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sexta-feira, 18 de março de 2011

A infância superprotegida.

A infância precisa de desafios maiores. De perigos reais. De situações cheias de adrenalina e emoção. Senão não acho que seja uma infância boa. Essa é a minha opinião. Para mim, as melhores lembranças que ficam para a gente é quando conseguimos fazer as proezas e nos vangloriamos por isso.

Mas para a glória ser de verdade os desafios tem que ser reais, não esses arborismos, escalada monitorada, parquinhos projetados, chão fofo para amortecer quedas. Isso é só brincar de ficar com medo. Brincar de superar desafios. Eu quero problemas reais.

Lembra do filme "Goonies"??? Ou do fofíssimo "Conta Comigo"? Tipo aquilo: emoção de verdade!

Minhas melhores lembranças da infância era quando ia para a o litoral e me metia em praias desertas, cavernas com macumba, quando a maré subia e a gente não tinha como voltar e quando escorreguei nos mariscos e me cortei toda.
No sítio da minha avó tinha muita cobra, lamaçal entre bambús, fazíamos comidinha de verdade botando fogo entre tijolos.
E na cidade também tinha emoção: quando a turma ia de ônibus para o shopping mas pegávamos o ônibus errado e íamos parar no centro (aos 10 anos, sem celular), quando íamos a pé para as quadras da Unicamp e tinha um exibicionista que abaixava as calças para nós, quando íamos em shows de rock aos 11 anos e víamos briga, drogas e coisas estranhas. E tinha amigos que atravessava a cidade de bicicleta, que ia acampar em lugares malucos, que inventava bombas com foguete de festa junina.

E a lista é infinita!!!! Todas histórias boas, heróicas e inesquecíveis. Claro que eu podia ter morrido afogada, ter sido raptada, picada, sequestrada, estuprada, machucada, traumatizada... e mil outros "adas". Mas a vida é sempre um risco, e não é por causa deles que devemos nos privar totalmente das experiências de viver por nossa conta de vez em quando.


E os briquedos com selos do Inmetro são exageradamente protetores. Antigamente as meninas brincavam com casinhas de boneca delicadas, furavam os dedinhos nas agulhas, faziam chá de bonecas com louça chinesa e faziam comida de verdade no fogão. Os meninos ganhavam um caniteve (e usavam!), pulavam grades com lanças afiadas e enferrujadas, guerra de mamona... tudo perigoso!
Algo que a Fischer Price nunca teria no seu catálogo. E a Fischer Price sucks! Todas as minhas aquisições da marca foram um fiasco de popularidade aqui em casa.

Nas escolas o piso é antiderrapante, os cantos arredondados, as cadeiras reforçadas, a grama detetizada e sem formiga, a quadra não rala mais o joelho quando caímos. Para andar de bici tem capacete, de patins tem uma tralha...

E antes as crianças comiam com talheres de verdade, copos de vidro e pratos de louça. Hoje eles não tem nem chance de quebrarem um copo e cortar o pé nos cacos! Não conseguem nem se cortar com uma faca!!! ABSURDO!!!

Hahaha... eu sei, já ouvi falar sobre acidentes domésticos. Também já ouvi, de passagem, alguém falando algo sobre violência urbana. E acredito que tudo isso exista, mas não podemos esterilizar a infância de nossos filhos por causa disso.
Pecar pelo excesso de zelo não protege, torna a criança insegura e incapaz de resolver problemas por si só.

E os pais precisam permitir, claro que com cuidado, com confiança, com o coração na mão, mas precisam. A gente precisa dar um jeito de contar para as crianças que o mundo é bom e eles são capazes.
Essa é a minha opinião.

E não falo isso só porque moro numa cidade pequena. Sei que ajuda, mas fazia algo parecido quando morava em Campinas também. Quando meu filho mais velho tinha 13 meses ele ia passear de ônibus com uma mini babá (15 anos) porque ele amava "ombidu". E morávamos perto do complexo penitenciário. Nada menos que 4 cadeias de segurança máxima com fugas semanais e perseguições hollywoodianas. Depois de horas voltavam felizes da silva.

