Sabe sonhos recorrentes? Desses que a gente tem durante a vida toda?
Então, eu sempre tive e o assunto era basicamente o mesmo: bebês jacarés. O enredo variava um pouco, mas a descoberta do sonho era sempre a mesma: pequenos jacarés habitavam o fundo da garrafa da minha coca-cola, o fundo da piscina onde eu nadava, o final da panela de brigadeiro, o forro do meu edredom. E eu... não sabia!!! Nem desconfiava, imaginem só! Mas um dia, no sonho, descubro eles por lá: pequenos, agitados e úmidos, e a minha reação sempre era de nojo: "Ecaaaaa, eu nadando aqui/bebendo coca-cola/comendo na panela/dormindo nessa cama esses anos todos sem nunca desconfiar que os filhotes estavam aqui dentro. Que nojo!!!!"
Os sonhos eram assim, e os filhotes de jacaré me atormentaram pela vida afora.
Por causa disso passei a ter repulsa por répteis com patas (cobras não!). As patinhas com unhas, o rabo inquieto, a pele escamosa, os olhos grandes... tudo me causava ojeriza.
-See you later, alligator!!
Quando fui estudar psicologia e aprendi que os sonhos trazem ensinamentos importantes (se forem corretamente interpretados), logo lembrei dos meus bebês répteis. Sabia que um dia eu teria que encará-los e decodificar o significado deles na minha vida. Sabia que, se o enredo acontecia com muita frequência, era óbvio que os sonhos estavam querendo me dar um recado importante. No entanto, nenhum terapeuta interpretou a história por mim, e o nojo que os bichos me causavam sempre me esquivou de um confronto pessoal e voluntário.
Na hora de dar o nome ao blog, o minúsculo lagarto Basiliscus que andava sobre as águas foi o único e mais óbvio que eu consegui pensar. Eu não tinha nenhuma segunda opção. Sim, definitivamente o réptil seria o meu padrinho nesta empreitada.
Mas é engraçado que na época eu não associei o lagartinho aos sonhos. Nem lembrei!! Semana passada, lavando louça, TUDO veio à tona: o Brasilicus é o meu ânimus, claro! O pequeno réptil dos meus sonhos, sempre escondido, abafado e recriminado, veio finalmente à superfície da minha consciência para me ajudar. Para me resgatar.
"Me dê a mão vamos sair prá ver o Sol..." |
Nunca escrevi: diários, contos, poemas e nem era boa em redação. Nunca tive identificação com a escrita, mas quando fui defender a minha pesquisa na universidade, a mulher da banca (que veio de outra cidade e nem me conhecia) disse na mesa da defesa da tese:
-Claudia, você promete para mim que nunca vai parar de escrever? Sua escrita é muito divertida e leve.
Vale dizer que o meu trabalho era sobre câncer. Câncer infantil. Com embasamentos teóricos, procedimentos e conclusões. Meu deus, o que podia ter de divertido nisso? Desconsiderei totalmente o pedido da moça, claro. Achei que ela estava louca. Mas no decorrer dos anos inúmeras pessoas disseram a mesma coisa: "escreva"," escreva sobre isso". Tsc, tsc. Nunca achei que seria proveitoso.
-But you said it was only "for a while"!!! |
Bom, e a minha interpretação tosca é que, no sonho, os pequenos jacarés eram meu ânimus que estavam sempre por perto, rondando, e nunca, jamais, me fizeram mal. Eram bebês e precisavam apenas de cuidados, tadinhos. Mas eu, tola, morria de nojo e fugia dos bichos. Penso que eles queriam apenas subir à superfície, crescer e participar da minha vida. Estavam apaixonados por mim, os pobres.
E sei que o blog é meu ânimus porque já me contaram que o que eu escrevo aqui é demasiadamente masculino. Muitas pessoas me dizem isso: que o blog é masculino e até um pouco sexista, com mulheres de biquini, peitinhos e piadas de botequim.
Achei estranho e surreal, mas tive que concordar, claro.
-Ô rapá, chega aí. Deixa eu te contar a diferença entre a puta e a santa! |
Boa parte dos meus leitores fiéis são homens e meu patrocinador/guru aqui dentro é homem. Um homem maravilhoso que me dá dicas importantes para eu não apenas me divertir por aqui, mas também ganhar dinheiro escrevendo: "mande para o portal tal", "tente vender o seu blog", "deixe ele mais moderno"...
Incrível.
Por eu ser casada e compromissada, meu ânimus, desta vez, veio me salvar através de um blog. Jardineiros são arriscados.
Mas veio de forma ainda mais masculina, criativa e linda.
Escrever hoje me dá prazer e me faz sentir completa e feliz.
Se é bom ou não eu juro que não sei, mas, como Clarice Lispector: “Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…” (e eu juro que foi ela mesma que disse isso!)
Happy, happy end! |
Curioso, eu tb sempre achei que seu blog não era "de menina", mas também não o acho "masculino". Acho que o seu humor atinge todos os públicos. Eu me lembro bem do seu trabalho da faculdade; fomos as únicas que fizemos o trabalho com pessoas de fora da Psico. Um beijo, Clau!
ResponderExcluirrs... transgressoras!
ExcluirVocê pode até estar em outra, mas deixa eu te falar: que grande psicóloga você é, minha querida!
ResponderExcluirConcordo com a examinadora da banca ...
ResponderExcluirVocê não deve parar de escrever !
Tenha uma boa semana.
Cláudia sempre leio seu blog. E a cada vez me surpreendo como vc consegue acessar e usar tanto a sua criatividade. Vc não pode parar de escrever mesmo!!!!!!!! bjs saudades e obrigada bjs Tiemi
ResponderExcluirMe lembro do seu discurso de oradora da classe da formatura do pre ! Dizia assim:" Eu prometo nunca ser careta como os adultos"
ResponderExcluirGostei do ultimo comentario, acima, adorei na verdade!
ResponderExcluirVoltando... vc escreve absolutemte bem. Eh facil - e gostoso - ver
como gosta disso, transita bem e se completa com os textos - sempre
otimos!
Quanto aos jacares, sao tao primitivos que tudo que fazem eh
sobreviver - sempre conseguem! So aqueles bem grandes, ja adultos
plenos e que dominam certas lagoas, oferecem algum risco. Para saber
se estao por la, ou ca, saia nas noites bem escuras e ilumine, voce
aprende a ver o tamanho deles por quao forte os olhos brilham... Uma
vez que vc descobre onde estao pode ate encostar neles.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÉ verdade, seu amigo psicólogo tem razão.
ResponderExcluirGosto muito das coisas que você escreve em seu blog e não consigo parar de lê-lo.
É verdade, seu amigo psicólogo tem razão.
ResponderExcluirGosto muito das coisas que você escreve em seu blog e não consigo parar de lê-lo.