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sábado, 1 de dezembro de 2012

Meu Rei Lagarto




"We're off to see the lizard, the wonderful Lizard of Oz
Because, because, because,
Because of the wonderful things he does..."





Ufa, finalmente hoje vou explicar porque comecei com este longo assunto do ânimus. Tudo não passou de uma descoberta pessoal, e foi assim:

Sabe sonhos recorrentes? Desses que a gente tem durante a vida toda?
Então, eu sempre tive e o assunto era basicamente o mesmo: bebês jacarés. O enredo variava um pouco, mas a descoberta do sonho era sempre a mesma: pequenos jacarés habitavam o fundo da garrafa da minha coca-cola, o fundo da piscina onde eu nadava, o final da panela de brigadeiro, o forro do meu edredom. E eu... não sabia!!! Nem desconfiava, imaginem só! Mas um dia, no sonho, descubro eles por lá: pequenos, agitados e úmidos, e a minha reação sempre era de nojo: "Ecaaaaa, eu nadando aqui/bebendo coca-cola/comendo na panela/dormindo nessa cama esses anos todos sem nunca desconfiar que os filhotes estavam aqui dentro. Que nojo!!!!"
Os sonhos eram assim, e os filhotes de jacaré me atormentaram pela vida afora.

Por causa disso passei a ter repulsa por répteis com patas (cobras não!). As patinhas com unhas, o rabo inquieto, a pele escamosa, os olhos grandes... tudo me causava ojeriza.
-See you later, alligator!!

Quando fui estudar psicologia e aprendi que os sonhos trazem ensinamentos importantes (se forem corretamente interpretados), logo lembrei dos meus bebês répteis. Sabia que um dia eu teria que encará-los e decodificar o significado deles na minha vida. Sabia que, se o enredo acontecia com muita frequência, era óbvio que os sonhos estavam querendo me dar um recado importante. No entanto, nenhum terapeuta interpretou a história por mim, e o nojo que os bichos me causavam sempre me esquivou de um confronto pessoal e voluntário.

Bom, tudo corria bem até que eu entrei numa fase difícil e precisei ser forte. Foi duro, barra pesada mesmo. Eu estava me sentindo frágil, vulnerável, com medo e bastante triste. Meu marido viajou por alguns dias e, no dia 15 de Fevereiro de 2011, eu sentei sozinha no meu computador e... ah, fiz um blog. Assim, ao acaso.
Na hora de dar o nome ao blog, o minúsculo lagarto Basiliscus que andava sobre as águas foi o único e mais óbvio que eu consegui pensar. Eu não tinha nenhuma segunda opção. Sim, definitivamente o réptil seria o meu padrinho nesta empreitada.

Mas é engraçado que na época eu não associei o lagartinho aos sonhos. Nem lembrei!! Semana passada, lavando louça, TUDO veio à tona: o Brasilicus é o meu ânimus, claro! O pequeno réptil dos meus sonhos, sempre escondido, abafado e recriminado, veio finalmente à superfície da minha consciência para me ajudar. Para me resgatar.
"Me dê a mão vamos sair prá ver o Sol..."


Nunca escrevi: diários, contos, poemas e nem era boa em redação. Nunca tive identificação com a escrita, mas quando fui defender a minha pesquisa na universidade, a mulher da banca (que veio de outra cidade e nem me conhecia) disse na mesa da defesa da tese:
-Claudia, você promete para mim que nunca vai parar de escrever? Sua escrita é muito divertida e leve.
Vale dizer que o meu trabalho era sobre câncer. Câncer infantil. Com embasamentos teóricos, procedimentos e conclusões. Meu deus, o que podia ter de divertido nisso? Desconsiderei totalmente o pedido da moça, claro. Achei que ela estava louca. Mas no decorrer dos anos inúmeras pessoas disseram a mesma coisa: "escreva"," escreva sobre isso". Tsc, tsc. Nunca achei que seria proveitoso.

