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sexta-feira, 20 de abril de 2012

"Associação Eduardo Dusek", com fins lucrativos.



Tenho problemas graves com o meu cachorro beagle que é uma peste. Algumas pessoas já sabem disso porque andei reclamando bastante dele nesses dias. Mas queria dizer, antes de mais nada, que o meu problema pessoal não vem ao caso no que eu pretendo dizer aqui hoje.
Ok? Posso falar? Então lá vai:

Acho um exagero esse povo que passa a existência zelando pelos animais abandonados.

Acredito que toda forma de vida deve ser amparada e sei também que os animais sofrem horrores nas mãos da raça humana que, não sei porque cargas d´água, decidiu ocupar o topo da hierarquia no planeta. O homem domesticou os animais, levou os coitadinhos para o ambiente insalubre de uma cidade e, assim, produziu seres passivos e deprimidos, que agora precisam de nós para sobreviverem.
Foi um erro. Domesticar animais foi, sem dúvida, uma grande idiotice.
Por isso acho ótima a intenção de algumas organizações que lutam contra o abuso a estes bichos e, pessoalmente, tenho uma compaixão especial por aqueles que cuidam dos cavalos forçados a um trabalho cruel no trânsito caótico.

Mas, o que era para ser um movimento pela minoria, acabou sendo uma proteção descabida pelos animais em detrimento das nossas crianças Muita energia, muito amor e muita dedicação está sendo depositada nos animais e, ironicamente, as nossas crianças acabam sendo postas de lado.
Quem convive comigo sabe que eu tenho uma famosa frase que repito sempre: "Não tenho pena de gente adulta." Não, não tenho. Mas tenho sempre muita pena das crianças que são totalmente submetidas ao sistema maluco de suas famílias e escolas.
Sim, existe o Conselho Tutelar e existe a Declaração dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, mas não existe uma comoção popular pela causa, e isso é uma enorme lástima.
Exemplo: Tenho dois anos de rede social e NUNCA vi uma postagem solicitando adoção para uma criança abandonada na esquina. Nunca vi alguém solicitando com urgência uma professora particular para uma garotinha que não tem ajuda em casa e está correndo o risco de repetir de ano. Nunca li uma denúncia de um menino que fica abandonado de noite no quintal enquanto a mãe se prostitui dentro de casa (nunca viram? eu já!).
Entretanto, todos os dias eu vejo centenas de compartilhamentos de causas urgentes de animais necessitando abrigo.

Posso ser excessivamente pragmática e demasiadamente racional, mas se o ser humano já ocupou este posto imbecil de superioridade, resta-nos seguir as regras desta configuração e começar, a partir disso, tentar rearrumar as premissas (sabendo que dificilmente os animais ocuparão novamente o espaço que merecem).
Acredito que deveríamos gastar todas as nossas fichas tentando arrumar os danos que já foram feitos, mas começar pelos cachorros não me parece ser uma boa escolha já que os cachorros, infelizmente, não tem poder de mudança.

Conheço várias (várias!!!) pessoas que se preocupam muito com os animais e fazem campanhas e feiras de adoção em massa. Conquistam convênios com veterinários bonzinhos para esterilizar os bichos, clamam por delegacias especiais para cuidar das agressões contra animais... bacana.
Mas não tenho no meu ciclo de amigos pessoas que gastam a mesma energia com as crianças. Nunca vi uma ONG de médicos que aceitam esterilizar mulheres gratuitamente. Nunca vi feiras na rua de pessoas clamando por adoções de... crianças.

É que os animais comovem. Crianças não mais.
Estamos calejados e entediados com o sofrimento humano.
As fotos de animais na net causam sempre reações de fofura e compaixão:"awwwwwnnnnnnnnn ti lindo!!" ;"quero levar prá minha casa!" ;"ai que vontade de abraçar!!". Quando colocam a foto de um bicho para ser adotado, em poucas horas ele consegue um lar. Incrível.
Mas as fotos de crianças não tem o mesmo impacto emocional. O povo acha bonitinho e tal, mas não desarma. Não causa uma comoção coletiva. Estranho, né?
Minha hipótese é de que a identificação com as crianças é muito explícita e direta, aí o mal estar fica muito óbvio e difícil demais para lidarmos.

