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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Na mão direita tem uma roseira.


Dia 21/06 eu escrevi um post sobre... a pele ("A memória da pele").
Bobo e totalmente dispensável.
Até a minha mãe me ligou intrigada, achando estranho um texto sem conclusão.
-O assunto ficou meio jogado.- disse ela.
Ficou mesmo.

É porque eu  havia escrito anteriormente que pouparia meus leitores de meus problemas particulares (post: "O draminha chatinho da vida particular"), mas estava envolvida demais com os tais dramas para escrever sobre outras coisas. Daí falei generalizadamente sobre a importância de sentir o mundo através da pele.
Assim, ao acaso, como se a coisa não fosse comigo.
O problema é que ajoelhei mas não rezei. Não consegui explicar do porquê eu estava escrevendo aquilo tudo.

Monet foi perdendo a visão. Suas telas borradas acompanharam e decadência do olhar e ficaram famosas justamente por serem lindamente nebulosas.
Beethoven perdeu a audição mas, mesmo assim, compôs a 9º sinfonia apenas com sua memória auditiva.
E eu estou perdendo o tato.
Quem sabe ficarei famosa com este fato inusitado!!!

Vou tentar descrever: sabe quando você fica muito tempo sentado sobre o pé e ele fica formigando? Todo mundo já pasou por isso, né? Mas aí, quando você insisite em caminhar nestas condições, parece que há algumas agulhas espetando o pé. Pequenos espinhos de uma roseira boba...
Não é incapacitante e nem propriamente dolorido, mas incomoda.
Maiô + Luva = Tudo a ver

Então, estou assim há uns 40 dias.
Estava no corpo todo, mas agora se concentrou de maneira insuportável na mão direita. Tudo é ruim: fazer carinho nos meus filhos, lavar meu cabelo, lavar louça, enxugar as mãos em toalhas felpudas, mexer com areia e terra...
Mas o pior é digitar. Passar o dedo na bolinha do mouse é aflitivo e dolorido. Hoje comprei luvas para amortecer o contato, mas não posso sair na rua com elas porque todos vão me achar demasiadamente surreal.

Coisa tola e boba que não me impede de fazer as coisas que eu preciso, mas que prejudica em muito meu contato com o mundo.
Ainda mais na mão.
Ainda mais na mão direita.

Quando uma criança desenha uma pessoa sem as mãos, os psicólogos interpretam como uma dificuldade afetiva. Eu particularmente acho que pode ser apenas um reles esquecimento, mas se formos seguir esta linha teórica de raciocínio, uma mãe que não gosta de colocar as mãos nos filhos pode ser tida como uma mãe afetivamente capenga.
Tadinha de mim. Tãããão mal interpretada!
Hoje estava relendo um texto aqui do blog (post: O prazer da solidão) e percebi que já havia mencionado o meu super poder: perceber as coisas com o tato. Achar roupas no escuro, deixar uma pia de louça limpa sem precisar enxergar, apenas sentindo a sujeira com as pontas dos dedos... faço isso com uma facilidade incrível! Sempre dizia que faço isso porque estou me preparando se algum dia eu ficar cega.

Mas não imaginava que um dia iria ficar sem tato.
Por essa eu não contava.


Todos nós já colamos o dedo com Super Bonder. Com um pouco de sabão e água eles descolam, menos para Angela Merkel, hahahaha!!!!
Essa sequencia de fotos é ÓTIMA!
Bom, depois que os dedos se desgrudam a ponta dos dedos ficam estranhas e prejudica o tato, não é? Demora uns dois dias para voltar ao normal.

Eu sofro de algo parcecido com esta sensação ruim.

Neurologicamente falando, a coisa se chama parestesia.
Uma ansetesia leve que não me faz correr o risco de colocar a mão no fogo sem perceber, mas que, por outro lado, me impede de usufruir das maravilhas de um veludo macio, uma bochecha de criança ou um cabelo sedoso.
E isso é muito chato.

As anestesias são malandras. Nos protege da dor da cirurgia, mas também nos proibe de sentir o prazer em um carinho.

E as anestesias emocionais também são assim. Tem gente que gosta de se anestesiar para evitar sentir saudade, tristeza ou sofrer pelos traumas do passado. Mas, ficando impermeável a estes sentimentos, os anestesiados também se privam das maravilhas das emoções baratas e gostosas.

É praticamente um Botox psicológico!!

Victoria Beckhan feliz
 
Victoria Beckhan triste











Hahahahaha... tenho dó dos filhos dela: nunca sabem o que a mãe deles está sentindo ou pensando. O excesso de Botox simplesmente não dá pistas!!!
E tenho dó também daqueles que se anestesiaram para os sentimentos. Ruins e bons.

Por isso quero minhas mãos de volta para poder sentir tudo o que o mundo me proporciona.
Talvez elas voltem ao normal.
Talvez não.

Mas vou esperar ansiosamente para que a roseira da minha mão direita me dê flores na Primavera...




5 comentários:

  1. Vou rezar pros meus anjinhos olharem por você e pela flor que logo tocarás de novo, surpresa por tamanha delicadeza, minha florguinha.
    Muita força, muita fé.
    Estamos com você, sempre.

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  2. Querida, vc não concluiu, mas quando eu li, imaginei. Como vc não escreveu, fiquei aliviada, confesso, achei que era muita intuição de minha parte. Fiquei muito emocionada com este texto, assim como com outros teus que vivo "tuitando" e que meus seguidores amam. Aliás, vc já apareceu por lá?
    Um beijo imenso pra ti

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  3. Eu já disse que vc é FODA hoje?
    Sei que uma pessoa é foda qdo consegue em meio a tudo manter o senso de humor. A sequencia da Angela é coisa mais engraçada que vi ultimamente. Ri litros aqui!
    E é seu senso de humor o mais tocante do texto. O que me comove não são os que caem. São os que lutam para se levantar. Isso é lindo. Nada como alguém não persecutório, que não se vitimiza. Preciso dizer que isso é tudo?
    E vc vai ficar famosa pelos seus textos, pelos seus livros futuros, por ser convidada da FLIP em 2015 (sim, o sucesso será meteórico), por ser traduzida em 42 idiomas.
    E se um jornalista tentar escrever a orelha de seus livros dirá que vc é um híbrido raro: mistura de Diogo Mainardi, com Luís Fernando Veríssimo e Adélia Prado...
    Já eu, pouco culta, diria que cada palavra de seus textos contêm um livro em si.
    Eu sei.
    Eu tenho certeza.
    Love you
    Bjs

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  4. claudinha, vc é simplesmente FODONA, como disse a Jú. Deixa-nos sem palavras,sem mais expressões para descrever o que sinto lendo seus textos, conhecendo um pouquinho mais da sua alma que vc tão abertamente- e belamente- revela. Gde bjo.

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  5. Também aprendi que na vida nada acontece por acaso, quando perdemos a visão "criamos" a capacidade de desenvolver a audição, o tato, todos os outros sentidos. Que tamanho é seu coração? Pelo modo carinhoso com fala de seus filhos ou da preocupação com sua mãe vejo ele ENORME! Independente de qualquer coisa suas rosas (Lê-se palavras do coração) colorem e embriagam nossas sentidos há algum tempo...

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