-But you said it was only "for a while"!!!
Porém, num belo dia, a escrita, travestida de um pequeno réptil ousado e transgressor, me salvou de uma pane psíquica. Sim, porque: quer algo mais transgressor do que um lagarto que anda sobre as águas?? Beeeeem diferente dos pequenos que ficavam escondidos no fundo escuro da minha vida.
Bom, e a minha interpretação tosca é que, no sonho, os pequenos jacarés eram meu ânimus que estavam sempre por perto, rondando, e nunca, jamais, me fizeram mal. Eram bebês e precisavam apenas de cuidados, tadinhos. Mas eu, tola, morria de nojo e fugia dos bichos. Penso que eles queriam apenas subir à superfície, crescer e participar da minha vida. Estavam apaixonados por mim, os pobres.

E sei que o blog é meu ânimus porque já me contaram que o que eu escrevo aqui é demasiadamente masculino. Muitas pessoas me dizem isso: que o blog é masculino e até um pouco sexista, com mulheres de biquini, peitinhos e piadas de botequim.
Achei estranho e surreal, mas tive que concordar, claro.
-Ô rapá, chega aí. Deixa eu te contar a
diferença entre a puta e a santa!
Um amigo meu, psicólogo, um dia disse que é fácil recomendar o Brasilicus para os amigos homens porque eles se identificam com o estilo do blog.
Boa parte dos meus leitores fiéis são homens e meu patrocinador/guru aqui dentro é homem. Um homem maravilhoso que me dá dicas importantes para eu não apenas me divertir por aqui, mas também ganhar dinheiro escrevendo: "mande para o portal tal", "tente vender o seu blog", "deixe ele mais moderno"...
Incrível.
Por eu ser casada e compromissada, meu ânimus, desta vez, veio me salvar através de um blog. Jardineiros são arriscados.
Mas veio de forma ainda mais masculina, criativa e linda.





Escrever hoje me dá prazer e me faz sentir completa e feliz.
Se é bom ou não eu juro que não sei, mas, como Clarice Lispector: “Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…” (e eu juro que foi ela mesma que disse isso!)



Happy, happy end!

11 comentários:

  1. Curioso, eu tb sempre achei que seu blog não era "de menina", mas também não o acho "masculino". Acho que o seu humor atinge todos os públicos. Eu me lembro bem do seu trabalho da faculdade; fomos as únicas que fizemos o trabalho com pessoas de fora da Psico. Um beijo, Clau!

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  2. Você pode até estar em outra, mas deixa eu te falar: que grande psicóloga você é, minha querida!

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  3. Concordo com a examinadora da banca ...
    Você não deve parar de escrever !
    Tenha uma boa semana.

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  4. Não pare de escrever, brasilicus... porfa!

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  5. Cláudia sempre leio seu blog. E a cada vez me surpreendo como vc consegue acessar e usar tanto a sua criatividade. Vc não pode parar de escrever mesmo!!!!!!!! bjs saudades e obrigada bjs Tiemi

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  6. Me lembro do seu discurso de oradora da classe da formatura do pre ! Dizia assim:" Eu prometo nunca ser careta como os adultos"

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  7. Gostei do ultimo comentario, acima, adorei na verdade!
    Voltando... vc escreve absolutemte bem. Eh facil - e gostoso - ver
    como gosta disso, transita bem e se completa com os textos - sempre
    otimos!

    Quanto aos jacares, sao tao primitivos que tudo que fazem eh
    sobreviver - sempre conseguem! So aqueles bem grandes, ja adultos
    plenos e que dominam certas lagoas, oferecem algum risco. Para saber
    se estao por la, ou ca, saia nas noites bem escuras e ilumine, voce
    aprende a ver o tamanho deles por quao forte os olhos brilham... Uma
    vez que vc descobre onde estao pode ate encostar neles.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. É verdade, seu amigo psicólogo tem razão.
    Gosto muito das coisas que você escreve em seu blog e não consigo parar de lê-lo.

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  10. É verdade, seu amigo psicólogo tem razão.
    Gosto muito das coisas que você escreve em seu blog e não consigo parar de lê-lo.

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