Porém, sempre lembro de uma ou outra gracinha que os amigos contam e que, as vezes, acaba virando assunto para o blog.
E esta semana a conversa foi assim:
-Claudia, eu não sei qual é o meu problema, mas não consigo me sentir desafiada. Não sou uma pessoa que se mobiliza diante de um desafio.
-Hum, não entendi. Explique melhor. (essa frase é típica de uma psicóloga, mas falo isso também para os amigos, vez ou outra)
-Por exemplo, quando eu era pequena minhas colegas diziam : "Duvido que você consegue roubar a bicicleta do carteiro!". E eu falava: "Duvida? Ah, tudo bem. Fique duvidando.". Entendeu? Eu não ia lá roubar só para provar que eu conseguia. Minhas outras amigas roubavam para ganhar a aposta, mas eu não sou dessas pessoas que se sente motivada a superar uma dificuldade para provar as coisas para os outros.
E continuou: blá, blá, blá...
Não conseguia mais ouvir. Fiquei estacionada na frase dita de forma banal: roubar a bicicleta do carteiro.
ROUBAR A BICICLETA DO... CARTEIRO??? Como assim?
Isso é o cúmulo da delinquência juvenil! Pior, muito pior, do que botar gatinhos no liquidificador! (juro, conheço gente que fazia isso)
Quem roubaria a bicicleta de um carteiro? Justo um carteiro, o representante da última instituição respeitável deste país. Um coitadinho que desidrata debaixo do Sol, levando mordidas de cachorros, pisando em sujeira de cachorros e recebendo susto de cachorros escandalosos para entregar coisas que você poderia, simplesmente, receber por email e imprimir.
Que tipo de gente roubaria uma bicicleta de um carteiro?
E ela achou estranha a minha indignação:
-Claudia, minha querida amiga, você nuuuuuuuunca roubou a bicicleta de um carteiro?
Não.
Shit...
-Oh, yes, wait a minute Mr. Postman!!! Wait, wait Mr. Postman! (Beatles) |
-Ô menina, faz isso não. Por favor!!!
E depois deixavam a bicicleta na esquina.
Gozado mesmo.
Puxa vida, nunca nem pensei que isso seria uma diversão possível. Desperdicei a infância pulando elástico e jogando adolecá.
E, prá piorar, nunca passei trote. E nem bati a campainha e saí correndo. E nem fugi de casa escondida. E nunca fumei no banheiro da escola. E nem tomei um porre. Nunca fiz uma tatuagem. Tenho só dois (DOIS!!!) furos no meu par de orelhas. E nunca... pintei o cabelo!!!
Drogas? Não, jamais.
E nunca entrei num sex shop!! (descobri outro dia que sou uma exceção)
E nem............ hunf, sou mesmo um fiasco.
Outro dia li na Playboy: 10 experiências sexuais que você precisa ter antes de morrer.
1- Participar de uma suruba.
2- Participar de outra suruba.
Hahaha, conclusão: é óbvio que vc precisa estar numa orgia uma vez na vida!
Mas nunca estive e, pelo andar da carruagem, nunca estarei.
Triste mesmo.
Estava me sentindo o ser mais careta e boboca do mundo quando uma amiga me consolou:
-Clau, acho que vc nunca ficou bêbada porque você nunca precisou.
Bingo! Direto na mosca!
Sim, claro!!! Pode bem ser.
Sou uma pessoa tão feliz e madura que nunca precisei de um porre para afogar as mágoas. Sou tãããão bem resolvida que nunca precisei ficar bêbada para tomar coragem na paquera.
Há! Não preciso fumar para parecer mais sexy (mais? hahaha). E o meu cabelo deve ser tão lindo que eu nunca desejei mudar a sua cor. Talvez nunca pedi socorro ao sex shop para apimentar uma relação porque também não senti necessidade disso. E nunca recorri a uma suruba para....
Para que serve mesmo uma suruba?
