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sábado, 26 de maio de 2012

Deixa o vento me levar, vento leva eu...


Quando eu vou a um shopping lotado e estaciono o meu carro, tenho a mania luzitana de marcar o local com uma referência imbecil:
-Ok, vejamos, parei ao lado de um jipe amarelo. Legal.
E aí fico mentalizando durante as compras: jipe amarelo, jipe amarelo....
Mas é claro que o jipe vai embora antes de mim e me deixa perdida.
Dããã, jipes saem do lugar.

As montanhas não!

Maomé se iludiu com a idéia de que poderia trazer uma montanha até ele, mas todos nós sabemos que, por mais que o profeta seja importante, por mais guerras e problemas diplomáticos que Maomé possa ter causado ao mundo, ele tem que, obrigatoriamente, ir até a montanha se quiser organizar algum sermão por lá.
Montanhas não se movem, caramba! Montanhas ficam menores ou maiores no decorrer do séculos, mas não saem do lugar.

As dunas, sim.

-Carol, minha filha, pega a pazinha
prá mamãe.
Quem foi para Natal já ouviu do guia turístico a triste ladainha sobre as dunas que estão desaparecendo por "andarem" e, assim, cometerem a petulância de invadirem os bairros residenciais. Culpa do vento que sopra diariamente quilos de areia para os quintais das casas próximas. As donas de casa varrem, jogam tudo no lixo e, com o tempo, será o fim das dunas.
De grão em grão uma duna se acaba.
E neste triste dia, os bugueiros engraçadinhos terão que pensar em um novo serviço. Sem emoção!!! hahaha



E as dunas andam justamente por não serem compactas e rígidas como as pedras das montanhas. São, portanto, flexíveis e nunca, jamais, resistem às pressões externas. Elas simplesmente se deixam levar. Dunas são tranquilas, seguem o "Zeca Pagodinho way of life" e por isso se dão tão bem. E têm, como profeta, o sábio... Biquini Cavadão.

"Vento, ventania me leve prá qualquer lugar.
Me leve para qualquer canto do mundo:
Ásia, Europa, América..."
Areia batendo um papo com o mestre Biquini Cavadão
(Desculpa aí pessoal. Claro que havia biquinis bem mais cavadões,
 mas Gisele sempre dá um toque de glamour ao blog)

Estou falando isso tudo porque eu gosto da idéia de uma montanha que anda, e uma duna não deixa de ser exatamente isso. A duna, portanto, representa o impossível que eu sempre quis acreditar, mas o meu senso de ridículo não permitia. Minha fé nunca moveu montanha nenhuma (aliás ela nunca moveu nem uma bolinha de gude), embora houvesse um pedido silencioso para que eu acreditasse em milagres.

"I really want to see you lord, but it takes so long my lord"
 (George Harrison)


Mas hoje vou adaptar a crença e, assim, passarei a ter fé e ser otimista como todos os outros. Minha fé agora moverá... dunas!
Beeem mais fácil! Devagar e sempre, sei que a duna andará para me encontrar. Gigantesca, quente e acolhedora, minha duna caminhará em silêncio na minha direção, torcendo para não invadir quintais e prejudicar a vida alheia. Sei que seu percurso será lento, mas deliciosamente desenhado e guiado pelas mãos do vento.
E, além de tudo, ela virá... assobiando!!!
Ahhhhh, uma fofa essa duna! (com o perdão do trocadilho)

-Always look on the bright side of life  Fi-fi  fi-fi-fi-fi-fi-fi!!!!

Sempre fui descrente e atéia porque mover montanhas era surreal demais para a minha racionalidade, mas agora acredito piamente que as montanhas (de areia!) se movem e se reorganizam todos os dias, de acordo com o desejo dos ventos. E os desejos dos ventos podem, coincidentemente, ser também os meus!

-"Eu vou seguir uma luz lá no alto,
eu vou ouvir uma voz que me chama,
eu vou subir a montanha e ficar
bem mais perto de Deus e rezar!" (R. Carlos)
Hoje sei que qualquer dia desses uma duna pode aparecer na minha casa e me mostrar que tudo é possível. E neste lindo dia eu estarei preparada. Ouvirei o assobio do vento e abandonarei meus projetos mundanos. Me despirei dos dogmas, das minhas crenças pragmáticas e caminharei feliz e totalmente entregue, rumo à minha linda duna. Sentirei o seu calor aos meus pés. Me encantarei com a maciez do chão mole e receberei o carinho ardido da areia batendo de leve no meu rosto. Subirei até no topo e ...
...e nada.


Possivelmente lá em cima haverá um skibunda, um dromedário cansado para os turistas tirarem fotos e uma tirolesa para eu descer pagando 40 reais.
Não importa, porque hoje eu sei que a minha duna chegará.

E agora, o livro de auto ajuda da minha cabeceira será: SEJA UMA DUNA VOCÊ TAMBÉM.
Ei, eu disse "uma duna", não uma Druuna!!
E a lição que a duna tem para nos ensinar é: seja flexível, fluida, moldável, quente, acolhedora e... assobie!
Ahhhhhhh, tá fácil!
Mas, mais do que tudo: seja paciente.

Putz, essa foi difícil.

Merda.




6 comentários:

  1. tomara que as donas de casa nao joguem a sua duna no lixo, de pouquinho em pouquinho, antes dela chegar a sua casa... e que ela evnha devagarinho, pra nao desembestar represa adentro. Ninguem merece uma represa "soterrada".

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    1. Represa soterrada é um preço pequeno a ser pago para saciar a minha novíssima fé, Inaiê!! Os pescadores entenderão. E tirolesa anda dando mais dinheiro que peixe ultimamente!

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  2. Clau linda, vc, que se diz escritora superficial, não tem idéia do quanto seus textos são profundos! Constato por fim, que nessa vida doida de muito trabalho e 3 filhos pequenos, tenho sido Flexível, moldável, fluida, quente, acolhedora...as vezes até assobio! O duro mesmo é ser paciente!
    Bjs
    Lu S.

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    1. Lu, minha queridíssima amiga/irmã, obrigada pelas suas sempre lindas palavras. O duro mesmo é ter "um pouco mais de paciência", como diria Lenine. Mas isso se aprende com o tempo.
      Eu não tinha percebido que a minha descrição da duna era assim tão... erótica. Só agora que li o seu comentário me dei conta do fato. E prá piorar lembrei de uma piada infame da puta cega que chupava e assobiava ao mesmo tempo. Droga! Estragou toda a beleza da minha metáfora, hahaha.

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  3. Lindo !petiço ! Deviam criar um Nobel de literatura bloguistica e voce seria seria concorrente ao prêmio ! Climene

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  4. Nocauteou Frank Herbert!

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