Posso concluir, com isso, que cães e gatos se tornaram um símbolo do nosso afeto mais puro e genuíno. Eles representam agora o nosso instinto primitivo de proteção. Todo o zêlo, todo o amor que gostaríamos de exteriorizar, ultimamente, só conseguimos demonstrar pelos animais.
"O Brasil é o segundo país do mundo com maior população de animais domésticos, perdendo somente para os Estados Unidos. O gasto mensal com um animal brasileiro é, em média, 350 rais. Nos últimos quatro anos houve um aumento de 17,6% no número de cães e gatos no Brasil. São hoje 27,9 milhões de cães, 12 milhões de gatos e 4 milhões de outros pets. A relação é de um cão para cada 6 habitantes e um gato para cada 16 habitantes." (dados do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 

Desculpa, mas isso tá errado. É um equívoco.
Um país com problemas educacionais (e por trás disso: problemas amorosos) tão sérios e urgentes como o Brasil não pode aumentar a sua "frota" de animais antes de arrumar a situação das crianças. Bichos não são a prioridade! Não ajudarão no desenvolvimento da nação.
Sei que o certo seria conseguir fazer tudo junto: cuidar de todos. Mas isso é utopia, e se eu tivesse que sacrificar uma causa, a causa dos animais, com certeza, seria a primeira.

"Troque o seu cachorro por uma criança pobre."
 (Eduardo Dusek)

Meu plano é esse: vamos esterilizar 100% os bichos domésticos e esperar uma década até que todos morram. O segundo passo é canalizar o nosso afeto (que ficará sem alvo) nas crianças. Os 350 reais por mês (hoje gastos com os animais) seriam obrigatoriamente doados para as escolas. Educaremos todos decentemente. Ensinamos as crianças a pensar. Ensinamos o amor ao próximo. A filosofia seria matéria básica desde o maternal. Zeramos o analfabetismo funcional e a educação ambiental equivocada. Enriquecemos o país com idéias, emprego, dinheiro e cultura. Repensamos a ética.
E depois de conquistar tudo isso, neste lindo dia teríamos então o direito de resgatar os nossos animais e gastar quanto dinheiro quiséssemos com eles.

Bom, é isso. Só isso.
Tudo isso.

PS: Não é a toa que este post está sem imagem. Qualquer uma seria tolice.

17 comentários:

  1. O que uma criança do mundo iria preferir? Aprender “Felicidade” na como matéria na escola de um país pobre e não desenvolvido como o Butão,...ou fazer doutorado em “Futilidade” sem mesmo ir pra escola num país rico e hiper desenvolvido como o Brasil?
    Bem, como ninguém se importa com as crianças, melhor salvar os gatinhos mal-tratados do Butão e arranjar lares cheios de luxo pra eles no Brasil.

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  2. Clau, acredite se quiser: essa semana pensei em postar algo exatamente assim no meu face, porque acho um absurdo esse monte de posts sobre animais (generalizados) e nada, absolutamente nada que fale ou de longe mencione as nossas tantas crianças abandonadas.
    Acho que podemos conviver com ambos, mas concordo que o foco apenas nos animais está pra lá de equivocado, esvaziando ainda mais o sentido do viver, que afinal é coletivo (somos seres do coletivo).
    Lindo post! Parabéns, minha loira preferida!
    Saudades de você, querida.