Já contei que meus filhos voltam à pé da escola? Andam no total 3 quarteirões. Podem ser atropelados? Podem. Podem ser raptados? Podem. Podem ser mordidos por um cachorro bravo? Claro! Mas eles adoram e melhoraram muito depois que começaram a andar sozinhos pela rua. Se tornaram mais seguros, mais confiantes, mais maduros e responsáveis.
E cúmplices, porque no trajeto um cuida do outro..."Conta Comigo"!!!



Hoje na hora da saída de escola começou a chover. Fiquei em casa pensando como será que eles resolveriam o problema. Mas aí comecei a me sentir uma péssima mãe e sai de carro para procurá-los. Nunca devia ter saído! Encontrei os dois na rua molhados, mas tão felizes, tão realizados, tão fofos! Uma bela aventura para dois menininhos de 6 e 5 anos.
Hoje o mais velho comprou um diário, e é claro que a chuva vai ser registrada para a eternidade.

8 comentários:

  1. Que delicia de lembrancas..... Tem tb subir na caixa d'agua do condominio, andar de caiaque no lago, de bicicleta no teto do ciclo básico.... Fazer brigadeiro e comer na panela!

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  2. RS que delícia este final da história! Me coloquei no seu lugar, vendo-os felizes debaixo da chuva pela rua... Sim, devia ter saído sim para vivenciar! Imagino que você tenha sentido aquela emoção dentro do peito, a mesma que consigo simular aqui sozinha agora... Não?

    Quanto ao lugar que vocês atravessavam e que na volta não conseguiam retornar porque a água não deixava... Só pensei na sua mãe! Coitadaaaaaa!!!!!! Rsrsrsrs.

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  3. Sim, anônimo, e também ser flagrada pelo guarda de madrugada na caixa d´água, ouvir bronca do Fernando por NADAR no lago quando "sem querer" caíamos do caiaque. Bici no teto não lembro! Mas os brigadeiros: inesquecíveis. Deliciosas queimaduras nos braços!!!

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  4. Uma coisa que falta na nossa vivência de classe media e o compromisso com alguma tarefa . Nossas crianças sao preservadas por lei de qualquer trabalho enquanto no primeiro mundo todo menino tem que cortar a grama do jardim por o lixo pra fora aspirar a casa por a roupa pra lavar na máquina fazer baby sitter pra ganhar dinheiro lavar o carro do vizinho fazer compra pra vizinha velhinha.As escolas sao limpas pelos próprios alunos todo final de aula na Austrália , inclusive os banheiros. sabem quem e encarregado de abrir o portão da escol a todo dia? Um aluno escolhido mensalmente.Cada menino grande e responsável por um pequeno durante toda a vida escolar. Se opequeno aprontar alguma ,ele e seu tutor sao convidados para tome chá com o diretor no dia seguinte e discutirem a questão

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  5. Nem sei como estou aqui para ler suas histórias... Eu era muito destemida (ou faltava juízo).

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  6. Você me fez voltar no tempo onde aprendi a andar de bicicleta na linha do trem,na beira do rio que passava perto de casa onde pegavamos argila pra fazer pulseiras, nas conversas de assombração à noite nas calçadas (TVs eram poucas naquela época).....
    Obrigada pela volta ao passado

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  7. Você está coberrta de razão, hoje somos o que somos porque mesmo com limites muito mais apertados que nossos pais nos davam eles também nos cercaram de responsabilidades pelos nossos próprios atos, nos ensinaram a viver.... bjs

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  8. Eu estou cansada de ser chamada de irresponsavel por uns, de maluca por outros, mas a verdade e que as minhas filhas nao podem andar de bicicleta na rua por que tenho medo que sejam atropeladas ( voce ja viu Bahraini dirigindo?? elas nao tem mais bicicleta e pronto!!) Mas quando tinham 9 e 10 anos, eu as deixava em feiras de rua em Hong Kong (por exemplo), enquanto ia jantar num lugar que nao lhes interessava.

    Quando nos encontravamos de novo, era aquela farra. As duas ultra felizes pela experiencia, cheias de bugigangas inuteis, e eu com a barriga cheia e feliz pela conquista delas - e minha!

    Hoje, as duas sao ultra independentes, se viram e resolvem qualquer babado sem se stressar. E so tem 12 e 14 anos. um dia vao ser adultas do balacobaco 9s e nao forem raptadas, estupradas, ou ficarem perdidas num pais esquisito desse mundao...

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