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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Anos Incríveis, Futuro Sempre Banal

No início da década de 90 no Brasil os jovens pararam para assistirem ao seriado "Anos Incríveis".
Desde a abertura, passando pelos atores, trilha sonora, tempero agri-doce em todos os episódios... tudo era perfeito! Mas eu gostava principalmente do ritmo das falas, intercaladas pelo pensamento do protagonista Kevin Arnold, já adulto.
O final foi triste.
Todos choraram com o golpe duro do machado da realidade: o pai do Kevin morreu e a fofa Winnie Cooper foi estudar na França enquanto Kevin se casou... com outra.

The end.
E eu fiquei atônita: "Só isso?? Over, finito? Então ESSE é o futuro de uma história de amor?"
Not a Happy End.

Pensei nisso porque estou lendo um livro sugerido por uma amiga. Chama-se "Um Dia" e é incrível. A coisa é tão boa e o casal é tão palpável que comecei a me angustiar agora que cheguei no meio do romance.
Não resisti de ansiedade e procurei por ela, que me recebeu já apreensiva:
-Claudinha, prepare-se para chorar.
-O quê?? Como assim? Ai não, não me diga que um deles morre. (disse isso um pouco decepcionada com os finais piegas estilo Sessão da Tarde: "Sunshine on my shoulders makes me happy...")
-Não, não. Mas é um final meio realista.
E de repente eu percebi: Final Realista= Final Triste.
Poxa, caramba. A realidade precisa necessariamente ser baixo astral?
Aí perguntei:
-Mas peraí: Um final feliz não pode ser realista? Por quê tudo na vida tem que ser como o último capítulo dos "Anos Incríveis"?
Ela riu e disse que pode. Pode sim. Um final feliz pode fazer parte da realidade.
Mas nós duas sabíamos que ela estava mentindo.

Aí já lancei algumas hipóteses para o meu livro:
  1. suas neuroses acabam dominando-a. Ela desenvolve um transtorno de pânico e passa a ficar dentro de casa, evitando os amigos; 
  2. ele vai começar a usar drogas e deixa de ser o homem por quem ela se apaixonou;
  3. ela percebe que casar-se com o bom rapaz é mais negócio do que entrar em contato com uma rotina caseira ao lado do idealizado príncipe encantado;
  4. ou então ele engravida uma moça qualquer, casa e percebe que ela até que é bem legal.
Dãããã.
Isso eu assisto na minha vidinha medíocre. O potencial para enormes histórias de amor morrerem na praia, cansados de tanto apanhar dos aspectos práticos da vida.
Acompanho isso na minha história e nas histórias alheias há décadas e confesso que não vejo graça nenhuma nisso.

Não gostaria que meu maravilhoso livrinho terminasse como as várias histórias dos meus amigos e, por isso, há dois dias estou hesitante em continuar a leitura, mas preciso terminar antes que ele seja lançado no cinema, só para poder dizer, toda metida:
-Gente, o livro é beeeem melhor.
Hahahaha, o livro é sempre melhor! Ninguém precisa mais dizer isso.
É uma verdade incontestável.
Sim o livro em breve será adaptado ao cinema com Anne Hathaway e o maravilhoso Jim Sturgess (de "Across the Universe")

Sei que essa minha dificuldade em continuar a segunda metade do livro, obviamente tem a ver com um processo interno e particular meu de chegar ao meio da vida e dar uma de Peggy Lee ao me perguntar:
-Is that all there is??
link da música aqui

E por isso, eu hoje decidi fazer o meu final particular dos "Anos Incríveis", e seja lá qual for o final realista do meu livro eu decidi que também não vou acreditar nele e, novamente, vou inventar um que se encaixa melhor no desejo do casal em questão .
Meus amigos psicólogos podem chamar isso de negação, mas eu prefiro acreditar que estou seguindo os passos da Lei da Atração, tão popularmente difundida no livro "O Segredo".
Vou começar a mentalizar finais felizes para a ficção, na esperança de atrair algum para a vida real.

Bom, Paul Pfeiffer não foi para Harvard.
Operou a miopia e ficou com graves sequelas deixadas pelo laser (ainda experimental naqueles anos). Seus olhos ficaram opacos, impediondo-o de ler. Revoltou-se e passou a adorar o demônio. Virou um astro de rock e hoje faz sucesso, namorando garotas lindas como Dita von Teese e Evan Rachel Wood. Mas ainda recebe os amigos de infância na sua mansão, onde sempre lembram com alegria as emoções daqueles anos incríveis.
Hahahaha, adoro acreditar na lenda de que Paul virou Marilyn Manson. Na minha cabeça isso é a mais pura verdade.