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  3. Concordo com vc. Eu mesma cansei de todo dia só falar em animais. Mas é que denuncia...r gente que faz mal a gente é mais complicado. Em se tratando de criança então é pior ainda. Estagiava na Central de Inqueritos do RJ e era a maior complicação denunciar casos de abuso. As testemunhas tem medo, as vitimas desmentem ( muitas vezes por medo, muitas vezes por amor aos pais pasme) e quando nos aprofundamos nas envestigaçoes descobrimos que muito é culpa da miséria e ignorancia e aí o buraco é bem mais fundo. Uma vez tentei junto a um orfanato que visito fazer campanha por e-mail com os amigos para recolher roupas e sapatos. Tentei de todo jeito saber as idades das crianças ,sexo e quantos meninos e meninas ao certo para providenciar as quantidades e números corretos mas fui proibida de divulgar estas informações. O processo de adoção já era uma via crucis e com a nova lei só piorou. Você não imagina a morosidade de um processo no conselho tutelar para apenas fazer uma mãe mandar seu filho a escola. Muitas vezes as pessoas querem ajudar mas se vêem de mãos atadas pelo sistema. Muitas vezes o ambiente do lar é péssimo mas o das intituiçoes publicas também. Você quer ajudar ao divulgar alguma situação nas redes sociais e ainda acaba respondendo a um processo. Podemos sim conhecer os orfanatos e abrigos da nossa cidade, saber suas necessidades e nos mobilizar para cobrar do poder publico o que lhes falta de estrutura principalmente acompanhamento psicológico. Podemos sem problema e agora fazer urgente as seguintes campanhas: Não pode criar? Não faça filhos. Fez o filho, pariu e nao quer? Deixe no hospital, libere para adoçao mas nao jogue fora por favor. Igreja pare de condenar os métodos anticoncepcionais e se meter nas questoes de planejamento familiar.Informe seus fieis ou recolham voces seus filhos abandonados. Que tal? Só um desabafo!!rsrsrsr Beijinhos. Andréa Santana

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  4. Curiosidade: quantos filhos adotivos você tem (crianças)?

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  5. o buraco e bem mais embaixo... conheco pelo menos tres familias que tentam adotar criancas ( nao cachorros) e ha anos esbarram na "burrocracia" brasileira. Conheco tambem varias pessoas aqui no oriente Medio que "patrocinam" orfanatos e creches para criancas africanas com AIDS. Alem de amigos proximos que tem ou ajudam projetos de bem estar infantil.

    Acho que vc anda circulando nos grupos errados, Claudinha.

    As campanhas sao diferentes, o foco e diferente, o esforco e diferente, por que o processo e completamente diferente e o compromisso tambem nao e comparavel.

    Ha varias instituricoes que te deixam "adotar" uma crianca pobre por +- 30 dolares/mes. Esse dinheiro e mandado para uma crianca que vc escolhe, e ajuda a pagar suas despesas. Vc se comunica com a criancadurante anos, e pode inclusive ir visita-la se quiser.

    Conheco dezenas de pessoas que adotaram uma crianca dessa forma.

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    1. Inaie, concordo plenamente com você.Andréia F.

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    2. Morei nos EU. Ao voltar para o Brasil recebi um pedido estranho: ir a Sorocaba visitar um filho adotivo de uma vizinha que tinha em Los Gatos, CA. Conclusão: o endereço fornecido não tinha orfanato nenhum, ninguém sabia dar nenhuma orientação.
      Cuidado com essas adoções à distância. A coitada mandava US$ 100 por mês!!!

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  6. Nossa, pelo que parece alguns leitores não entenderam MESMO!
    Será que os grupos “certos” em que aparentemente a Cláudia deveria andar circulando são aqueles onde dezenas de conhecidos arrotam sua magnânima bondade em público por terem “escolhido” uma criança e depositarem 30 dólares por mês numa conta?

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    1. Você se apegou a uma frase apenas .... Isso significa que VOCÊ não entendeu NADA mesmo.

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    2. Leia mais uma vez, Andréia. É mais ou menos como um exercício de “Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira”. Não é uma, nem duas, mas são apenas três frases às quais eu fiz referencia, sem necessariamente ter me apegado a nenhuma delas.

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  7. Alguém criaria e educaria uma criança com apenas R$350 por mês? Pois é.... não dá para comparar, pois não é comparável, né? Cuidar de um cão é muuuito diferente que cuidar de uma criança. Nem a divulgação destas adoções se comparam ! Este texto é um absurdo!

