O post anterior me fez lembrar desta música abaixo. Esta música me fez lembrar das minhas aulas de psicologia analítica e as minhas aulas de psicologia me fizeram ouvir, esta semana, relatos de amigas (lembrem-se que não falo de pacientes aqui) de uma forma diferenciada.
E, ouvindo os outros, eu descobri algo incrível.
Mas este texto é apenas a primeira parte da história. Lá vai:
"Terezinha de Jesus numa queda foi ao chão.
Acudiram três
cavalheiros
todos de chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai,
o segundo seu irmão,
o terceiro foi aquele
que
a Tereza deu a mão."
Existe uma instância psíquica da teoria junguiana chamada ânimus, que nada mais é do que os aspectos masculinos da psique de uma mulher.
Os aspectos masculinos a fazem lutar, brigar e conquistar coisas importantes para a sua vida. Mas, para isso, a moça tem que estar de bem com o seu próprio ânimus. Se a relação de uma mulher com o próprio ânimus for ruim, ele pode se tornar um tirano, boicotando-a pela vida afora. Criticando o seu desempenho profissional, sacaneando os seus relacionamentos amorosos, questionando a competência da moça, ridicularizando-a quando ela se aventura em um desafio.... um inferno.
E existe nos homens, claro, a instância oposta: a ânima.
A ânima são os aspectos femininos de um homem que o acolhe, o emociona, o incentiva com afeto, o surpreende com beleza, arte e poesia. A ânima pode ser uma mãe boa interna que o encoraja ou uma musa inspiradora que o preenche de leite e mel. Mas, de novo, preciso dizer que a ânima precisa estar em sintonia com o rapaz. Se ela for uma ânima ruim, negativa, pode se transformar numa bruxa má ou numa sedutora vulgar que usa a feminilidade de forma destrutiva. Como sereias que levam os navios à desgraça.
Bom, numa aula sobre o assunto, uma professora disse:
-O ânimus não pode ser hierarquicamente superior, como um pai, e nem pode ser um igual, como um irmão. Se isso acontecer não há ganhos com a conquista do ânimus.
E eu logo falei:
-Ah, entendi, como o "terceiro" da Terezinha de Jesus?
A professora, então, sorriu e falou, com uma paciência maternal:
-Sim, Claudia, sim. Como o terceiro da Terezinha de Jesus.
Terezinha caiu e precisava de ajuda para levantar. Apareceram 3 homens, mas ela deu a mão justamente para aquele que não era o seu pai e nem o seu irmão. Podia ser um reles pretendente amoroso, mas eu adoro achar que era o ânimus. Fica mais místico.
E aí é que está a beleza da teoria junguiana: a ânima e o ânimus são instâncias que surgem para resgatar o paciente de uma crise. Terezinha caiu. Nós também caímos, e precisamos fazer as pazes com estas nossas instâncias opostas se quisermos ser salvos.
Já falei sobre isso neste post aqui. Leonardo Dicaprio certamente, foi o ânimus da moça do Titanic.
Bom, do ponto de vista prático, o ânimus deve estar dentro de nós, como uma voz que nos orienta. Mas se você não possui um bom ânimus, não consegue acessá-lo ou ignora-o por completo, tcharããããm... não se preocupe!! Ele virá até você sob a forma de um homem de carne e osso. (É preciso lembrar que o mesmo acontece com a ânima, tá? E neste caso, obviamente, é uma mulher que aparece).
E ele/ela sempre chega da forma mais improvável e linda.
É claro que o cara é um homem especial que te valoriza, te inspira, te incentiva, te motiva, te corrige, te orienta, te elogia... e é claro que podemos nos apaixonar por ele.
E aí que está a dificuldade: diferenciar o ânimus de um grande amor.
Digo isso porque esta semana conversei com duas mulheres que me contaram sobre o encontro delas com os respectivos ânimus (vale dizer que este encontros sempre são emocionantes e eu adoooooro ouvir histórias assim). E o mais incrível é que as duas falaram, basicamente, a mesma coisa: Sinto-me segura e amparada ao lado dele, mas sei que não é um amor romântico, é um amor pelo masculino e, ao mesmo tempo, por mim mesma. É como se ele estivesse me ajudando a evoluir como mulher. Como se ele estivesse me preparando para algo maior.
E eu comentei com ambas: "Uau, que super sacada! Você acabou de economizar anos de terapia."
