Dei risada. Obviamente fora de cogitação.
Mas aí outras três pessoas (de outras religiões) vieram me falar EXATAMENTE a mesma coisa: existia um trabalho que precisava ser desfeito. E mais! Era um caso de vida ou morte! Se não era mentira, pelo menos estava sendo bem contado. Comecei a me preocupar. Além do mais, eu conseguia admitir que estava mesmo bastante doente.
Por coincidência, neste mesmo mês fui apresentar um trabalho em... Salvador! Peguei o endereço da "mãe" do meu colega e prometi dar um pulinho lá, se desse tempo.
O último dia do congresso estava chatíssimo, então dei uma fugida e fui procurar a tal mulher. Liguei para marcar uma hora e minhas amigas junguianas ficaram morrendo de inveja! Estávamos todas interessadíssimas no estudo dos orixás, e estar sendo aguardada em um terreno de candomblé era como ganhar na loteria.
Psicólogas, bah!
O endereço era "Ladeira da Poeira", lado pobre e decadente do Pelourinho. Peguei um taxi e fui. A velha era incrivel e muito interessante. Ela jogou búzios, me disse muitas verdades e também algo que eu nunca soube: que sou filha de Nanã, a deusa das águas barrentas, pantanosas, enlameadas. Velha sábia e séria, Nanã não aceita ser mãe de qualquer um. Sua presença é uma coisa rara, só para pessoas especiais. Uau! Que honra!
Ela confirmou que alguém realmente fez um trabalho para me ver morta (coisa light!) e que seria preciso que eu ficasse hospedada na casa da mãe de santo por mais dois dias!
Hahaha!!! No way! Tinha um avião para pegar às 8 da manhã do dia seguinte. Ela lamentou profundamente. Disse então que eu deveria deixar com a mãe de santo alguma peça de roupa para que o trabalho fosse feito na minha ausência. Não ia ficar tão bom, mas ela achava que daria conta do recado. E é aí que a coisa fica engraçada.
Eu estava usando saia na altura do joelho, blusinha regata (sem sutiã) e chinelo. Não pensei duas vezes: tirei a calcinha, usada e suada pelo calor de Salvador, e deixei lá no altar da velha e séria Nanã!!! Hahahaha! A mãe de santo, então, olhou respeitosamente para a calcinha e começou a cantar.
Eu estava usando saia na altura do joelho, blusinha regata (sem sutiã) e chinelo. Não pensei duas vezes: tirei a calcinha, usada e suada pelo calor de Salvador, e deixei lá no altar da velha e séria Nanã!!! Hahahaha! A mãe de santo, então, olhou respeitosamente para a calcinha e começou a cantar.
Depois da linda cerimônia feita com minha peça íntima, a senhora gritou para o rapaz que morava nos fundos :
-Ô Jefferson, a menina precisa deixar a calcinha dela aqui, mas eu não tenho coragem de deixar ela ir embora deste jeito. Por favor, leve a moça de volta.
Entrei morrendo de vergonha no fusca laranja do Adônis de quase dois metros, mas ele respeitosamente cruzou a cidade em silêncio e me devolveu ao congresso.
Minha amiga estava doida de curiosidade.
-E aí? Como é que foi lá? Foi legal?
Respondi com um sorriso malicioso:
- Só tenho uma coisa para te dizer: voltei sem calcinha.
Ainda bem que minha calcinha era linda e nova. Ufa! Bem que minha avó sempre me disse: "Use sempre calcinha bonita, querida, a gente nunca sabe quando é que uma mãe de santo vai precisar dela para salvar a nossa vida."
Naquela noite choveu tanto, mas TANTO, que a cidade ficou debaixo d´água. Rios de lama e barro invadindo Salvador. Tudo culpa do meu batismo como filha de Nanã. Uma noite barrenta e absolutamente perfeita. De manhã cedo o aeroporto ainda estava às escuras, com tudo fora do ar e vôos atrasados.
Querido povo baiano, desculpa aí pelo incoveniente! É que Nanã leva tudo muito a sério...
O trabalho foi um sucesso e minha calcinha conseguiu me representar bem na minha ausência. A mãe de santo ligou algumas vezes para o meu amigo querendo saber notícias minhas. Uma fofa.
