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quinta-feira, 24 de março de 2011

Dizem que o melhor da festa é esperar por ela.
O pior do divórcio é esperar por ele também.

Sabe quando a gente passa um tempão olhando para baixo, decidindo se devemos ou não pular de um trampolim? E aí quando pulamos, dizemos: só isso? Era assim tão fácil?
Então, conheço muita gente que tem a mesma sensação depois que assina o divórcio: pronto? era só isso?
O pior é a decisão de pular.
Do trampolim ou do casamento.
E é claro que no momento do pulo tem toda a adrenalina, todo o drama, a sensação exata de que vamos morrer e no final não vai sobrar nada para contar a história.

Mas aí quando tudo acaba você fala: acabou?

Tem gente que passa dez anos namorando para decidir se desejam mesmo se casar. Fazem sexo antes do casamento para ver se a coisa funciona, moram junto para ver se vai dar certo, pensam muito e aí finalmente decidem oficializar a união. E depois de todos estes cuidados, qual é a certeza do futuro da relação ser absolutamente perfeita? Nenhuma.

Tem gente que vai na terapia de casal para ver se devem mesmo se separar, passam um tempo afastados para testarem a distância, se envolvem com outras pessoas para relembrarem relações diferentes, pensam muito e aí finalmente decidem oficializar o divórcio. E depois de todos estes cuidados, qual é a certeza de que o futuro do casal será melhor separado? Nenhuma.

E isso é que dá mais raiva: não há uma ciência exata para as relações.

A decisão do casamento é um processo. Para alguns looooongo, para outros coisa de horas.
A decisão do divórcio também é um processo. Para alguns looooooongo, para outros coisa de minutos.

Tem muita gente que pensa, desce da escadinha, volta no trampolim, fica tentando pensar nas mil coisas ruins que podem acontecer no pulo. E fica sempre fica com vontade de pular, mas sempre morrendo de medo.
Outros preferem a filosofia do band-aid:


"É melhor um final trágico do que uma tragédia sem fim."

Mas é claro que todos os divórcios são sofridos.
O problema é alguns são bem mais, justamente pela necessidade de certezas, por querer colocar tudo na balança: filhos, sexo, amizade, casa, dinheiro, família, defeitos do parceiro, qualidades do parceiro, promessas de amor não cumpridas, futuro planejado pelo casal, trabalho com advogados, amor que talvez exista, amor por uma terceira pessoa (que talvez também exista), vontade de não sofrer, desejo de parar de sofrer...

Tudo fica na balança, os prós e os contras, em lados opostos, e aí a conclusão é... nenhuma.
É claro que tem um lado que pesa mais e é claro que você intuitivamente sabe qual é, mas como dizem que devemos agir racionalmente numa hora dessas, a razão nunca valorizará o lado mais pesado se ele for a favor do divórcio.

A razão nunca vai concordar em desfazer uma família, entristecer crianças, empobrecer um casal, gerar problemas burocráticos de pensão e visitas, guarda compartilhada, divisão de bens!!!!
Não, a razão NUNCA assinaria embaixo disso.

E jogar crianças no estranho mundo de pais divorciados dá um medo danado. Se ao menos pudéssmos pular sozinhos... mas não dá.

Aí voltamos à estaca zero.
Como colocar na balança grandezas tão diferentes?
Não dá para comparar óculos com abacaxi.
Não dá para comparar desejo de ser livre com filhos chorando pela casa.

São grandezas diferentes!!!! Não cabem na mesma balança e, para mim, é este o motivo da racionalidade nunca poder definir sozinha o futuro de um casamento. Ela não consegue trabalhar com elementos tão distintos, tadinha, a razão tem seus limites!

O importante é acreditar que o pulo será sofrido, algumas poucas pessoas saem seriamente lesadas de um divórcio mas, no geral, a maioria sobrevive e fica bem. O importante é acreditar que o pulo, por mais estressante que seja, sempre termina e certamente te deixará numa situação melhor.

Se você sente isso, se você tem fé nessa verdade, então pule.
Lembrando que você pode subir de novo pela escadinha e repensar o pulo novamente. Com a vantagem de ninguém te dar uma nota por isso. O pulo nem precisa ser perfeito!!!!!!

E o pulo então te dará de presente a solidão, no bom e no mau sentido. Te colocará num ambiente novo. Te deixará com frio, vulnerável, mas estranhamente acolhida.
E neste lugar haverá um novo espelho que te mostrará um novo "eu".
Boa sorte.


(Oswaldo Montenegro)
Não é que eu não tenha amigos, não
Não é que eu não dê valor
Mas hoje é preciso a solidão
Em nome do que acabou
Vontade de ser sozinho
Mas por uma causa sã
Trocar o calor do ninho
Pelo frio da manhã
Valeu a orquestra se valeu
Agora é flauta de Pã
Hoje é preciso a solidão
Com a benção do Deus Tupã, ô menina
Mas dá pra se ser feliz, ô menina (...)
Amar sua solidão
Hoje é preciso um uivo
De lobo na escuridão, ô menina
E a quem perguntar quando o vento sopra
Responda que já soprou
O vento não traz resposta
Acabou


É claro que este post foi feito pensando em alguém!



3 comentários:

  1. Danke schön, meine Blondine!
    Lindo post. Sábio post.
    Te espero para o nosso café de temas infinitos.
    Saudades muitas,
    Ire.

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  2. O mergulho pintado na tumba do mergulhador no museu de Paestum. O salto, congelado no espaço e no tempo, um grande vazio com o mar azul embaixo. Ele saltou desde uma estrutura, não de um penhasco. A postura do mergulhador no salto é olímpica: nú e só.

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  3. O salto em si é como morrer.

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