Whatever.
Uhuuu! Sou super bem resolvida!
Ou não.
Talvez eu seja a pessoa mais covarde em termos de desafios que já pisou na Terra. Muito, mas muito mais que a minha interlocutora acima que se preocupava com o seu conformismo diante da vida. É bem possível que, por algum distúrbio neuroquímico, eu não tenha adrenalina correndo nas minhas veias para me dar ao luxo de ser um bocadinho transgressora vez ou outra.
O perigo me deixa aflita. A dor de macular o meu corpo (e a minha alma) com uma intervenção qualquer não paga o preço de ser ousada. E com isso, talvez, eu perca as coisas divertidas da vida.
Esta semana li no Facebook:
-Cara, vale muito a pena!!!! |
E os mil comentários abaixo da frase estúpida concordavam. "Só", "Falou tudo".
Então tá. Quem sou eu para discutir? Para mim as duas dores que valem a pena é vacinar e perder a virgindade. Uhhhhh, que ousada!!!! Viu como sou uma idiota?
Para mim nenhuma dor dispensável vale a pena. No corpo ou na alma. E ela se torna dispensável quando você, simplesmente, não enxerga os fins.
E eu não enxergo nada.
Bom, mas como tudo na vida é experiência, eu, com isso, ganhei um novo bordão. Agora toda vez que alguém disser que teve uma infância infeliz eu vou poder lançar:
-Quê?? Você NUNCA roubou a bicicleta de um carteiro????? Como assim?
Ou vou poder dar tapinhas no ar com a mão direita e falar com um ar de superioridade:
-Ah, pelo amor de Deus, Aninha, você nunca roubou a bicicleta de uma carteiro! Você simplesmente não conhece o lado negro da vida.
E, finalmente, quando alguém me fizer uma proposta indecente, poderei rapidamente retrucar:
-Não, não, obrigada. Não sou do tipo que rouba bicicletas de carteiros. Sou amiga dos carteiros. Sou como Pablo Neruda. Só que sem a boina...
"Quero apenas fazer contigo o que a primavera faz com as cerejas." (Pablo Neruda) |
PS: depois de passar quase uma hora por entre as lindas frases do Neruda, optei com essa. Tão pequena e tão poética. E tão erótica... e tão misteriosa. Quase um haicai.
Fiquei furiosa por nunca ter nem pensado em roubar a bicicleta do carteiro...
ResponderExcluirSera que agora eu to muito velha??
E a foto ensanguentada quase me impediu de ler o resto do post. Tive que ler com a mao em cima dela, pra me proteger de dores desnecessarias.
Quanto a suruba nunca entendi o objetivo. E pior: conheco varias pessoas que frequentam clubes de swing e fazem suruba regularmente. E juro que eu pergunto qual e a graca - mas ate hoje nao ouvi uma simples resposta convincente.
Suruba? To fora...mas o carteiro que se cuide!
Inaie
Atendendo a pedidos, tirei a foto da língua. Ok, tava over, rs.
ExcluirParabéns! Vamos prestigiar a vida comportada que e emocionante e nao causa efeitos colaterais como arrependimentos, doenças e cadeia. Chega de incentivar a trambicagem ! Estamos cansados dessa fama de sermos o pais da malandragem.Jovem valente e ousado devia ser aquele que consegue viver seguindo bons princípios.
ResponderExcluirAi tava ótimo até dar de cara com a língua estropiada... A partir daí, não consegui mais ler o final, ainda bem que já tinha terminado a minha sopinha de nada que estou almoçando enquanto "assisto o brogue da craudinha".
ResponderExcluirsopinha?? neste calor?? aff..
ExcluirA foto da língua extrapola o bom gosto que eu prego em termos de imagnes, mas o mal gosto era justamente a intenção da foto. O povo abusa do uso que fazem de seus corpos... e da alma.
não acredito que gastou seu tempo para escrever tanta lorota
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