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  8. Qualquer escola pública faria maravilhas com poucas dezenas de doações mensais de R$350. O texto não é um absurdo! O texto fala da dedicação que a comunidade dá aos pets e não dão do mesmo jeito para as nossas crianças. Como diz a Cláudia: "Só isso" Patrícia

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    1. Não é bem assim Patrícia.... Veja este trecho: "Meu plano é esse: vamos esterilizar 100% os bichos domésticos e esperar uma década até que todos morram. O segundo passo é canalizar o nosso afeto (que ficará sem alvo) nas crianças. Os 350 reais por mês (hoje gastos com os animais) seriam obrigatoriamente doados para as escolas."
      É absurdo dizer que não podemos fazer as duas coisas juntas! não precisamos ACABAR com todos os animais domésticos para ajudar na educação de crianças. É um absurdo, sim. Pois somos capazes de amar muitos seres vivos ao mesmo tempo, não é preciso se livrar dos animais para olharmos para as crianças, já que um não é substituto do outro! Dizer que a comunidade não dá a mesma atenção para crianças e pets, é mesmo verdade, já que inúmeros programas como o Criança Esperança são voltados às CRIANÇAS e não aos Pets. Só isso. Acho que estes dados dizem um pouco do que a comunidade vem fazendo pelas crianças sem terem que acabar com os pets: "A UNESCO selecionou 114 projetos sociais a serem apoiados pelo Criança Esperança em 2012, que vão beneficiar mais de 60 mil crianças, adolescentes e jovens em todo o Brasil." "Além dos 114 projetos, o Criança Esperança também apoiará em 2012 os quatro Espaços Criança Esperança – situados no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte e Jaboatão dos Guararapes - e a Pastoral da Criança.
      Desde 1986, o Criança Esperança – um projeto da Rede Globo em parceria com a UNESCO - já arrecadou mais de R$ 232 milhões, beneficiando cerca de 5 mil projetos e 4 milhões de pessoas." Fonte: http://www.unesco.org. É isso, só isso. Andréia

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  9. Sou a favor de crianças danadas e livres adotadas ou não e cachorros treinados para a segurança da casa, nada mais. Caridade gratuita me lembra Viridiana. Sem exageros.

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  10. Nossa! Assino embaixo. Você falou em exagero na preocupação com animais. Sim: exagero, fanatismo, histeria. Até vereador em Campinas os cachorros já tiveram e foi o mais votado. Ainda se dizendo do partido verde- entendam; partido verde está voltado para as causas ambientais, tantas causas graves e não para defesa de animais domésticos. É uma confusão tola. E a coisa maís patética são os donos de cachorro que os tratam como se fossem humanos. Pobres cães: tratar com respeito não é tratar o pobre como gente. Tem até psicólogo de cachorro, ridículo. Fico pasma. É chocante. Casos mais chocantes- Vera Loyola e a famosa festa de aniversário para o cachorrinho dela e Brigite Bardot, a qual é defensora de animal, mas racista e contra imigrantes na França.

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  11. Outra ideia, ensinem e orientem as mulheres de baixa renda e sem condições emocionais a NÃO colocarem 20 filhos no mundo se não tem condições de cuidar direito. Já iria ajudar a diminuir o problema de crianças abandonadas, que são as que mais sofrem por causa da decisão dessas mulheres sem noção. Claro que se REALMENTE foi uma gravidez acidental, a situação é diferente, mas acreditem ou não, ainda existem mulheres que acham que a vida se resume em ficar grávida, mesmo que não tenham condições para cuidar direito dos filhos.

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    1. A sua ideia é coerente e tem mais sentido com o problema. O cara que escreveu o post simplesmente pensou como uma praga: matem os outros para que a nossa espécie consiga usufruir de tudo. Na verdade, ele deixou de forma bem sutil, que os animais merecem muito mais amor e carinho do que essa gente por aí. Mas ele é moralista demais pra aceitar essa realidade. Se eu não tivesse os meus cachorros, eu não iria dar mais atenção às crianças. O que ele disse não tem sentido algum, foi apenas apelativo. Vc está lá bem, vivendo a sua vida muito bem e de repente "ai eu vou adotar outra pessoa". Pra quê? Quem gosta de animais, gosta incondicionalmente. É um amor legítimo. Nada contesta o que é legítimo. A carência existe por falta de consciência de quem produziu o problema. São os que gostam de animais os causadores da pobreza e do abandono? Com certeza que não.

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