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terça-feira, 28 de junho de 2011

Panela de Pressão

Ok, continuando o assunto do post anterior.
Muita gente veio me dizer que não entendeu a piada do Frango Assado.

Pena.
Isso é que dá achar que o povo tem uma cultura geral que abrange diversas áreas da vida adulta, mas, pelo visto, o Kama Sutra ainda não se difundiu no ocidente como pretendia.
E não dá para explicar a piada, porque fui tentar fazer isso com uma amiga e a coisa perdeu a graça.

Isso sempre acontece com as piadas. O timing tem que ser perfeito para o piadista fazer um gol de placa e, portanto, não dá para parar e explicar.
A CBF proibiu a paradinha nas cobranças dos pênaltis. O sindicato dos humoristas deveria proibir também a paradinha para as explicações das piadas.

Mas, mudando de assunto, certa vez uma amiga me disse que o pai dela passou a infância cantando uma música assim (imagino que todos conheçam, eu não conhecia na época):

Comprei uma panela de pressão
Só pra se eu cozinho mais depressa
Sou solteiro, não tenho compromisso.
Se eu lavo ou se eu cozinho,
ninguém tem nada com isso!

Ela achava a música o máximo.
O oposto do movimento feminista!
O rapaz se rebelando contra o determinismo que definiu que os homens não podem se dedicar ao lar. Um cara bem resolvido que decidiu viver a solteirice sem depender de mulher alguma para lavar e cozinhar! Ou seja, um homem perfeito:

Isto é um marido perfeito, hahaha.

E essa minha amiga passou a vida achando esta música muito legal e cantava em plenos pulmões, secretamente rezando para encontrar um cara assim para casar.

Aí ela me contou que só depois de adulta foi entender a verdadeira intenção da música.
E ela disse isso rindo.

Como ela era muito culta, libertária e "prafrentex" (hahaha, há anos não ouvia esta expressão), eu então achei que a música tinha um sentido muito mais profundo do que o óbvio da temática doméstica.
Se a minha amiga, que era tããão inteligente (fazia faculdade de filosofia) e entendida, demorou anos para entender a tal música, não era eu que ia sacar a coisa em 5 minutos.
Achei que era algo que apenas Simone de Beauvoir poderia compreender.
Ou Camille Paglia.
Tipo, talvez fosse o avesso do avesso do feminismo. Talvez houvesse um sarcasmo embutido em algum lugar da letra que eu não peguei.

Dei uma risadinha educada e mudei de assunto.

Um belo dia o insight aconteceu (A-ha moment, rsrs) e eu me peguei rindo sozinha da musiquinha besta e safada.


Digo isso porque a gente tem que dar um tempo para as coisas se configurarem do jeito certo. Meu amigo entendido em Gestalt poderia explicar isso melhor, hehe.

Existe um programa bacanérrimo chamado P.E.I. (Programa de Enriquecimento Instrumental) que tem como slogan a frase: "Um momento, deixe-me pensar". É algo, como eu posso dizer? Picopedagógico, neurológico, de reorganização cerebral.
Foi criado em Israel no pós guerra numa tentativa de refazer a vida, a percepção e a capacidade de pensar dos órfãos do holocausto.
Para usar o instrumento é necessário ter uma formação específica e ter passado pelo processo. Eu tenho e amo a coisa há anos.
Os exercícios se baseiam na idéia de que cada um deve ter seu tempo para a resolução do problema. Mesmo que demore dias ou semanas.
Desde então parei de trabalhar com os testes psicólógicos que possuem um tempo determinado (ficava com cronômetro em punho!! pobres criancinhas...) e onde os pacientes aumentam a pontuação conforme a rapidez.
O que eles provam? Que o moleque é rápido? Grande coisa. E se eu deixasse ele o dia todo para resolver o problema? Não seria válido por quê?

Eu demorei meses para entender a música da panela de pressão e achei muito mais graça do que se a minha amiga tivesse me explicado na hora.
É uma delícia descobrir algo novo com nosso próprio esforço!!

Passei a detestar também tudo que vejo nas escolas, onde o sinal bate e o fio do pensamento é abruptamente cortado, onde as provas tem tempo para acabar, e...

Onde os lerdos não tem vez.

"É devagar. É devagar. É devagar é devagar devagarinho."



"Ô devagar miudinho, devagarinho.Ô devagar miudinho, devagarinho.
Ô devagar, ô devagar, ô devagar, ô devagar."

Hahahaha, não parece a mesma música? Eu juro que sempre achei que era. Estes sambistas são tããããão criativos!

Bom, o jeito é a gente comprar uma panela de pressão para ver se pensa mais depressa, porque dar tempo para o pensamento e a organização das idéias não é coisa de atacante, de humorista, de psicólogos tradicionais e muito menos de professores.

Talvez só mesmo em roda de samba conseguiremos ter nossos insights tranquilos... beeeem devagar, ô devagar, ô devagarinho.

5 comentários:

  1. Boa,querida! Aqui em casa minha mãe vive 'rezando' este mantra do tempo, 'devagar, devagar...'! Haha, vai ver por isso que nós por aqui somos 'a pressa em pessoas'! Ao menos, é a nossa fama...
    Enfim, alguém nos entendeu!!!
    Beijos no teu novo tempo, tic-tac, dessa cidadezinha que te permite tudo isso...e mais um tanto!
    Love, I.

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  2. Ai, ai panela depressão.
    Amei. A delícia do cair da ficha, hahaha

    Meu pai tem uma história dessas que eu presenciei. No açougue ele pediu, inocente: "1 kg de carne dividido em quatro. É pro cachorro. Se eu cozinho ele não come." E pronto, o açougueiro e os funcionários caíram na gargalhada. E meu pai, versado em trocadilhos, jamais admitiu que não tenha feito intencionalmente.

    Herdei o gosto e o ouvido pras piadinhas infames dele, hehehe

    Beijos, querida!

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  3. Claudinha,
    Me identifiquei. SOu uma lerda, com discalculia nunca diagnosticada, que passei por lerda em muitos momentos. Depois de muito tempo, me toquei que o fato era que eu não prestava a atenção porque por algum motivo, não achava tão engraçada a coisa em si. Mas eu rio alto de coisas que vc escreve, entende? Então eu nem perco tempo de pensar, de sacar de buscar mensagens ou trocadilhos. Meu senso de humor tem preguiça eu acho rsrsrsr. Ou sou mais sarcática, nao sei.
    Você devia ler Gregorio de Mattos, irá rir de rolar com os trocadalhos do carilho que ele fazia.
    Eu ri muito mais de imaginar a sua amiga culta e seu pensamento do avesso do avesso do avesso (WHAT???rsrsrs) , das referencias feministas, que da musiquinha....
    Humor é um mistério. Lembro de um concurso da piada mais engraçada do mundo. Era tão boa, mas tão engraçada, que sequer me recordo dela. Só lembro que era algo relacionado a galinha. Ou não.
    Vc não escreve para uma maioria. Seu sabor é para pessoas com paladar apurado e eclético, quase um sincretismo!
    Bjs
    LoveYou

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  4. Nao consigo tirar o "prafrentex" da cabeça. Uma pessoa cheia de plasticos e borrachas coloridas? goretex, durex, jontex, spandex, latex...
    Parebens, sempre!

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