que as minhas ressonâncias estão cada dia piores.
E os médicos me perguntam: você tem dificuldades? Sua natação está prejudicada? Você pode enumerar as perdas que sentiu neste ultimos tempos?
E minha resposta é sempre não, não e não. Nada...ainda.
Por isso todos sempre se impressionam comigo, e a conversa na sala de espera com os outros pacientes costuma ser assim:
-Você tem esclerose múltipla também?
-Sim.
-Nossa, mas não parece!
-Pois é, estou bem.
-É, mas até o ano passado eu também estava bem assim. Andava no parque com meu filho, fazia tudo. Hoje não consigo nem lavar uma louça porque não páro em pé.
Entro na consulta sempre deprimida.
E sempre pergunto a mesma coisa para os médicos:
"Eu devo ficar otimista ou pessimista com estas conversas? Devo estar feliz, porque estou bem, ou devo ficar chateada porque posso não estar bem no ano que vem?"
A resposta deles é sempre vaga, tadinhos.
Não tem mesmo como responder a uma pergunta dessas, ainda mais que os prognósticos são sempre tão particulares e surpreendentes...
Mas o resumo da conversa é sempre o mesmo: ao invés de se preocupar com o copo meio vazio, você deve comemorar o copo meio cheio.
Sim, eu sei, eu sei...
E saio da consulta sempre filosofando sobre copos.
A doença esvaziou metade do meu copo, mas eu tenho uma outra metade tão, tão, tão valiosa que me satisfaço plenamente com ela.
E quando lidamos com os bons vinhos, a gente enche a taça só pela metade para usufruir melhor do paladar. Copo cheio é para água, suco de melancia, guaraná!
Coisa fina a gente precisa mesmo só de meio copo.
E além de tudo, existe uma verdade que vale para os copos e também para os corpos:
Tecnicamente meu corpo será sempre meu. E, tecnicamente, ninguém pode roubá-lo de mim.
Claro, óbvio ululante, mas tem coisas que são muito difíceis de serem compreendidas quando estamos com medo...
Hoje li uma entrevista que me deixou perplexa. link da entrevista completa
Minha xará Claudia Rodrigues (atriz) falou na´"Época" desta semana sobre a Esclerose Múltipla que ela tem há 10 anos.
Seu copo está se esvaziando...
Mas isso não me surpreende.
O que me surpreendeu foi o que ela tem feito com a parcela cheia do seu precioso copo.
Aqui vai um trecho:
ÉPOCA – Como foi interromper a carreira?
Claudia – Foi muito complicado. Eu sou formada em educação física, dei aulas por três anos. Não sinto muitas saudades. Me descobri atriz. Não sei fazer outra coisa. Minha mãe até perguntava se eu iria ficar parada em casa. “Mãe, eu só quero atuar.” (Silêncio.) Fico chateada. Não tinha costume de ficar em casa. Agora fico muito tempo aqui.
ÉPOCA – Como era sua rotina nos primeiros meses? Claudia – Foi muito complicado. Eu sou formada em educação física, dei aulas por três anos. Não sinto muitas saudades. Me descobri atriz. Não sei fazer outra coisa. Minha mãe até perguntava se eu iria ficar parada em casa. “Mãe, eu só quero atuar.” (Silêncio.) Fico chateada. Não tinha costume de ficar em casa. Agora fico muito tempo aqui.
Claudia – Não era nada. Ficava o tempo todo em casa, montando quebra-cabeça e cuidando da minha filha (Iza, de 8 anos).
ÉPOCA – O que mais você fazia?
Claudia – Quando era criança, eu tinha mania de passar trotes. E voltei a passar. Eu digo que hoje é dia do Mc Lanche Feliz e pergunto à pessoa qual a loja mais próxima. Aí eu falo, falo, falo, falo... Liguei para algumas amigas que diziam com um “não posso” ou eram grosseiras. Eu chamava de sem coração. Alguns desligavam na minha cara. Era minha onda passar trote. Eu esculachava geral quem não comprava.
Isso que eu chamo de regressão: uma mulher que tem uma filha de 8 anos ficar em casa... passando trote!!!!
"Oh Deus, faça com que minhas roupas e meus anéis não me façam falta, faça com que minha saúde faça só a falta suportável e faça com que o meu bom senso nunca me falte!!!! "
Amém.
Enquanto isso na Terra de São Longuinho, o Senhor de Todos os Anéis Perdidos:
-Achei, Clô, achei!!!!!!!!! |
Esse seu blog esta surreal! O roubo da roupa desencadeou em voce uma enxurrada de preocupacoes.Ainda bem que alem do corpo voce nao perdeu a resiliencia eprincipalmente os seus preciosos oculos speedo.Estou curiosa desaber porque alguem rouba uma roupa amontoada perto duma piscina.So pode ser molecagem ou algum fa .Nao se preocupe com a parte vazia do copo. Saboreie esse momento lindo nadando ao luar .Tudo vale a pena mesmo que a gente perca as calcas.Climene
ResponderExcluirQuerida, muito bom ouvir você falando com a voz do corpo, da angústia, do medo. Tudo isso faz de nós seres humanos e seguramente compartilhamos com você estes sentimentos.
ResponderExcluirMas, por sorte, temos uns aos outros, mesmo que poucos, mas temos. E você sabe que pode contar com a gente, tua família que te ama (assim me considero).
Minha coguinha, te abraço bem forte, bem apertado e te mando um vestido florido em pensamento.
Peço junto com vc: Deus nos proteja e nos ajude!
ResponderExcluirNossa Senhora do Perpétuo Socorro, nos fortaleça com a sua força e Jesus Cristo Ressuscitado nos dê saúde e alegria! Amém!
Eu li ontem, e hoje senti saudade do seu texto, vim aqui de novo. Não estou na fase mais tchap tchura da minha vida, e vim aqui aprender mais um pouquinho a valorizar o magnífico meio copo de boa safra. Obrigada, Claudinha, a sua arte de juntar palavras é magistral e a vida agradece!
ResponderExcluirAdorei seu texto!! Todos temos meios copos, mas o bom disso é que somos os juízes e podemos decidir o que fazer com eles... Grande beijo e continue saboreando assim sua tão preciosa vida: nadando ao luar!! Nadia
ResponderExcluirAs vezes precisamos perder nossas roupas (Lê-se Máscaras) para poder repensar nossos corpos (Lê-se mente). Bjos amiga...
ResponderExcluiro importante na vida é saber lidar com a metade vazia dos nossos copos e por tudo que tenho lido e visto aqui, vc tem feito isso de uma maneira brilhante, com muita sensibilidade, inteligência, sabedoria, bom humor e todo um tempero único e especial que nos faz vir aqui todos os dias para saborear o líquido tão precioso que existe no seu copo. Adoro seu blog!!!
ResponderExcluirAi que vontade de sair daqui e ir aí te dar um abraço e um beijo estalado!!!!
ResponderExcluirVou já falar com nossa amiga Ana pra a gente organizar esta ida praí em julho!!
É perto de RP, num é?
Beijos e mais beijos e mais beijos!!
Helô