Marcadores


terça-feira, 10 de maio de 2011

Era uma casa muito engraçada...



Uma vez li um livro desses BEEEM de auto-ajuda, cafona até não poder mais, mas não é que o tal livrinho reafirmou aquilo que eu já acreditava sobre o que é o amor verdadeiro? Não é que ele fez sentido para mim?
Ai que vergonha. Ler um livro de auto-ajuda e achar ele bacana deveria automaticamente bloquear o meu registro no CRP.

Rainha de Copas
 que habita meu super ego!
-Você gostou de um livro de auto-ajuda? Não pode ser psicóloga, então!! Cortem-lhe o diploma!!!
-Mas rainha, eu pintei todos os livros do Augusto Cury de vermelho! Odeio Augusto Cury com todas as minhas forças!
-Ah, ok, pague seu CRP deste ano e não repita isso NUNCA MAIS!!!!
(estamos em Maio e eu ainda não paguei)

Ufa...
Bom, o livro chama-se "Enquanto o amor não vem", de uma mulher que resolveu mudar o nome para Iyanla Vanzant. Tem umas maluquices religiosas e um exagero na importância das condições do nascimento para vida da pessoa, mas tirando isso, a conclusão que o livro chega é o que diz o senso comum: precisamos nos amar e nos conhecer para que sejamos amados pela pessoa certa.
Mas, calma, não é só isso! A mulher também fala de pessoas que estão no porão da casa do amor. Outras estão no primeiro andar, poucas no segundo, e raras, raríssimas, no sótão.

Eu explico: O sentimento do tipo "Prefiro ver você morto do que feliz com outra pessoa!" ou "Se você me abandonar eu morro" é de quem está no subsolo escuro e deprimente do amor. Este amor destrutivo e imaturo que, obviamente, nunca levará ninguém à felicidade.
Muita gente passa a vida inteira no porão e, como não conhece nenhum outro lugar para se viver, acaba achando que aquela vida é a única que poderá ter. Posso ilustrar esta situação com a seguinte foto de um famoso porão na Áustria:

-Ah, bonitinho, colorido, dá para viver bem aqui por... 27 anos.


Tem gente que não conhece outros modelos de amor e relacionamento. Foram criados por pais neuróticos, infelizes e ciumentos, cresce repetindo este modelo e, consequentemente, sofrendo horrores. Tadinho, não sabe que existe uma vida feliz fora do porão do amor. Conheço gente assim. Em geral estão sozinhos ou infernizando a vida dos parceiros.

Um dia, depois de penarem bastante, poderão subir ao primeiro andar. Aí começam a dizer coisas do tipo:"Você pode sair, mas eu tenho todo o direito de ficar triste." ou "Amiga, dá uma olhada no que meu namorado vai aprontar hoje na festa?" . Essas são frases de alguém que está só no primeiro andar da casa do amor.

PS: me sinto ridícula falando "casa do amor"!!! Parece que estou cantando "No lindo lago do amor". Dói no ouvido de vocês, eu sei, mas fiquem sabendo que dói também na minha auto estima (minha Rainha de Copas também não me permite falar babaquices). Mas tenho que continuar, sorry.

Bom, este povo do primeiro andar tem muito ainda o que aprender sobre amor próprio e respeito pelo parceiro.

O sentimento do tipo: "Fique tranquilo, vá para aonde quiser. Queria ficar hoje em casa, mas vou ficar feliz por você estar se divertindo." é de quem já subiu ao segundo andar da tal casa. Gente que não precisa de você para ser feliz. Bacana demais! E além de tudo me conquistaria na hora porque eu acho absurdamente sexy homens bem resolvidos. (post: "I´m too sexy for my cat").

"O amor só dura em liberdade, o ciúme é só vaidade.
Eu sofro mas eu vou te libertar."
(Raul Seixas, chegando ao segundo andar)



Se estas pessoas conseguirem ser felizes na liberdade e conseguirem atingir o desprendimento afetivo do ser amado, aí um dia, quem sabe, ela encontrará uma escada que a levará ao sótão.

No sotão da casa habita a meia dúzia de pessoas que possuem a incrível capacidade do amor universal, eterno e incondicional. "Eu te amo pelo que você é, e não pelo que você pode me dar. Eu te amo para sempre, independentemente do que você faça comigo. Eu te amo e quero te ver feliz, mesmo que for com uma outra pessoa. Torço por você sempre."
Uau!
Você conhece pessoas que já conseguiram subir ao sótão? Eu sim. Fui educada e criada por uma delas. Tive uma sorte danada.
São raras as pessoas que conhecem o sótão. Não é um lugar confortável para todos. Podemos morrer sem conhecer o sótão da casa do amor, mas, tudo bem, não precisam se preocupar com isso. Atingir o segundo andar já é suficiente para se ter paz nos relacionamentos.