Winnie Cooper foi para a França estudar história da Arte. Namorou muitos homens lindos e inteligentes e sua vida amorosa passou por um turbilhão de experiências afetivas e sexuais. Largou o estudo das artes e, anos depois, voltou aos EUA como representante de uma grife lindíssima de lingerie. Ganhou rios de dinheiro vendendo calcinhas francesas para as deselegantes americanas e todos os dias recebe o marido na cama, cada dia usando um apetrecho da sua nova coleção.


Kevin Arnold se casou com a sua melhor amiga da faculdade, mas o casamento acabou não dando certo já que ele se deu conta de que seu pensamento nunca abandonou Winnie.
Passou, então, anos se dedicando à profissão (computadores, claro, o melhor ganha pão da década) e construiu uma casa bem confortável, com uma hedícula no fundo para abrigar a mãe viúva que se aposentou e viaja muito com o namorado nas excurssões da terceira idade, quase não ficando em casa.
Um dia Winnie liga da França. Ela diz que conheceu vários homens que só queriam sexo com ela, mas Kevin a conhece na sua essência e isso faz muita falta num relacionamento..
Kevin vai buscar Winnie no aeroporto já com uma cópia das chaves da casa para convidá-la para viver com ele.
Os dois não se casam (Kevin ficou com um certo trauma de casamento) mas vão morar juntos. Depois de menos de um ano nasce o pequeno Paul (que morre de medo do amigo rockeiro do papai).
A vida sexual deles não é das melhores, mas Winnie se imagina com os rapazes franceses enquanto faz amor com o marido e Kevin assiste pornografia na internet para passar o tempo.
Aí fica tudo certo.
E todos viveram felizes para sempre.

E agora está lançado o desafio: QUAL É O LIVRO QUE É PIOR QUE A SUA ADAPTAÇÃO PARA O CINEMA? Deve existir, como toda as regra que tem suas exceções, mas eu não me lembro.

5 comentários:

  1. Ai, Claudinha, que desafio! Adaptação é sempre o que o próprio nome diz, né? Dá uma impressão de gambiarra. Também não me lembro de nenhuma, mas adorei o post. Claro que já fiz isso com livro e com filme também. Beijão!

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  2. Oi Clau...
    Pois é, acho que menti em algumas coisas para preservar o final do livro. Na verdade, apesar do livro todo ser bastante realista, seu fim se assemelha às grandes estórias de amor.
    Disse Contardo Calligaris:
    "É uma grande crônica sobre os amores perdidos...por narcisismo, por neurose, por nada".
    Bjo pra ti e não leia o final antes de chegar lá!! rs

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  3. Oi, Claudia!
    Assisti o filme o Diário de uma Paixão antes de ler o livro, e sou apaixonada por ele. Depois de ler o livro ainda prefiro o filme. Deve ser pelo encanto dos atores...
    Um beijo
    Pamela

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  4. Existem livros que são boas historias, muitas vezes excelentes mesmo, mas são historias contadas de uma maneira bi-dimensional, que podem ser descoladas do papel. Você puxa a primeira letra e todas as palavrinhas saem juntas, pegadas uma a outra numa fita de frases e parágrafos, a tinta toda vem em forma da historia e você pode adaptar da maneira que quiser. Esses são fáceis de serem adaptados ao cinema. Existem outros livros que são muito mais do que boas historias. São bem escritos. Alguns tão bem escritos, tão cheios de humor, sutileza, e com um uso inteligente, mas sutil das mais diversas possibiilidades da língua, que se a gente puxar a primeira letra, o texto nao sai. Ele está grudado, teimando em continuar no livro. Esses livros não gostam nem mesmo de serem traduzidos a outra língua. Mesmo que você explique que na sua adaptação vai ter um narrador usando as palavras originais, o texto se recusa a se entregar. No fim, se a gente der um puxão mais forte, as palavras se desintegram e as páginas se esfarelam todas.

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    Respostas
    1. Adorei o termo "teimando", uso ele sempre também :)
      Você fala sobre a dificuldade de um texto em sair do papel. Sim, concordo. Mas existe também a dificuldade de um romance sair da idealização e partir para a vida "real". Alguns amores são também bi-dimensionais, não são? Talvez este seja o grande drama da literatura e dos amores fantasiados: a dificuldade de serem flexiveis E (importante isso) manterem o mesmo encanto. Um desafio para os próximos poetas...

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