Tenho problemas graves com o meu cachorro beagle que é uma peste. Algumas pessoas já sabem disso porque andei reclamando bastante dele nesses dias. Mas queria dizer, antes de mais nada, que o meu problema pessoal não vem ao caso no que eu pretendo dizer aqui hoje.
Ok? Posso falar? Então lá vai:
Acho um exagero esse povo que passa a existência zelando pelos animais abandonados.
Acredito que toda forma de vida deve ser amparada e sei também que os animais sofrem horrores nas mãos da raça humana que, não sei porque cargas d´água, decidiu ocupar o topo da hierarquia no planeta. O homem domesticou os animais, levou os coitadinhos para o ambiente insalubre de uma cidade e, assim, produziu seres passivos e deprimidos, que agora precisam de nós para sobreviverem.
Foi um erro. Domesticar animais foi, sem dúvida, uma grande idiotice.
Por isso acho ótima a intenção de algumas organizações que lutam contra o abuso a estes bichos e, pessoalmente, tenho uma compaixão especial por aqueles que cuidam dos cavalos forçados a um trabalho cruel no trânsito caótico.
Mas, o que era para ser um movimento pela minoria, acabou sendo uma proteção descabida pelos animais em detrimento das nossas crianças Muita energia, muito amor e muita dedicação está sendo depositada nos animais e, ironicamente, as nossas crianças acabam sendo postas de lado.
Quem convive comigo sabe que eu tenho uma famosa frase que repito sempre: "Não tenho pena de gente adulta." Não, não tenho. Mas tenho sempre muita pena das crianças que são totalmente submetidas ao sistema maluco de suas famílias e escolas.
Sim, existe o Conselho Tutelar e existe a Declaração dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, mas não existe uma comoção popular pela causa, e isso é uma enorme lástima.
Exemplo: Tenho dois anos de rede social e NUNCA vi uma postagem solicitando adoção para uma criança abandonada na esquina. Nunca vi alguém solicitando com urgência uma professora particular para uma garotinha que não tem ajuda em casa e está correndo o risco de repetir de ano. Nunca li uma denúncia de um menino que fica abandonado de noite no quintal enquanto a mãe se prostitui dentro de casa (nunca viram? eu já!).
Entretanto, todos os dias eu vejo centenas de compartilhamentos de causas urgentes de animais necessitando abrigo.
Posso ser excessivamente pragmática e demasiadamente racional, mas se o ser humano já ocupou este posto imbecil de superioridade, resta-nos seguir as regras desta configuração e começar, a partir disso, tentar rearrumar as premissas (sabendo que dificilmente os animais ocuparão novamente o espaço que merecem).
Acredito que deveríamos gastar todas as nossas fichas tentando arrumar os danos que já foram feitos, mas começar pelos cachorros não me parece ser uma boa escolha já que os cachorros, infelizmente, não tem poder de mudança.
Conheço várias (várias!!!) pessoas que se preocupam muito com os animais e fazem campanhas e feiras de adoção em massa. Conquistam convênios com veterinários bonzinhos para esterilizar os bichos, clamam por delegacias especiais para cuidar das agressões contra animais... bacana.
Mas não tenho no meu ciclo de amigos pessoas que gastam a mesma energia com as crianças. Nunca vi uma ONG de médicos que aceitam esterilizar mulheres gratuitamente. Nunca vi feiras na rua de pessoas clamando por adoções de... crianças.
É que os animais comovem. Crianças não mais.
Estamos calejados e entediados com o sofrimento humano.
As fotos de animais na net causam sempre reações de fofura e compaixão:"awwwwwnnnnnnnnn ti lindo!!" ;"quero levar prá minha casa!" ;"ai que vontade de abraçar!!". Quando colocam a foto de um bicho para ser adotado, em poucas horas ele consegue um lar. Incrível.
Mas as fotos de crianças não tem o mesmo impacto emocional. O povo acha bonitinho e tal, mas não desarma. Não causa uma comoção coletiva. Estranho, né?
Minha hipótese é de que a identificação com as crianças é muito explícita e direta, aí o mal estar fica muito óbvio e difícil demais para lidarmos.
Posso concluir, com isso, que cães e gatos se tornaram um símbolo do nosso afeto mais puro e genuíno. Eles representam agora o nosso instinto primitivo de proteção. Todo o zêlo, todo o amor que gostaríamos de exteriorizar, ultimamente, só conseguimos demonstrar pelos animais.
"O Brasil é o segundo país do mundo com maior população de animais domésticos, perdendo somente para os Estados Unidos. O gasto mensal com um animal brasileiro é, em média, 350 rais. Nos últimos quatro anos houve um aumento de 17,6% no número de cães e gatos no Brasil. São hoje 27,9 milhões de cães, 12 milhões de gatos e 4 milhões de outros pets. A relação é de um cão para cada 6 habitantes e um gato para cada 16 habitantes." (dados do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Desculpa, mas isso tá errado. É um equívoco.
Um país com problemas educacionais (e por trás disso: problemas amorosos) tão sérios e urgentes como o Brasil não pode aumentar a sua "frota" de animais antes de arrumar a situação das crianças. Bichos não são a prioridade! Não ajudarão no desenvolvimento da nação.
Sei que o certo seria conseguir fazer tudo junto: cuidar de todos. Mas isso é utopia, e se eu tivesse que sacrificar uma causa, a causa dos animais, com certeza, seria a primeira.
"Troque o seu cachorro por uma criança pobre."
(Eduardo Dusek)
E depois de conquistar tudo isso, neste lindo dia teríamos então o direito de resgatar os nossos animais e gastar quanto dinheiro quiséssemos com eles.
Bom, é isso. Só isso.
Tudo isso.
PS: Não é a toa que este post está sem imagem. Qualquer uma seria tolice.