Bom, mas o que a autora se esqueceu é que a pessoa que habita a casa do amor em geral circula pela casa. Precisa ir dormir em paz no segundo andar, precisa receber visitas e ter um pouco de ciúmes no primeiro, e, claro, precisa lavar a roupa suja no porão. Descer ao porão, vez ou outra, pode ser inevitável para alguns.

Digo isso porque nestes últimos dias conversei com pessoas que reclamam da inconstância do sentimento que nutrem pelo ser amado: "Tem dias que eu odeio, tem dias que eu tenho pena, tem dias que quero que seja feliz, tem dias que eu quero de volta, tem dias que eu quero que morra!!!".
Uma loucura passional!
Estas pessoas parecem zumbis circulando incessantemente pela casa do amor, tropeçando pelas escadas e se deparando com sentimentos ambíguos em cada andar. São pessoas que andam frequentando bastante o porão, e quando chegam lá ficam com medo de serem aprisionadas para o resto da vida.

O nosso Josef Fritzl interno, que habita nosso medo de morrer no porão do amor

É terrível mesmo o medo de sofrer para sempre com os sentimentos pequenos, mesquinhos e inferiores que brotam no porão da casa do amor. Medo de sermos infantilizados por um tirano maluco que deseja nos dominar.
Mas fiquem sabendo que o porão é passageiro e que o sótão existe. Ele está lá em cima te esperando, iluminado e arejado, bem perto do céu. E lá em cima, nada irá perturbar a sua paz.
Confie nisso, ok?

9 comentários:

  1. Querido anônimo, se vc não assina eu nunca saberei, haha.
    Bom, mas não foi para ninguém em especial. Foi para me libertar do sofrimento solidário que tenho quando vejo pessoas que amo sofrendo. Ruim demais. Beijos enormes, seja lá quem vc for.

    ResponderExcluir
  2. Ahhh que fofo... Por mais cheesy que possa ter sido seu livrinho, a resenha barra interpretação barra ilustração ficou muito linda. Circulemos!

    ResponderExcluir
  3. Minha flor, obrigada por suas sábias palavras. Nem imagina em que boa hora elas chegaram!
    Vou meditar sobre a última foto, como um objetivo a ser alcançado. E sabe do que mais? Morei num apê assim, lá em Berlin, nos idos do 1. casório...veja só que coisa.
    A vida é realmente um mistério infinito.
    Saudades, ich habe dich so lieb!

    ResponderExcluir
  4. Seu Pai tem uma pergunta: É possível a sua Mãe morar no sótão e ele no porão? Por 41 anos? Nesse caso eu acho que você conhece duas pessoas, não uma.

    ResponderExcluir
  5. Puxãozinho de orelha do papi?!?! rsss
    Adorei o texto (como de praxe)!
    É bom a gente parar, refletir e observar como levamos nossa vida amorosa. Se é de uma forma controladora, ciumenta, possessiva, etc. Mas há que se lembrar aqui que a liberdade em excesso tbm não faz bem. Acredito que por mais duradouro que seja um relacionamento, a privacidade é importante e essencial. Mas isso sempre sob medida pra que o outro parceiro não se sinta, de certa forma, deixado um pouco de lado. Namoro, noivado, casamento, morar junto dá trabalho! E acho que as arestas sempre serão aparadas...É um eterno aprender a reaprender a amar (ou conviver com as diferenças - e que bom que elas existem)! ;)

    ResponderExcluir
  6. Morri de rir com seu post e ainda mais que me levou lá para 1997... qdo li o livro pela primeira vez, acho que foi por aí... AMEI o livro e tb detesto estes livros de auto ajuda, não tenho saco para eles, mas para esse eu tive e o indiquei a várias amigas que estavam naquele momento no sótão! É tb verdade que em algumas relações vamos para no porão e mais verdade ainda que o amor próprio sempre nos leva ao sótão!

    ResponderExcluir
  7. Aháááááá!!!! Você também leu E GOSTOU do livrinho! Deixa a Rainha de Copas saber disso, tsc, tsc, tsc.
    Espero que tenha indicado o livro para as amigas que estavam no PORÃO (não sótão) porque no sótão não devemos ler isso não. No sótão podemos nos dar ao luxo de ler gibis, Mafalda, Calvin, Fábulas de Esopo... não temos mais que fazer lição de casa!!! Bjs.

    ResponderExcluir
  8. Clau, gostei muito do texto, mas amei mesmo foi o comentário do seu pai!!, kkkkkkk
    Bjs a ele, e à linda da sua mãe!
    Lu
    Ps. Às vezes acho que estou no sótão, mas sou mesmo dessas que ficam perambulando pela casa, deve ser o tipo mais comum!

    ResponderExcluir

Se você não tiver uma conta Google e quiser comentar: escreva na caixa, assine (para eu saber quem escreveu!) e escolha a opção "Anônimo". Pronto! Seu comentário aparecerá imediatamente no blog.