Tem gente que conhece o ânimus e acredita que lá está um grande amor. E aí fica sofrendo, chorando, insistindo, dando murro em ponta de faca. Não reconhece que o cara só tem uma função provisória na sua vida e que, não necessariamente, veio para ficar.
Ou tem gente que conhece o ânimus e foge de medo. Ou, pior, enlouquece...
Existem histórias que falam de pessoas que se desestruturaram diante de um ânimus/ânima, e o filme "Perdas e Danos", com o Jeremy Irons se apaixonando pela nora, é o que eu mais consigo lembrar agora.
"O segundo foi o seu pai..." |
Ah, tem também o filme "Ensina-me a viver", onde um jovem rico, deprimido e potencialmente suicida conhece uma velha alegre e se apaixona pela ânima da velha sábia, salvando-o da crise existencial que ele se encontrava. (com uma trilha sonora incrível do Cat Stevens)
Mas aí vem a pergunta crucial: como diferenciar o ânimus/a ânima de um grande amor?
Vixi... difícil, mas costumo dizer que se o cara ou a moça falam E-XA-TA-MEN-TE o que você precisava ouvir é quase certo que é apenas a personificação de uma instância psíquica. Se existe algo mágico no ar e você tem a percepção de ser personagem de uma história incrível, também pode ser. Se você tem a sensação que está conversando com você mesmo, putz, é batata! E se tudo flui bem, mas a química entre vocês não existe, é certeza.
Sim, é duro, mas precisamos admitir que o amor não é assim tãããão incrível. Amor não é essa completude toda. Amor em geral tem arestas, tem espinhos e, infelizmente, nunca dizem aquilo que e gente queria ouvir.
Pena...
Nossa Claudia, eu sempre pensei que fosse o homem que tinha ânimus e a mulher que tinha uma ânima… não não. Estou falando bobagem. Claro. Tanto o homem quanto a mulher têm ânimus, e só a mulher que tem uma ânima... Certo? Rsrsrsrs. Você não fica feliz sabendo que a gente entendeu direitinho? Pati
ResponderExcluirPuxa, sou assim tão ruim como professora? Ó,é o seguinte: a mulher é feminina em sua essência e tem uma parte masculina chamada ânimus. O homem, vice versa, com sua ânima.
ExcluirEra uma pegadinha essa sua confusão? Ah, ok, ahahah, boa.
Obrigado Querida Cláudia ! Seus textos me convidam(na verdade me sinto intimado)a refletir e repensar momentos e decisões que tomamos em nossas vidas, e estou grato em poder faze-lo de forma tão sincera ! Sabe aquela sensação gostosa que temos ao ler um livro e que ele foi escrito somente pra voce ! ! Espero por um livro seu ! ja o vejo com 15 edições e traduzido em 20 idiomas ! hehehehe ! Até breve !
ResponderExcluirrepondendo as perguntas.
ResponderExcluirSim! encontrei meu ânimus. e me apaixonei perdidamente, mas passou rsrs, agora ele é meu melhor amigo e conselheiro, analista, psicólogo, ouvinte, pai, irmão... dizia pra ele que não sabia o que ele realmente era pra mim, agora sei, é meu ânimus!
Adimito que meu ânimus interno não é dos melhores. e o que eu encontrei foi assim como você disse, chegou da forma mais improvável e linda.
e sim, é exatamente o que você descreveu.
Thaian
Clau, e o meu animus pode ser uma mulher??? Pq eu acho que tenho uma dessas...
ResponderExcluirVixe... você é hétero??? Ok, muita calma nessa hora... ó, os psicólogos são espertos. Para encaixar casos como o seu, eles dizem que vc teve uma identificação com o ânimus da sua amiga (que eu imagino ser bem resolvida com o ânimus dela, né?). Psicólogos dão um jeito de encaixar tudo e tudo fazer sentido para não deixar ninguém de fora das suas teorias perfeitas! Existe até "a ânima do seu ânimus", acredita?? (JURO, existe mesmo) Como diria Obelix: "Esses romanos são uns loucos" (toc, toc, toc)
ExcluirObrigada! Vc acabou de me dar a chave para a liberdade! de verdade, obrigadaça!
ResponderExcluir(sorriso aberto aqui lendo isso)
ExcluirBoa sorte, Georgiana, seja lá quem você seja. Bom te ler.