Mas hoje, depois de 8 anos, não quero mais ser filha de Nanã. Esta semana recebi a visita de mãinha e estou sufocada com sua presença em minha vida. Preciso com urgência me emancipar. Macaulay Culkin fez isso e eu também quero.
Por quê? Por tudo isso que me aconteceu nos últimos 4 dias:
- A represa em frente ao nosso portão subiu tanto que está quase transbordando.
- O esgoto voltou e minha casa ficou um caos. Quebramos o chão, trocamos os canos recolhemos o esgoto com sacos plásticos... uma delícia.
- Coincidentemente a prefeitura decidiu quebrar todo o encanamento que fica embaixo do asfalto na rua, mas SÓ em frente de casa. E toda vez que saio nestes últimos dias eu atolo meu carro no buraco profundo e enlameado que eles deixaram aberto em frente à garagem.
- Ontem os canos de água misteriosamente estouraram no jardim (nada a ver com o esgoto) e fontes jorravam do chão de cimento. Quebramos tudo de novo. Mais barro, mais água para ser tirada.
- Misteriosamente centena de peixes mortos apareceram anteontem boiando em frente de casa. Avisei o órgão competente, eles vieram investigar e descobriram que SÓ na frente de casa isso aconteceu. Furnas inteira está livre do problema. Só os 20 metros de represa em frente a MINHA casa sofre da maldição.
- E agora no almoço uma tempestade caiu e, além das 42 goteiras já familiares, uma lama marrom misteriosamente começou a brotar do piso da cozinha formando um lago e me impedindo de fazer almoço.
Poeira eu ainda aguento, mas lama não dá mais não.
E obrigada por tudo que fez por mim. "Saluba Nanã"
Eita, Claudinha!
ResponderExcluirAcho que ela quer mesmo é bater um papinho com você, hein? Talvez esteja te dando uma dica: benza-se!
Ui.
Beijos e muita água pra dissolver essa lama...
O que mais me impressiona e a capacidade de você ter tempo e presença de espirito para ainda fazeruma crônica tão deliciosa como essa em meio ao caos da sua rotina , no meio dessa lama toda ! Aí esta a explicação da visita da sua entidade : ela quer lhe fornecer material para seu blog . Você e minha heroína! Te amo . Tenho muito orgulho de você . Climene
ResponderExcluiramei amiga!!!!!!!!!um momento delicioso nesta manha de muito frio!!!!!!
ResponderExcluirgrande beijo e se precisar voltar para Salvador fica la em casa!!!!!
Tá bom fofa,pra deixar a Nanã vai ter que voltar lá e pegar a calcinha de volta. Isso se o Jefersson não está com ela lá, num altarzinho no quarto dele...hahaha
ResponderExcluirComo você é tonto!!! Jefersson era um cara sério, não tinha o "Wando style"! Mas confesso que também já fiquei imaginando o que foi feito dela depois que o trabalho foi encerrado, rsrs. Bjs e obrigada pela ilustríssima presença. Vc sabe que eu adoro você!!!
ResponderExcluirvc tem que ter e sorte de ser filha de nana por que as filhas de nana tem videncia e sonhos profeticos
ResponderExcluire nana ea mais velha de todos os orixas vc tem e que tomar cuidado e as filhas de nana de cabeça sao muitos fechadas
ResponderExcluireu mesma sou filha de iansa e de ogum e tenho muito orgulho de ter eles como meus pais espirituais eu tou quase encorporando isso e legal tenho muito orgulho de ser umbandista
Concordo com a Climene
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirA crônica é perfeita.Mas vc precisa saber quem é Nanã e depois dizer Salubá de joelhos...Vc fosse filha da Bahia, e conhecesse a verdadeira essência dos Orixás...jamais falaria coisa parecida!!!
ResponderExcluirFelicidades e muita sorte para vc!
Jamile, me conta então tudo isso melhor porque eu juro quero muito saber. Não tive intenção de magoar ninguém, muito menos... Nanã! "Saluba" é uma expressão corriqueira e eu jurava que era apenas um cumprimento. Depois me explica, ok?
ExcluirObrigada pela dica, pelo elogio e felicidades para vc também!
olha...pesquise.Nanã é maravilhosa,vc não sabe como foi agraciada em ser filha dela...a sabedoria,a calma,e tdo o seu amor para cm os outros,vem dela.
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