Ai, ai, é uma droga esse medo de escrever bobagens. Não tenho medo da polêmica (nem poderia!), tenho medo da pieguice e do senso comum. Pavor! Leio os posts e penso que são desnecessários e ruins, psicologismos de quinta categoria. Acredito que o mundo, definitivamente, não precisa de mais "Augusto Curys" ditando banalidades.
Eu estava nessa maré baixa de inspiração quando, ontem, aconteceu algo incrível: eu, com 38 anos de idade, descobri a paixão.
E foi lindo.
Vou explicar.
Nesta semana o salário acabou antes de terminar o mês. Já aconteceu com vocês? É assim ó: o dinheiro acaba e o mês, teimoso, insiste em continuar. Sim, é mesmo horrível.
Bom, mas mesmo nesta situação dramática precisamos nos virar para manter algumas necessidades básicas. Não dá para continuar vivendo sem sal nem açúcar, por exemplo. Não dá para ficar esta última semana sem desodorante, sem pasta de dente, sem shampoo... e, para mim, não dá para passar um dia sequer sem hidratante.
Impossível!
Tem gente que acorda no meio da noite para fazer xixi. Alguns, viciados, acordam para fumar. Tem gente que levanta para comer. Eu acordo para passar hidratante. Sim, eu sei que é loucura, mas é a mais pura verdade. Levanto as 3 da manhã, sento na cama, passo hidratante e volto a dormir. Vai entender...
E, portanto, mesmo na falta de recursos financeiros eu precisava urgentemente de um hidratante para terminar o mês. Como fazer, meu Deus? Como comprar um reles "Johnson`s" ou "Vasenol" com apenas 5 reais?? Sim, porque, o caríssimo "Nívea", não dava nem prá cogitar. Então, com medo de uma potencial noite insone com a pele pedindo um creme, decidi comprar o mais barato e o mais cafona. Comprei o "Paixão".
Odiava a propaganda do creme com óleo de amêndoas "Paixão". Odiava o nome!! Odiava a embalagem cintilante. Detesto o cheiro de óleo de amêndoas (cheiro de gordura) e jurava para mim mesma que nunca compraria o dito cujo.
Mas... a necessidade falou mais alto e, ontem, eu assumo que comprei.
Paguei R$4,49 e fui para casa na fissura, como um drogado, para passar o tal creme na perna.
Virei, apertei, e ele demorou para sair porque é grosso e muito, muito cremoso. Já fiquei agradavelmente surpresa com isso pois, pelo preço, eu imaginava algo bem ralo.
E então veio a maravilha: espalha bem, delícia, macio, cheiroso, gelado, fresco... tudo de bom. Dormi bem a noite inteira e hoje cedo eu estava com a pele perfeita: o pé liso e macio, a perna ainda gelada e úmida, os cotovelos brilhantes, um verdadeiro milagre.
Puxa! Tantos anos desperdiçando dinheiro com farmácias de manipulação em busca da alegria dermatológica! Rios de dinheiro com os gringos "L`Occitane" e "Le Roche Posay ".Tantas décadas comprando "Boticário" e "Natura" com a ilusão da satisfação da pele. Tantos meses de gestação à base do caríssimo "Payot" para uma barriga sem estrias e hidratada.
Tudo isso prá quê??? Prá nada, o "Paixão" estava ali o tempo todo. Mas eu, boba, não enxergava.
Por isso, depois de adulta eu finalmente me despi dos preconceitos, venci barreiras da elegância e me entreguei à "Paixão".E foi tão bacana e tão delicioso que, mesmo sem ganhar nem um centavo com isso, eu precisava vir aqui para contar.
A moral da história? Procuramos soluções em lugares distantes, pagamos um preço alto pela satisfação, sem perceber que a paixão pode estar em qualquer mercadinho de esquina para nos acolher. Meu próximo passo é abandonar os cremes caríssimos para o rosto e acatar uma dica de uma esteticista amiga minha: rasgue uma cápsula de vitamina E na mão, espalhe no rosto e, depois de seco, passe por cima um creme Rugol (11 reais!!!!). Só. Barato, né? Vou testar e contar se é mesmo bom. Vai ser libertador não gastar mais 150 reais com o meu creme importado.
E por falar em paixão...
Quando eu era moça comecei a namorar sério e meu pai, todo orgulhoso, falou do meu namoro com um amigo dele que, naquele dia, jantava lá em casa. O homem parou de comer, olhou fundo nos meus olhos adolescentes e falou:
-Claudia, vou te fazer uma única pergunta: Você é apaixonada pelo cheiro do seu namorado?
Fiquei sem graça e respondi que não sabia (mentira, eu não era nem um pouco apaixonada pelo cheiro dele e sabia disso muito bem). Ele, muito compenetrado, falou algo que eu guardei para a vida. Algo bem inapropriado para um jantar na mesa com os meus pais, mas a lição foi mais ou menos assim:
-Nunca, nunca cometa a besteira de casar com um homem por quem você não é perdidamente apaixonada pelo cheiro da pele dele. Escuta bem o que eu digo, não faça essa bobagem de subestimar o cheiro do parceiro.
Bom, resumindo: o cara me fez terminar o namoro e, desde então, comecei a achar que ele tinha mesmo razão.
Passei a levar a sério essa coisa de cheiro. Parei de usar desodorante perfumado, aposentei minha coleção de perfumes e sou super exigente com a essência dos hidratantes. Inúmeras vezes interrompi um pote de hidratante porque o cheiro dele me perturbava. Tudo isso para não ofuscar o meu cheiro natural, hahahah.
Na verdade eu nem sei se o meu cheiro é bom (a gente não sente o próprio cheiro, né?), mas fiquei com medo da história. Vai que o meu namorado se apaixona apenas pelo meu perfume sem nem conhecer direito o cheiro da minha pele? Vai que eu o iludo com perfumes franceses e meu casamento dá errado por causa de uma propaganda olfativa enganosa?
Por isso não uso perfume e tenho cheiro de... Claudia.
Prefiro assim. E a "Paixão" não afetou em nada a minha promessa de não me perfumar.
Happy End